O início da desocupação da Reserva Indígena de Marãiwatsédé, em Mato Grosso, foi marcado pelo confronto entre produtores rurais e policiais federais, ontem. De acordo com o secretário nacional de Articulação Social, Paulo Maldos, o tumulto aconteceu na primeira das grandes propriedades que devem ser desocupadas. Os moradores jogaram pedras contra o comboio policial, que revidou com tiros de borracha e bombas de gás lacrimogêneo. Um agente da Força Nacional de Segurança, que ajuda na operação, ficou ferido.
Hoje, aproximadamente mil índios ocupam 20 mil dos 165 mil hectares de terra que foram reconhecidos como área dos xavantes. O restante está ocupado por 455 fazendeiros e posseiros. “Cerca de 200 já nos procuraram para sair, mas recebem ameaças dos grandes fazendeiros”, informou Maldos.
Os xavantes ocupam o território desde os anos 1960, mas o processo de demarcação da terra começou em 1992, ano em que fazendeiros, políticos e comerciantes começaram a se instalar na área. De acordo com o secretário executivo do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Cleber Buzatto, a terra foi homologada em 1998 por decreto presidencial. “Só que, aí, vieram as ações judiciais e os invasores foram postergando essa desintrusão”, explica.
O prazo para que os produtores deixassem a região acabou na quinta-feira da semana passada. Na sexta-feira, o bispo emérito de São Félix do Araguaia, dom Pedro Casaldáliga, teve de ser escoltado pela Polícia Federal até o aeroporto, após receber ameaças de morte do movimento contrário à demarcação.
O Ministério Público Federal (MPF) determinou que a desocupação comece pelas grandes fazendas e pelas famílias que querem sair voluntariamente. Foram construídos loteamentos para receber as famílias de produtores. “Queremos encaminhar as pessoas para que possam construir sua vida de forma digna, para que tenham título de terra e acesso aos programas do governo. Hoje, elas estão invadindo uma área da União”, esclareceu o secretário.
Apoio internacional aos caiovás
Em pelo menos seis cidades do mundo foram realizadas, ontem, manifestações em favor da etnia guarani-caiová, considerado pela organização não-governamental Survival Internacional, como a tribo mais ameaçada do mundo. O evento celebrou o Dia Internacional dos Direitos Humanos. “Salve os awá” diziam os cartazes, adesivos e camisetas vestidas pelas pessoas que participaram dos atos em São Francisco, nos Estados Unidos, Paris (foto), Madri, Milão, Berlim, Amsterdã, Londres, além de São Paulo. Em alguns países, foram entregues cartas nas embaixadas e consulados brasileiros pedindo medidas urgentes para remover os invasores das terras dos índios, em Mato Grosso do Sul. (Leia mais sobre Direitos Humanos no Blog da Igualdade: www.dzai.com.br/igualdade/blog/blogdaigualdade)
Fonte: Correio Braziliense