Em entrevista, o Secretário de Relações Internaionais do PV, Fabiano Carnevale fala como estão os debates sobre o Acordo de Paris no contexto da Global Greens , uma rede que reúne mais de 80 partidos verdes pelo mundo, e ainda faz uma análise pessoal sobre os temas ambientais atuais do país.
O que o Partido Verde tem feito em âmbito internacional para conscientizar as pessoas sobre a importância do Acordo de Paris?
Fabiano Carnevale – A participação da Global Greens (organização que reúne mais de 80 partidos verdes pelo mundo) na COP-21 foi um grande avanço para o movimento ecologista (e eu entendo o ecologismo como as forças ambientalistas atuando partidariamente). Já não somos a novidade que éramos 30, 35, 40 anos atrás, Mas o que perdemos em novidade, ganhamos em maturidade política para conquistar espaços significativos nos principais debates públicos internacionais. Quando chegamos em Paris com a proposta de menos de 1,5 graus de aquecimento até 2050, não imaginávamos que teríamos um acordo que apontasse esse objetivo. Não somos ingênuos de achar que nós influenciamos essa meta, mas ficamos orgulhosos por constatar que nossas teses de décadas atrás sobre o estado do Planeta, enfim chegaram ao mainstream das preocupações internacionais.
E aqui no Brasil como você analisa esse trabalho de mobilização/conscientização da sociedade civil pelas questões climáticas?
Fabiano Carnevale – Nesse momento de crise política, essa é uma pergunta interessante para podermos refletir sobre o total desinteresse pelas questões ambientais dos grupos políticos que dominam o debate nacional. E aqui não me refiro somente aos protagonistas políticos desses grupos, mas também às militâncias que orbitam em cada lado. Como exemplo, posso citar a construção da usina de Belo Monte. Apesar de representar uma catástrofe ambiental e humanitária, realizada às margens do licenciamento ambiental e com graves violações dos direitos humanos aos povos indígenas e tradicionais, ela só entrou no debate político quando vieram à tona denúncias de superfaturamento das obras. Nem um lado nem outro saiu em defesa do meio ambiente e dos direitos humanos. E as poucas vozes que se ergueram foram acusadas de estarem a serviço de alguma das inúmeras narrativas conspiratórias que buscam simplificar a grave crise do presidencialismo de coalizão.
Nesse momento delicado da conjuntura nacional, eu penso que Partido Verde precisa aprofundar um debate de como nossos 30 anos de discurso universal pela salvação do Planeta e por uma política voltada para o bem comum podem intervir e influenciar na superação da crise. Em tempos nos quais o discurso ambiental vem sendo incorporado e disputado por diversos atores, é preciso reafirmar que somos a principal alternativa de um movimento global de partidos políticos que atuam pensando num futuro comum para essa comunidade chamada Terra e que isso é mais importante que atuar por interesses eleitorais e imediatistas. Mas para isso sair de um discurso bonito e utópico, precisamos fazer nosso dever de casa e eleger pessoas sintonizadas com esses nossos desejos primordiais e que podem realmente nos transformar num partido necessário. Infelizmente, a bancada de deputados federais que temos hoje é a antítese da nossa existência.
O dever que nos apresenta agora como dirigentes, é retomar o protagonismo político do nosso próprio destino. É eleger em 2018, uma bancada parlamentar que seja afinada com os desejos históricos da existência de um Partido Verde no Brasil. E assim reconstruir um diálogo com a sociedade sobre a necessidade de se pensar o país sob um ponto-de-vista ecológico, social e economicamente sustentável.
O que acha da atual postura do governo brasileiro em relação ao Acordo de Paris ratificado em dezembro de 2015?
Fabiano Carnevale – Mais uma vez aqui, a pergunta me leva à reflexões maiores. Como delegado oficial da Global Greens na COP-21 e tendo participado das últimas 3 COP´s, vi o governo Dilma numa atitude desconfortável frente ao desafio da crise climática. O Brasil possuía (e ainda possui, de certa forma) capacidade e peso para se impor como protagonista de um consistente projeto de exemplo internacional na minimização dos impactos provocados pela crise climática. Mas ao invés disso, sempre nos portamos como um time de segunda divisão nas discussões vitais por um acordo ousado entre as partes. Nossa grande contribuição foi mediar um texto que possibilitasse as assinaturas dos países do chamado BRIC´s (Brasil, Rússia, Índia e China). Por mais louvável que isso seja (a não-assinatura seria pior cenário), significou garantir um texto menos avançado para países que estão entre os principais emissores de CO2 do mundo.
E o documento apresentado pelo Brasil no pré-COP é tímido e infeliz. Ao apresentar uma meta de desmatamento ilegal zero para o futuro, garantiu a ilegalidade por mais alguns anos. Ao optar por uma política voltada para um único bioma – e o que mais internacionalmente produz reações positivas, a Amazônia – negligenciou e deixou mais vulneráveis biomas fundamentais para o equilíbrio ambiental do planeta, como o Cerrado e o Pantanal. Mas agora temos um outro governo em exercício, e com menos de 30 dias seria desonesto avaliar. Embora possa dizer que vejo positivamente a indicação (pessoal e não partidária) do Zequinha como Ministro do Meio Ambiente.
Para longe de todos os preconceitos gerados por sua origem familiar, eu me acostumei a responder à amigos e curiosos em geral, que ele sempre foi o melhor parlamentar ambientalista do Congresso. Além de bem articulado com os movimentos ambientalistas, ele é uma referência no que diz respeito aos acordos climáticos globais. E me parece um contrapeso respeitável aos dois ruralistas do governo (por enquanto) interino. Essa aliança entre governo e ruralistas foi base dos governos Lula e Dilma. A aliança dos ruralistas com o governo não se desfez – e Caiado e Osmar Terra representam uma ameaça tão grande quanto Kátia Abreu – mas a presença de Zequinha leva a um equilíbrio maior. O contrapeso ruralista no governo Dilma era o ministério do Desenvolvimento Agrário, que precisa ser retomado, mas considero positivo o atual deslocamento dessa disputa para o Meio Ambiente.
Comente como foi a participação dos verdes na COP 21 e quais resultados concretos vocês trouxeram dos debates entre os partidos verdes que ocorreram lá?
Fabiano Carnevale Dentro da Global Greens, para além da nossa participação como partido nacional, estamos ali representando a Federação dos Partidos Verdes das Américas. Desde 2012, nosso papel têm sido o de reafirmar os verdes das Américas como força protagonista e plural nas arenas internacionais dos partidos verdes. Considerando o ecologismo como instrumento heterogêneo de construção de atuação política, encontramos nas Américas os principais aprendizados de construção plural de um pensamento ideológico universal. Nossa origem multicultural e miscigenada apresenta ao movimento verde global o melhor exemplo de como atuar politicamente em nível global. Como Verdes, não temos a pretensão de apresentar fórmulas exatas para o futuro do Planeta. Pelo contrário, o que nos fará politicamente cada vez mais necessários, é o reconhecimento de que para problemas complexos necessitamos de respostas plurais.
Hoje nos encontros internacionais em que todos os verdes do mundo participam quais são os temas ambientais que trazem mais preocupação para os continentes ?
Fabiano Carnevale – Embora cada continente enfrente seus desafios, podemos identificar pontos em comum. A superação da economia do petróleo e o desafio de enfrentar as consequências da crise climática me parecem as mais urgentes. Por isso, vemos a necessidade de conter a crescente exploração do gás de xisto (conhecido como frackling), de ampliar o consumo consciente, que rompa com a lógica mercadológica da alimentação, esses são temas que se impõem como fundamentais para os verdes de cada canto desse planeta.