A Vale, segunda maior mineradora do mundo, tem duas faces na sua operação no Brasil. Na área mais antiga de lavra, no quadrilátero ferrífero de Minas Gerais, onde ela atua há quase 80 anos, seus métodos são arcaicos e perigosos. Não por acaso, foi nessa área que aconteceram os dois maiores desastres ecológicos do país, em Mariana, há três anos, e em Brumadinho, na semana passada.
No Pará, de onde a empresa já extrai quase metade da sua enorme produção de minério de ferro, de 400 milhões de toneladas, os procedimentos são modernos e oferecem risco muito menor. É no Estado que se localiza a província de Carajás, a maior reserva de minério de ferro de alto teor do planeta. As anacrônicas barragens de deposição de rejeitos, como as de Mariana e Brumadinho, estão praticamente eliminadas.
Depois do desastre ambiental de 2015, a Vale já deveria ter abandonado as barragens com ampliação a montante, e o governo as proibido, como fez o governo do Chile, o maior produtor mundial de cobre.
Segundo os especialistas, essas barragens têm uma segurança relativa em pequenas minas, e enquanto são baixas. No entanto, o material das barragens é semifluido, sujeito a movimentos. Com o alteamento das suas bordas, as barragens, vão virando bombas-relógio.
Além disso, quase todas estão em grandes elevações, sobre grandes aglomerados humanos, como em Minas. A situação mais crítica é a da Companhia Siderúrgica Nacional, em Congonhas, na região central do Estado.
Em Carajás, a situação é completamente diferente nas minas situadas no conjunto de serras, na região centro-sul do Pará, segundo informações de um especialista:
Minério de ferro em Serra Norte (N4 e N5): 70% do peneiramento a seco, com tendência de zerar o peneiramento úmido. Barragem do Gelado, situada em um vale, na baixada, será eliminada no futuro.
Ferro Serra Leste: peneiramento a seco, sem barragem de rejeito.
Ferro Serra Sul (S11D): peneiramento a seco, sem barragem de rejeito.
Manganês do Azul: pequena barragem de rejeito.
Cobre-ouro do Sossego: grande barragem do rejeito da flotação-crescimento a jusante, com material sólido (estéril da mina).
Cobre-ouro do Salobo: grande barragem do rejeito da flotação-crescimento a jusante, com material sólido (estéril da mina).
Cobre-ouro da Antas North (Avanco): pequena barragem do rejeito da flotação.
No Salobo, como em Brumadinho, os escritórios, oficinas e refeitório da Vale ficam abaixo da barragem, que até agora parece segura.
Esse quadro se deve ao fato de que se destina à exportação a quase totalidade da produção de Carajás, que vai chegar a 230 milhões de toneladas, superando a produção de Minas Gerais, que também supre o mercado nacional?
O fato de que 60% dessa exportação se destina à China também influi sobre a existência desse contraste entre o Sistema Sul e o Sistema Norte da Vale?