De movimento de protesto e aglomerado heterogêneo a uma das forças políticas na atual sociedade alemã: uma história de sucesso verde. E a fase decisiva, das reais mudanças, está apenas se anunciando.
O grupo que se reuniu em 12 e 13 de janeiro de 1980, em Karlsruhe, era bastante colorido e diverso: tinha veteranos do movimento estudantil de 1968, ambientalistas, combatentes da paz, conservadores, ativistas dos direitos dos animais, feministas e comunistas.
Muitos dos homens usavam barbas longas e macacões em todas as cores possíveis, as mulheres trajavam suéteres de malha, a maioria tricotada por elas mesmas. E como resultado nasceu uma nova sigla, que mudaria o país: nesse evento foi fundado o Partido Verde da Alemanha.
Tratava-se de algo novo para os partidos consagrados do país. Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, a União Democrata Cristã (CDU), a União Social Cristã (CSU), o Partido Social-Democrata (SPD) e o Partido Liberal Democrático (FDP) determinavam quase exclusivamente a política da então Alemanha Ocidental.
Mas logo em 1983 os verdes conseguiram ocupar assentos no Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão), sendo inicialmente recebidos como esquisitões e crianças malcriadas. Uma geração ainda dominada pelos protestos estudantis do fim da década de 1960 logo assumiu funções decisivas no Partido Verde.
O advogado de esquerda Otto Schily foi a figura política que cunhou a primeira bancada parlamentar verde. Joschka Fischer, que atuava em violentos círculos militantes de esquerda em Frankfurt, tornou-se em 1985 o primeiro político verde a assumir a pasta do Meio Ambiente do estado de Hessen.
Tudo isso foi há bastante tempo, mas os verdes de hoje se recordam dos fundadores da sigla. “Tenho grande respeito por essa geração. Ela mudou o país de maneira inacreditável – e a si mesma também. Eles estão envelhecendo com dignidade. É por isso que vemos sucessos nas urnas para os verdes entre o eleitorado acima dos 60 anos”, disse Michael Kellner, diretor nacional do Partido Verde, em entrevista à DW.
A luta contra a energia nuclear, a defesa do desarmamento no Oriente e no Ocidente, a defesa dos direitos civis: essas foram algumas das questões centrais dos primeiros anos do partido. Em 1998, quase 20 anos após sua fundação, os verdes chegaram ao governo: Fischer se tornou ministro do Exterior e o Partido Verde governou a Alemanha em coalizão com os social-democratas por sete anos.
Nesse período, o Partido Verde vivenciou uma das maiores cesuras de sua história: Fischer aprovou a mobilização de soldados alemães contra posições sérvias na guerra do Kosovo – a primeira participação bélica alemã depois da Segunda Guerra. A legenda até então estritamente pacifista só o seguiu sob protesto. Durante uma convenção partidária, Fischer foi atacado com um saco de tinta.
Surge a Aliança 90/Os Verdes
Na época, Michael Kellner era novato no partido e contrário a Fischer. Após a vitória do então ministro do Exterior na convenção de 1999 em Bielefeld, ele considerou por um longo tempo se deveria deixar a sigla. Mas permaneceu. Segundo ele, o que os verdes representavam essencialmente era mais importante.
“Porque trouxemos uma ideia independente para a política. A ideia de que é importante para os cidadãos quando as questões de proteção ambiental e da natureza, proteção climática, são trazidas para o cerne da política. E isso social-democratas, conservadores e os partidos liberais não abordavam”, explica Kellner.
Antes disso, ainda em tempos de oposição, houve outro ponto crucial na história do partido: na Alemanha Oriental, movimentos cívicos de resistência ao regime comunista desenvolveram fortes afinidades com os verdes do lado ocidental. Vários desses movimentos de direitos civis, incluindo o Novo Fórum, uniram-se para formar a Aliança 90.
Mas foi só alguns anos após a queda do Muro de Berlim, em maio de 1993, que os dois grupos se fundiram num partido, o qual desde então tem como título oficial Aliança 90/Os Verdes. Até o momento, no entanto, os verdes realmente não fincaram o pé no Leste Alemão – seus resultados eleitorais são bem mais baixos do que no Oeste, especialmente nas metrópoles da antiga Alemanha Ocidental.
Além do envio de soldados alemães à guerra do Kosovo, o Partido Verde impulsionou outra decisão importante durante sua participação no governo federal: o desligamento gradual da energia nuclear. Após uma batalha longa, a política e a indústria acordaram em 2002 sobre uma saída da energia atômica até 2020.
Esse foi um acontecimento marcante para a atual líder do Partido Verde, Annalena Baerbock, que na época do acordo tinha 22 anos. “Para mim, o acordo de saída da energia nuclear pelo governo de coalizão social-democrata-verde deixou claro que a política pode mudar, mesmo que a resistência seja muito alta. Vi que os verdes no governo implementaram aquilo por que lutavam há anos.”
Um governo seguinte revogou inicialmente a saída da Alemanha do uso de energia nuclear, mas o desastre do reator de Fukushima de 2011 selou por definitivo o desligamento das usinas nucleares. Os verdes então dispararam nas pesquisas de intenção de voto e venceram espetacularmente as eleições parlamentares estaduais em Baden-Württemberg. Winfried Kretschmann se tornou o primeiro governador verde na Alemanha, cargo que ocupa até hoje, tendo sido reeleito em 2016.
Começa a fase decisiva da história verde
Desde que a proteção ambiental está no topo da agenda política, os verdes têm ultrapassado constantemente a marca dos 20% nas pesquisas eleitorais, e o partido também está no governo em 11 dos 16 estados alemães. Nas eleições gerais europeias de 2019, ele alcançou 20,5%, um resultado recorde na Alemanha.
Os verdes estão em alta nos últimos cinco anos, apesar de críticos os classificarem repetidamente de “partido de proibição”. Muitos jovens aderiram, o número de membros aumentou de cerca de 60 mil para quase 100 mil. Um deles é Georg Kurz, porta-voz da organização denominada Juventude Verde.
“O último ano nos mostrou como os tempos mudaram, como cada vez mais as pessoas entendem que as coisas não podem continuar como estão, e que precisamos mudar fundamentalmente. Na verdade, a fase decisiva da história verde está apenas começando”, afirma Kurz.
Ou seja: a fase de combater de fato as mudanças climáticas. Muitos observadores estimam que os verdes possuem uma boa chance de voltar ao governo federal alemão após as próximas eleições legislativas, em 2021. Perspectivas com que ninguém realmente podia sequer sonhar 40 anos atrás, em janeiro de 1980.
Fonte: DW