NAÇÕES UNIDAS – Na véspera da abertura dos Jogos de Inverno de Sochi, o secretário-geral da ONU, o sul-coreano Ban Ki-moon, convidou o mundo a agir contra os ataques a gays em uma intervenção nesta quinta-feira na sessão do Comitê Olímpico Internacional (COI). A declaração foi feita em meio à polêmica provocada por uma lei russa que pune com multas e prisão a propaganda da homossexualidade a crianças e adolescentes.
– Muitos atletas profissionais gays e heterossexuais são contrários ao preconceito. Devemos elevar nossa voz contra os ataques a lésbicas, gays, bissexuais, transexuais ou intersexuais. A ONU defende fortemente esta campanha e estou ansioso para trabalhar com o COI, governos e outros parceiros em todo o mundo para construir sociedades de igualdade e tolerância.
O ódio de qualquer tipo não deve ter lugar no século XXI – disse sem citar diretamente o presidente russo, Vladimir Putin, mas em plena polêmica devido a uma lei russa que pune com multas e prisão a “propaganda da homossexualidade” a jovens.
A legislação, promulgada em junho do ano passado pelo presidente russo, provocou críticas, principalmente no Ocidente. – Devemos nos opor às detenções, prisões e restrições discriminatórias enfrentadas pelos gays – acrescentou o secretário-geral da ONU.
Na quarta-feira, a ONG de defesa LGBT All Out organizou manifestações em 19 cidades do mundo, de Nova York a Melbourne, passando por Paris e São Petersburgo na Rússia, mas não em Sochi, dirigindo-se aos patrocinadores dos Jogos para que saiam de seu silêncio sobre as leis antigays russas. Os protestos, no entanto, têm ameaçado os esforços de Putin para usar os jogos para mostrar o quanto a Rússia mudou desde a era soviética. Ele apostou seu prestígio pessoal e político no evento. Após o discurso, Ban citou a polêmica na Rússia.
– Eu sei que tem havido alguma controvérsia sobre esta questão. Ao mesmo tempo, aprecio o presidente Putin por sua garantia de que não haverá nenhum tipo de discriminação – disse a jornalistas. – Sochi pode ser um local onde todas as pessoas, independentemente da sua orientação sexual, sejam capazes de desfrutar de harmonia, amizade e respeito mútuo.
Putin, por sua vez, prometeu que os Jogos de Inverno organizados pela primeira vez pela Rússia serão acolhedores para todo mundo. Abordando o tema em um discurso na terça-feira em Sochi, o presidente do COI, Thomas Bach, declarou que todo o mundo deve lutar contra as discriminações que têm como base a orientação sexual ou qualquer outro preconceito.
– O esporte não deve ser uma tribuna para dissidências políticas ou para tentar marcar pontos por motivos de contestação política interna ou externa – destacou Bach.
Carta aberta afirma que lei representa perigo para escritores – Mais de 200 escritores, entre eles Salman Rushdie, Margaret Atwood e Jonathan Franzen, assinaram uma carta aberta publicada nesta quinta-feira pelo jornal britânico “The Guardian” para denunciar as leis russas. Os autores acusam o país de “asfixiar a criatividade” e afirmam que a lei contra a propaganda de relações sexuais não tradicionais, a recente proibição da blasfêmia, as penas maiores contra a difamação “colocam particularmente em perigo os escritores”.
“Uma democracia sadia deve ouvir as vozes independentes de todos os cidadãos. A comunidade internacional precisa ouvir e ser enriquecida pela diversidade das opiniões russas. Pedimos às autoridades russas que revoguem estas leis que amordaçam a liberdade de expressão”, completa a carta, assinada por escritores de 30 países, incluindo quatro vencedores do Nobel de Literatura (Gunter Grass, Wole Soyinka, Elfriede Jelinek e Orhan Pamuk).
No texto, os autores prometem que não ficarão calados quando observam “amigos escritores e jornalistas forçados aos silêncio ou expostos a processos e, às vezes, a penas drásticas pelo simples fato de compartilhar seus pensamentos.”
Fonte : O GLOBO