Se não tivesse sido convidado para acompanhar os resultados eleitorais junto com os verdes franceses, talvez não tivesse me dado conta de que no domingo (6) foi um dia de eleições regionais aqui na França. Numa visita ao subúrbio de Saint-Denis (composto basicamente por imigrantes, é considerado um dos locais mais tensos por aqui depois dos atentados do mês passado), não vi nenhum tipo de manifestação ou fila que pudesse sugerir que era um dia de sufrágio. Os primeiros resultados confirmavam minha sensação: mais de 84% de abstenção na média nacional e apavorantes 89% na região de Paris (no número de inscritos para votarm a abstenção é de mais de 50%). Mesmo depois dos atentados e da forte comoção que tomou conta do país, 9 em cada 10 franceses deixaram que seus governos locais fossem definidos por uma infíma minoria.Resultado: uma grande vitória da extrema-direita de Marine Le-Pen, que disputará 12 das 13 regiões do país no segundo turno.
Nacionalmente, os Verdes ficaram com uma média de pouco mais de 6%. A versão internacional do New York Time fez uma pequena análise da perda de influência dos verdes nos últimos 15 anos, com uma entrevista com Daniel Cohn-Bendit, um dos grandes ícones do movimento ecologista. Crítico dos conflitos internos – que chama de “esquerdismos infantis” – o franco-alemão analisa que os verdes franceses não têm construído a mesma capacidade de articulação com outras forças políticas como fazem os alemães. De todas as maneiras, Cohn-Bendit avalia que os verdes contribuíram para a popularização das questões ambientais. Numa analogia tecnológica – típica desse eterno rebelde – insinua que os verdes apresentaram ao mundo o “software” da questão ambiental e que agora necessitam ajudar a construir o “hardware”. Ou seja, o arcabouço teórico está colocado, agora nos cabe a produzir os caminhos que nos levem a concretizá-lo.
Uma nova proposta de texto de acordo foi apresentado ontem pelos franceses que, segundo a imprensa local, hesita entre a ambição e o consenso. A grande questão, que é o financiamento dos países ricos aos mais vulneráveis, segue complicada. Países como EUA e os da União Europeia vêm “passando o chapéu” para chegar a meta dos US$ 100 bilhões.
O que mais preocupa é a posição chinesa. Há 20 anos, a China vem negociando os acordos para o clima como um país “em desenvolvimento” e exigiram seguir assim, a despeito de ser uma das maiores e mais poluentes economias do planeta. No meu entendimento, o próprio Brasil já poderia ter uma posição mais ousada e aproveitar melhor o espaço dado a ministra Isabella Teixeira de articuladora entre os países ricos e aqueles mais vulneráveis. Ao invés de sermos modestos negociadores, deveríamos estar numa posição de protagonismo entre as economias intermediárias.**
Ontem, a Federação dos Partidos Verdes das Américas lançou a Carta Verde do nosso continente para a COP. Amanhã, reproduzo aqui na íntegra.——————————
FABIANO CARNEVALE é Secretário de Relações Internacionais do Partido Verde, Co-Presidente da Federação dos Partidos Verdes das Américas e foi Delegado oficial da Global Greens na COP-21.