Veja o que é #FATO ou #FAKE sobre desastre em Brumadinho
Em meio ao drama do resgate das vítimas após o rompimento de uma barragem de rejeitos de minério da Vale em Brumadinho, na região metropolitana de Belo Horizonte, na última sexta-feira, uma série de conteúdos falsos e de vídeos e imagens fora de contexto começaram a circular nas redes sociais e aplicativos de mensagens. Até o início da tarde desta terça-feira, o número de mortos era de 65 , enquanto 279 pessoas estavam desaparecidas. O Fato ou Fake está verificando o que é verdade e o que é boato sobre o desastre em Minas Gerais.
Risco em Cubatão
Uma mensagem que circula nas redes sociais alerta para possibilidade de rompimento de uma cava subaquática da Vale, cheia de rejeitos químicos, em Cubatão (SP). A cava não é de responsabilidade da Vale. De acordo com a prefeitura da cidade paulista, as três cavas em construção no Canal de Piaçaguera, entre o município e a cidade de Santos, são para o aprofundamento do leito do canal. O curso d’água liga o porto de Santos ao polo industrial de Piaçaguera, e a medida facilitaria o acesso de navios de grande porte. As cavas estão sendo preenchidas com material dragado do próprio leito do rio.
Ainda segundo o governo de Cubatão, nas décadas de 1970 e 80, as indústrias siderúrgica, petroquímica e de fertilizantes do polo industrial da cidade não tinham diretrizes quanto ao tratamento dos resíduos, e diversos tipos de produtos foram parar no leito dos rios da região.
“A maior parte deles foi levada pelas águas para alto mar, porém uma parte ficou sedimentada no fundo dos cursos d’água. Note-se que a Vale não é uma das empresas relacionadas à produção desses resíduos, como algumas postagens em redes sociais tentaram associar”, diz a nota.
Sobre a parte do “mesmo destino” de Brumadinho apontado na mensagem, a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) afirmam que a cava não oferece riscos à natureza ou à comunidade. O Ministério Público Federal, no entanto, que tentou impedir a cava de ser realizada, quer um novo estudo.
Atentado terrorista
Atribuída ao “Observatório Direita Brasileira”, uma mensagem diz que uma fonte ligada a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) confirmou que a Polícia Rodoviária Federal (PRF) deteve, na sexta-feira, na cidade mineira de Itagará um homem venezuelano, “ex-guerrilheiro das FARC”, e um cubano, “conhecido instrutor da Polícia Secreta do Governo Castro”. O texto diz ainda que as autoridades brasileiras apuraram que existiriam “células terroristas” infiltradas em território nacional e que os dois presos seriam os responsáveis pelo rompimento da barragem de Brumadinho. A mensagem, no entanto, é #FAKE .
A PRF emitiu nota no sábado afirmando que se trata de um boato.
“Informamos que a Polícia Rodoviária Federal não registrou ocorrências envolvendo estrangeiros no estado de Minas Gerais ou quaisquer outras prisões que tenham relação com a tragédia em Brumadinho”, diz a nota.
Já a ABIN disse esclareceu que a informação é “totalmente inverídica”.
“A Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) esclarece ser totalmente inverídica a informação, difundida por redes sociais e aplicativos de mensagens, sobre a ocorrência de ataque terrorista contra a barragem de Brumadinho/MG. A ABIN não recebeu qualquer relato sobre prisões de venezuelano e cubano na região”, informa a agência em nota.
Abraço de bombeiro
A foto de um homem sujo de lama abraçando um bombeiro mineiro também foi muito compartilhada nas redes nos últimos dias, como sendo tirada após o desastre em Brumadinho. O próprio presidente da República, Jair Bolsonaro, foi um dos que compartilhou a imagem em seu perfil no Instagram. A foto, entretanto, foi feita em 2011. O texto que faz referência ao rompimento da barragem da Vale é #FAKE .
Há quase 8 anos, um agricultor da cidade de Patos de Minas caiu em uma cisterna de 17 metros de altura e foi socorrido por um militar do Corpo de Bombeiros da cidade. O abraço entre a vítima e o bombeiro após o resgate foi registrado por um fotógrafo da corporação.
Coincidentemente, dois dias antes do rompimento da barragem em Brumadinho, o perfil do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais no Twitter compartilhou um recorte da imagem na rede social .
Animais na lama
O vídeo de uma enchente também tem sido compartilhado como se tivesse sido gravado após o rompimento da barragem da Vale e mostra bois sendo arrastados pela correnteza. Contudo, a informação é #FAKE . A cena foi registrada em dezembro de 2018 na cidade de Lavrinhas, em São Paulo , depois de o nível do Rio Jacú subir por conta de fortes chuvas na região. Pelo menos cinco animais foram resgatados .
Flagrante do desastre
Outro vídeo também atribuído ao desastre, na verdade, foi gravado no rompimento de uma barragem no Laos . No áudio, é possível perceber que o idioma falado não é português. Centenas de milhares de metros cúbicos de lama inundaram oito vilarejos na província de Xaysomboun, no centro do país asiático, depois de um reservatório da barragem Nam Ao explodir na província Xieng Khoauang, em setembro de 2017.
Flagrante do desastre (2)
Um terceiro vídeo atribuído ao desastre em Brumadinho também está sendo compartilhado fora de contexto. As imagens mostram o desmoronamento de parte das obras de uma usina hidrelétrica no município de Sinop, no Mato Grosso , em outubro de 2015. O vídeo foi feito por um funcionário da usina, e ninguém ficou ferido.
Doações não são necessárias
O porta-voz da Polícia Militar de Minas informou, no último domingo, que doações de mantimentos não são necessárias por enquanto e que possíveis envios podem causar prejuízo com a perda de alimentos.
O major Flávio Santiago disse também que não há necessidade de voluntários para o resgate das vítimas.
— Não há, no momento, necessidade desse apoio. Vamos deixar esse trabalho para os profissionais, que são treinados para esse tipo de operação que apresenta vários riscos.
O porta-voz fez um alerta ainda sobre notícias falsas nas redes sociais sobre doação para as vítimas do rompimento da barragem 1 da Mina do Feijão.
Segundo o major Flávio Santiago, circulam no WhatsApp muitas mensagens pedindo doações em dinheiro e informando os dados bancários para depósito.
— Se a pessoa não conhecer a fonte que está solicitando qualquer tipo de valor, não faça nenhum tipo de doação — alerta no porta-voz.
Fonte: O Globo