Ex-presidente foi interrogado pelo juiz federal como réu por 2h10 nesta quarta-feira (13). Nesta ação, o MPF acusa Lula de receber um apartamento e um terreno como propina da Odebrecht.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva depôs nesta quarta-feira (13) como réu ao juiz Sérgio Moro, na Justiça Federal de Curitiba, pela segunda vez.
Nesta ação, Lula é acusado pelo MPF de receber propina da empreiteira Odebrecht por meio da compra de um terreno para a nova sede do Instituto Lula e de um apartamento vizinho ao que mora em São Bernardo do Campo (SP).
Na primeira, o ex-presidente foi condenado a nove anos e seis meses de prisão na Lava Jato pelos crimes de corrupção passiva e de lavagem de dinheiro. Lula recorre em liberdade da condenação por ocultar a propriedade de uma cobertura triplex em Guarujá, no litoral paulista, recebida como propina da empreiteira OAS em troca de favores na Petrobras.
Veja e leia abaixo os principais trechos do depoimento de hoje:
Lula diz que Palocci é frio, calculista e simulador
Lula diz nega autorização a Palocci para negociar em seu nome
Assista ao vídeo no link da matéria: G1
Lula – “Posso responder?”
Procuradora – “O senhor credenciou Antonio Palocci para ser a interlocução entre a empresa e o senhor ex-presidente?”
Lula – “Posso responder? Eu não sei qual foi a pergunta que levou o Emílio Odebrecht a dizer isso, mas deixa eu dizer uma coisa: o Palocci não era da direção do PT. O Palocci não era tesoureiro de campanha. Portanto, o Palocci não cuidava de dinheiro. Ora, se alguém se apresentava para algum empresário utilizando o meu nome, é outros 500. É uma outra ação que vocês vão ter que mover contra quem se aproveitou do meu nome. Mas nunca foi dada autorização ao Palocci – a quem quer que seja – para negociar recursos com qualquer empresário nesse país. Se alguém quisesse conversar com finanças fosse procurar o tesoureiro da campanha, o tesoureiro que tem endereço fixo, que prestou conta da campanha, que entregou-a à justiça Eleitoral. Ou, se quiser conversar de doação ao PT, sabe, [fosse] procurar o tesoureiro do PT.”
Lula diz que Palocci inventou a frase de efeito sobre ‘pacto de sangue’
Moro – “Não, eu não fiz denúncia nenhuma.”
Lula – “De qualquer forma, fiquei vendo o Palocci falar. Não tenho raiva do Palocci, eu tenho pena dele. Porque o Palocci é um quadro político excepcional, do qual esse país não tem muitos.”
Lula relata reunião com Dilma e Emilio Odebrecht em 2010
Lula – “Primeiro vou fazer minha resposta dessa coisa. Primeiro, essa agenda é mentirosa, ela não existiu. Se alguém escreveu isso, esqueceu de colocar um pingo de verdade aí. Eu conversei com Emílio Odebrecht no dia 30 de dezembro, era o penúltimo dia. Eu tinha ido à Bahia inaugurar um milhão de contratos do Minha Casa, Minha Vida, e o Emílio Odebrecht me pediu o seguinte: “Presidente, eu estou em Brasília, eu estou passando o comando da empresa para o Marcelo Odebrecht, e queria ver se a presidenta Dilma nos receberia”. Eu falei com a Dilma: “É possível receber?”. Recebeu. Eu acho que não durou 10 minutos essa conversa. Não durou 10 minutos essa conversa. Até porque a Dilma estava em fase de preparação de escolha de ministério, em fase de preparação da posse, que era dia 1º de janeiro, e portanto a Dilma não tinha tempo de fazer agenda, sabe. Só se o Papa pedisse. Se esse Papa pedisse ela possivelmente faria. Mas a Dilma não tinha mais agenda, ela atendeu em um gesto de cortesia.”
(…)
Lula – “E a desfaçatez do companheiro Palocci foi de tal magnitude que ele inventou uma história, que o Emílio foi lá, foi discutir um fundo que tinha sido criado, foi discutir a manutenção desse fundo, a manutenção da relação dele com a Dilma…”
(…)
Lula – “Jamais, jamais. Eu vou dizer para a senhora aqui: jamais o Emílio Odebrecht, que é um empresário que eu tenho um profundo respeito, tratou comigo de qualquer dinheiro para o PT. Jamais. Eu não era tesoureiro do PT, eu não era da direção nacional do PT. O PT tinha tesoureiro, e a campanha tinha tesoureiro. Portanto, não havia porque conversar comigo. Eu nunca admiti nem ao Emílio nem a nenhum empresário deste país que discutisse comigo um centavo. Nunca.”
Lula diz desconhecer doação de R$ 4 milhões da Odebrecht ao Instituto Lula
Advogado do Lula – “Vossa excelência, pela ordem, qual seria esse documento que vossa excelência se refere?”
Moro – “A planilha, a tal da planilha “Italiano”, que encontra-se nos autos. Evento 1008, anexo II. Consta ali doação ao instituto: 2014, quatro milhões. O senhor ex-presidente chegou a tratar dessas doações?”
Lula – Posso falar, doutor Moro?
Moro – “Sim.”
Lula – “Posso falar? Eu não sou diretor do instituto.”
Moro – “Aham.”
Lula – “O instituto tem o meu nome, mas eu não sou diretor. Eu sou presidente de honra. O dia em que o senhor for nomeado presidente de honra de alguma coisa, você vai perceber que não vale nada ser presidente de honra, tá?”
Moro – “O senhor ex-presidente acompanhava as atividades do instituto?”
Lula – “Não, não, o instituto tem uma diretoria, sabe, que discute. E se alguém contribui com o instituto está contabilizado, sabe? É isso.”
Moro – “O senhor ex-presidente, então, não tratou dessas doações?”
Lula – “Não tratei e não trato.”
Lula fala sobre a criação do Instituto Lula
Lula – “Não, eu tinha o Instituto Cidadania. Criado em 1992.”
Procuradora – “Mas em que momento do seu mandato presidencial…”
Lula – “Foi de lá que eu saí. Foi de lá que eu saí candidato a presidente da República. Foi de lá que eu perdi duas eleições. Quando eu deixei a presidência da República, nós fomos discutir se ia criar uma fundação ou se ia criar um instituto. Optou-se pela criação do instituto. Eu optei em voltar ao Instituto Cidadania, para que estando lá a gente pudesse discutir o que fazer. Como construir o tal do Memorial da Democracia, sabe? E ficamos pensando nisso e fomos procurar terreno, fomos procurar os imóveis que eu já falei, sabe? Aí o Paulo Okamoto pediu pra visitar esse terreno, mas a ideia de criar o instituto, sabe, ela aconteceu depois que eu deixei a presidência da República. Porque, se eu quisesse pensar antes, eu teria feito como outros presidentes: ter feito dinheiro enquanto eu estava na Presidência.”
Procuradora – “O senhor disse que conversou sobre o instituto apenas com o senhor… Sobre a questão da compra desse prédio com Paulo Okamoto…”
Procuradora – “Desse prédio. E com relação ao senhor Emílio Odebrecht? O senhor conversou a respeito?
Lula – “Nunca.”
Procuradora – Do prédio?
Lula – “Nunca.”
Procuradora – “Da ideia do Instituto?”
Lula – “Nunca. Nunca. Eu vou repetir em alto e bom som: eu não discutia instituto enquanto eu fui presidente da República nem com a minha mulher, nem com os meus filhos, nem com os meus ministros. Eu não queria discutir o meu futuro enquanto eu estivesse preocupado com o povo brasileiro, dirigindo esse país.”
Lula é questionado sobre negociação de terreno para construção do Instituto Lula
Lula – “Doutora, deixa eu lhe falar uma coisa, doutora…”
Procuradora – “O senhor desconhecia a participação de Roberto Teixeira com relação a esse imóvel?”
Lula – “Doutora… Eu acabei de dizer, doutora.”
Procuradora – “Como o senhor explica que esses e-mails tenham sido arrecadados na sua residência?”
Lula – “Olha, eu não uso e-mail, porque não uso computador por segurança, tá? Tinha um presidente da República que dizia assim: “se você quiser fazer as coisas e não quiser ser bisbilhotado por ninguém, não fale por telefone e não converse em restaurante. Caminhe com a pessoa e vá falando na estrada”. Então veja: eu não tenho e-mail, a Marisa não tem e-mail. Ora, se o e-mail estava lá em casa, pode ter sido alguém que levou para dizer o seguinte: olha…”
Procuradora – “É uma cópia do documento. Estava na pasta esse documento.”
Lula – “Eu não sei quem levou. Eu não sei quem levou.”
Advogado de Lula – “A senhora tem que esperar a resposta. A senhora interrompe a resposta. Se a senhora está fazendo a pergunta, tem que aguardar a resposta. Ele está desenvolvendo o raciocínio, então a senhora pode aguardar o tempo da resposta.”
Moro – “Certo, vamos à…”
Lula – “Eu não quero ser indelicado com a senhora…”
Moro – “Vou interromper um minutinho aqui. Responda.”
Lula – “Eu não quero parecer indelicado com a senhora. Eu tenho muita suspeita de cópia. Tenho muita suspeita de cópia. Se a senhora tivesse me dito que estava no meu computador, eu dava algum valor. Mas uma cópia de um documento na minha casa? Quem achou isso? A Polícia Federal?”
Procuradora – “É que eles estavam cuidadosamente guardados.”
Lula – “A Polícia Federal? Como é que a senhora sabe que estava cuidadosamente guardado?”
Procuradora – “Estava em uma pasta. Houve a descrição no laudo.”
Lula – “Então deixa eu lhe falar uma coisa, querida: eu, hoje, passado todos esses meses, tenho muita suspeita do comportamento da Polícia Federal nessas ocupações. Muita. Quero deixar claro que eu tenho muita suspeita da Polícia Federal nessas ocupações. Só para a senhora saber. Por isso, não posso dar crédito à cópia de um e-mail.”
Lula diz que sua 1ª condenação foi parcial
Moro – “Tudo bem. Primeiro que não cabe ao senhor fazer essa pergunta a mim. Mas, de todo modo, sim.”
Lula – “Porque não foi o procedimento na outra ação [no qual foi condenado no caso do triplex]. Sabe? Não foi.”
Moro – “Eu não vou discutir a outra ação com o senhor, senhor ex-presidente. Se nós fôssemos discutir a outra ação aqui, a minha convicção é que o senhor foi culpado. Não vou discutir aquele processo aqui, o senhor está discutindo ele lá no tribunal [TRF-4, que julga os processos da Lava Jato em segunda instância].”
Lula diz que apartamento vizinho está à sua disposição
Moro – “Perfeito. O senhor ex-presidente faz reuniões ali?”
Lula – “Se me permitirem que eu seja candidato em 2018, ele voltará a ter uma função política muito forte.”
Lula diz que deve ter comprovante do aluguel do apartamento vizinho
Moro – “Mas alguém falou isso a ele?”
Moro – “O senhor ex-presidente tem os comprovantes de pagamento desse aluguel entre esse período de 2011 e o final de 2015?”
Lula – “Ah, deve ter, deve ter querido. Deve ter.”
Moro – “O senhor ex-presidente apresentou isso aos advogados?”
Lula – “Eu, se for mexer na arca, sabe, do baú que está lá em casa, eu posso achar esses documentos. Mas isso deve estar no meu Imposto de Renda. Deve estar no meu Imposto de Renda.”
Moro – “O senhor ex-presidente sabe, por exemplo, se foram feitos depósitos bancários entre 2011 e 2015, esses aluguéis?”
Lula – “Eu acho que foram feitos esses depósitos. Não sei como, mas foi feito. Foi pagamento.”
Moro – “A princípio, os seus advogados não apresentaram esses depósitos até o momento. O senhor ex-presidente tem conhecimento?”
Lula – “Porque certamente eles não sabiam que não estavam sendo pagos, depois que o Glauco falou. Porque o dado concreto é que, na minha cabeça, até hoje, o aluguel estava sendo pago normalmente. Porque, até hoje, nunca houve uma reclamação de que não estava sendo pago. E porque a Dona Marisa ia alugar um apartamento, para a gente ficar, como estava desde 98, e não ia pagar? Qual é a lógica?”
Moro – “O senhor ex-presidente tem recibo do pagamento desses aluguéis?”
Lula – “Tem recibo, deve ter, posso procurar o contador e saber se tem.”
Moro – “Salve engano do juízo, os documentos não foram apresentados ainda. O senhor sabe o motivo?”
Lula – “Eu não sei. Nem sei se já foi pedido para os advogados apresentarem.”
Moro – “Essa acusação contra o senhor foi formulada no ano passado e também recebida no final do ano passado. Desde então não foi possível levantar isso aí?”
Advogado de Lula – “Vossa excelência, pela ordem, a pergunta já foi respondida. O senhor ex-presidente já respondeu a vossa excelência que não era ele que cuidava dessa questão. Então já foi respondida. Vossa excelência insiste, aparentemente, para tentar obter uma mudança do fato real que já foi explicado aqui pelo depoente.”
Moro – “Eu compreendo que o senhor é um homem bastante ocupado e, nos seus afazeres, provavelmente não cuida dessas questões do cotidiano. Mas, por exemplo, depois de formulada essa acusação no final do ano passado, não foi possível levantar isso com as pessoas ao seu redor? Como isso foi pago, se não foi pago?”
Lula – “Eu estou dizendo para o senhor que para mim estava pago. Para mim não foi levantado no ano passado, para mim foi levantado no depoimento que o Glauco fez aqui. Porque até então havia normalidade para mim. Até então o apartamento estava sendo pago mensalmente, declarado no meu Imposto de Renda, declarado no Imposto de Renda dele. Até aí não tinha nenhuma notícia de que não estava pago.”
Fonte: G1