O acidente na barragem de rejeitos no distrito de Bento Rodrigues, em Mariana, (MG), pode ter impactos nas águas dos rios próximos e até dos que são alimentados por esses leitos. Esse é o maior risco ambiental do acidente, segundo especialistas. Oceanógrafo químico e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), Júlio César Wasserman, diz que o impacto ambiental terá que ser monitorado pelos próximos anos.
— É preciso avaliar exatamente quais os compostos químicos presentes nestes rejeitos que vazaram. O mais comum na atividade de mineração é a presença do que chamamos de lixívia ácida e os chamados metais pesados. O maior risco desses materiais é que eles podem afetar a cadeia trófica. Ou seja, eles contaminam as plantas presentes na água, o peixe se alimenta delas e quando o homem come esse peixe, pode também ser contaminado. Mas esse impacto só seria sentido daqui a cerca de dois anos — diz Wasserman.
Diante da tragédia, o governo colocou as forças federais à disposição do estado para atuarem no local. Na manhã de hoje, o ministro da Integração, Gilberto Occhi, viaja para o município onde vai acompanhar os trabalhos de resgates. A presidente Dilma Rousseff, que cumpria agenda em Alagoas, foi comunicada do rompimento da barragem antes de embarcar para Brasília no início da noite de ontem.
Os batalhões do Exército de Belo Horizonte e São João Del Rey estão de sobreaviso para atuar na busca de sobreviventes. A Defesa Civil Nacional está em contato permanente com o governo do estado e, havendo necessidade, os recursos federais serão utilizados. Já o Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres (Cenad), vinculado ao Ministério da Integração Nacional, também poderá atuar para evitar novos acidentes.
Segundo a Casa Civil, a Força Nacional do Sistema Único de Saúde (FN-SUS) foi acionada para auxiliar no resgate.
O professor Wasserman afirma que a contaminação não acarreta riscos de vida para as pessoas. Segundo ele, apenas o contato com a lama proveniente do vazamento e a ingestão de água da região não devem ter impactos significativos aos moradores, em caso de contaminação por metais pesados:
— Esses materiais não são absorvidos pelo organismo no contato com a pele ou na ingestão de água. Não me parece que seja caso para a população parar de consumir peixe ou água.
O professor de Mecânica dos solos e geotecnia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Márcio Almeida alerta que a contaminação pelo acidente pode chegar a outras cidades da região:
— Se o material derramado chegar aos rios, pode ser levado para outras cidades. O impacto nas águas só vai poder ser medido após uma análise química desses resíduos provenientes do vazamento.
Em entrevista à CBN, o comandante do Corpo de Bombeiros de Mariana, Adão Severino Júnior, afirmou que a lama seria tóxica:
— Onde passa, não nasce nem capim.
Para o professor da UFRJ, Paulo Rosman, especialista em engenharia costeira, o tipo de barragem usado em Bento Rodrigues é o comum para a mineração. Segundo ele, há várias razões possíveis para o vazamento.
— Existem vários fatores que podem ter levado à ruptura da barragem. Pode ter chovido além do volume previsto no projeto da construção, ou por exemplo, pode ter acontecido o que chamamos de piping, que é quando a água vai encontrando um caminho por entre a barragem, que provavelmente é feita de terra, até esse buraco aumentar de diâmetro. O que tem que ser feito é o monitoramento constante pelos órgãos ambientais — alerta.
Fonte : O Globo