Órgão diz que fogo já foi controlado na maior parte da reserva, mas cerca de 400 pessoas seguem trabalhando. Danos à próxima geração de animais silvestres também preocupam autoridades.
Por Vitor Santana, G1 GO, Alto Paraíso de Goiás
A vegetação do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros pode demorar mais de um ano para se recuperar do incêndio que já destruiu mais de 65 mil hectares, de acordo com estimativas do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Além disso, apesar de não terem sido encontrados animais silvestres mortos, os danos às próximas gerações dos bichos preocupam as autoridades ambientais.
“Algumas espécies têm o período de ninhada em setembro. Com esse incêndio, muitos desses ninhos podem ter sido atingidos e, com isso, a próxima geração desses animais fica comprometida. Porém, os indivíduos adultos, conseguem fugir. Sabemos que no ano que vem pode não haver uma renovação das espécies, mas, depois disso, surgirão outras ninhadas e, com isso, outros animais”, explicou o chefe do parque, Fernando Tatagiba.
Segundo o ICMBio, o fogo já foi controlado na maior parte da reserva. No entanto, cerca de 400 pessoas, entre voluntários e brigadistas, seguem trabalhando 24 horas por dia para evitar que novos focos surjam.
“A parte mais rasteira da vegetação, as áreas de campo limpo, campo sujo, já começam a se regenerar seis meses após as primeiras chuvas. Cerca de 80% dessa parte já volta ao normal nesse período. Dentre de um ano e meio, o restante se regenera”, explicou ao G1 coordenador de prevenção e combate do ICMBio, Christian Berlinck.
O primeiro incêndio na Chapada dos Veadeiros começou há 17 dias, em 10 de outubro, e foi controlado seis dias depois. Mas, no dia seguinte,novos focos surgiram, e há mais de 10 dias brigadistas e voluntários tentam combater as chamas. A Polícia Civil suspeita que o incêndio seja criminoso.
Segundo o coordenador, esse tipo de vegetação está preparada para aguentar os incêndios. “Elas armazenam energia nas raízes e também tem caules mais grossos e retorcidos, deixando-as mais resistentes”, completou.
Já em outros tipos de vegetação, como as veredas, matas de galeria, a casca é mais fina, então elas são mais afetadas pelas queimadas. “Nesse caso, é difícil estimar em quanto tempo elas vão se recuperar, porque dependem de novas sementes”, explicou o coordenador.
Fauna
Em relação à fauna, os brigadistas ressaltam que ainda não há registro de mortes de animais queimados. “Os maiores, ao sentirem cheiro de fumaça, fogem, correm. Já alguns répteis e pequenos roedores se escondem debaixo da terra, onde a temperatura vai variar pouco”, disse Berlinck.
Entretanto, isso não significa que eles estejam imunes. Com as queimadas, os bichos ficam sem casa e com alimento escasso. Com isso, podem se aproximar de rodovias e serem atropelados ou irem para fazendas da região e serem caçados por proprietários rurais.
De acordo com Berlinck, no parque, espécies ameaçadas de extinção, como as onças parda e pintada, além do lobo-guará, são as que mais correm risco e preocupam os brigadistas e funcionários do parque.
Mas o incêndio não afeta apenas a fauna e flora do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. “O problema é muito maior, porque isso interfere na qualidade da água, impacta no sistema de saúde devido à grande presença de fumaça no ar durante todo esse tempo. Então, toda sociedade tem que se envolver de alguma forma, até porque o fogo vem da sociedade”, disse o coordenador, se referindo a suspeita de que a queimada possa ter sido criminosa.
Combate ao fogo
O combate ao incêndio tem sido feito 24 horas por dia. Durante todo o dia é possível ver brigadistas percorrendo várias áreas para combater o fogo, sejam novos focos ou reiguinição de pontos já apagados anteriormente.
Da base de comando, montada no aeroporto de Alto Paraíso de Goiás, saem aviões e helicópteros a todo momento, lançando água sobre as linhas de incêndio, transportando equipes ou comida e ferramentas.
Segundo o ICMBio, 200 brigadistas do órgão, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e Corpo de Bombeiros atuam junto a outros 200 voluntários que se dividem nas mais diversas áreas, desde logística e organização de doações ao combate às chamas.
As equipes contam que o maior problema é o comportamento do fogo, que muda devido ao forte vento, forte calor e baixa umidade.
“Tem chamas que chegam a três, quatro metros. Hoje, por exemplo, tivemos que apagar uma área de reignição na qual tínhamos apagado dois dias atrás. Com esse tempo seco e a grande quantidade de matéria, acontece isso, disse o brigadista Valdeci da Silva, que trabalha no parque há 10 anos.
As prefeituras de Alto Paraíso e Cavalcante, no noroeste goiano, decretaram na segunda-feira (23) situação de emergência devido o agravamento do incêndio que atinge o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros.
Fonte: G1