O estímulo à economia verde, com a consequente geração de empregos ambientalmente sustentáveis, precisa ocupar papel central em políticas públicas no Brasil e no mundo, como forma de garantir o futuro do planeta a longo prazo.
Esse é um dos desafios em discussão na 102ª Conferência Internacional do Trabalho (OIT), que se realiza até 20 de junho em Genebra, na Suíça. Trabalho decente e Desenvolvimento Sustentável são duas faces da mesma moeda e se traduzem em economia inclusiva, acessível a todos, com baixa emissão de carbono e baixo consumo de energia e de recursos naturais.
Os países buscam estruturar saídas verdes para a crise, de maneira a garantir um futuro sustentável. No repertório dessa orquestra, figuram peças como mudanças das políticas energéticas, reformulação de indústrias agrícolas e o correto manejo de resíduos sólidos, com coleta seletiva e Reciclagem.
Nesse contexto, o Brasil aparece como uma esperança, por nossa condição única no mundo. Temos a maior Biodiversidade do planeta, uma natureza exuberante e generosa — sem dúvida, nossa maior riqueza. Nosso desafio é conseguir transformar essa riqueza em vantagem competitiva e em benefícios para a população e as relações de trabalho. Trabalho, produção e consumo precisam estar em harmonia com a natureza. Não há sustentabilidade em um modelo de produção predatório, seja em termos ambientais, sociais ou econômicos.
A exploração sustentável da Biodiversidade é uma das respostas para superar esse modelo — com evidentes vantagens competitivas para o Brasil. E nosso país ainda se beneficia de uma riquíssima insolação, de ventos e da energia das marés — fontes renováveis que podem ser aproveitadas na estruturação de cadeias industriais em sintonia com o Desenvolvimento Sustentável.
Temos, ainda, a maior floresta tropical do mundo, a Amazônia, que pode nos tornar grandes exportadores de produtos florestais certificados, mantendo e até recuperando sua área de cobertura. Contamos, também, com condições climáticas e hidrológicas capazes de garantir uma competente agricultura orgânica, sem o uso de insumos químicos ou Agrotóxicos. Os venenos agrícolas são responsáveis pela intoxicação de mais de 5 mil trabalhadores a cada ano no Brasil.
A gestão de resíduos é outro campo para o Desenvolvimento Sustentável. Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em parceria com o Ministério do Meio Ambiente, mostra que o Brasil enterra nos lixões, todos os anos, materiais recicláveis que, se voltassem ao mercado, valeriam cerca de R$ 8 bilhões. Reintroduzir esses materiais no sistema produtivo é algo perfeitamente possível, a partir do trabalho dos catadores de materiais recicláveis em galpões de triagem.
A Justiça do Trabalho vem se ocupando dos assuntos relacionados à sustentabilidade ambiental, porque entende que essa dimensão deve ser definitivamente incorporada ao mundo do trabalho. O Processo Judicial Eletrônico da Justiça do Trabalho (PJe-JT), que vem sendo implantado em todo o país, aponta nessa direção. Por meio do PJe-JT, os velhos processos judiciais em papel deixam de existir, sendo substituídos por processos eletrônicos, totalmente virtuais.
Quando o PJe-JT estiver implantado em 100% da Justiça Trabalhista, deixaremos de consumir cerca de 5,6 mil toneladas de papel a cada ano — o que significa deixar de cortar, todos os anos, cerca de 112 mil árvores, ou uma área de floresta equivalente a 100 campos de futebol.
As Florestas podem gerar empregos verdes por meio do manejo sustentável — aquele que permite a conservação da floresta ao mesmo tempo em que fornece fibras, energia, óleos, resinas, proteção contra insolação, habitat para animais silvestres e tantos outros serviços ambientais.
A água que deixamos de usar na fabricação de papel pode servir para irrigar cultivos orgânicos, garantir a permanência de agricultores no campo e, ainda, ajudar a manter mais saudáveis e equilibrados córregos e rios para a pesca artesanal sustentável — outro exemplo de emprego verde. Temos, ainda, no Tribunal Superior do Trabalho, um programa de gestão ambiental que orienta nosso manejo de resíduos, nossas compras e nossas contratações.
Essas são algumas das experiências que pretendemos compartilhar na Conferência da OIT, com a certeza de que estaremos colaborando não só para os objetivos do mundo do trabalho, mas também para as necessidades do Brasil.
Fonte : Correio Braziliense