Qualquer semelhança não é mera coincidência. Parlamentares formalmente vinculados à bancada ruralista ou que, mesmo sem esse status, podem ser considerados adversários históricos dos direitos indígenas e socioambientais são maioria na lista dos políticos que serão investigados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) suspeitos de envolvimento no escândalo da Petrobrás.
A lista completa foi divulgada na sexta (6/3), quando o ministro do STF Teori Zavascki autorizou a abertura de inquérito contra 48 políticos mencionados nos depoimentos da Operação Lava Jato, que apura os desvios na estatal. No total, serão investigados pelo tribunal 22 deputados federais, 12 senadores, 12 ex-deputados, um vice governador e uma ex-governadora de seis partidos: PMDB, PT, PP, SD, PSDB e PTB. Há ainda outras pessoas que serão investigadas, mas sem mandato ou que não são figuras políticas.
Dos 48 políticos, 15 pertencem oficialmente à Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), nome formal da bancada ruralista no Congresso, ou seja, quase um terço do total (veja listas abaixo). A informação é do site da Câmara e refere-se à legislatura passada (veja aqui). A cada início de período de mandato é preciso registrar novamente as frentes parlamentares e as assinaturas para registrar a FPA na atual legislatura ainda estão sendo recolhidas.
A participação dos ruralistas na lista sobe, no entanto, se forem considerados ex-deputados que pertenceram à FPA, como é o caso de Aline Corrêa (PP-SP), Carlos Magno (PP-RO), Roberto Teixeira (PP-PE) e Vilson Covatti (PP-RS). Com esses nomes, os ruralistas passam a representar cerca de 40% dos políticos investigados.
A participação aumenta ainda mais caso sejam incluídos nomes de políticos citados no escândalo que podem ser considerados aliados dos ruralistas, com posições anti-indígenas e anti-socioambientais, como o presidente do Senado e do Congresso, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) (leia mais abaixo). Nesse caso, podem ser listados pelo menos 28 nomes, isto é, em torno de 60% do total.
Líderes
Alguns dos principais líderes ruralistas no Congresso figuram na lista. Estão lá, por exemplo, o deputado e ex-coordenador da frente Luiz Carlos Heinze (PP-RS) e o atual coordenador institucional da bancada, Jerônimo Goergen (PP-RS).
Heinze ficou conhecido nacionalmente depois de dizer, em um vídeo gravado em novembro de 2013, em Vicente Dutra (RS), que índios, quilombolas, gays e lésbicas são “tudo que não presta”. O filme registra ainda falas dele estimulando agricultores a usar segurança armada para expulsar indígenas do que consideram ser suas terras (saiba mais). O deputado foi alvo de uma queixa-crime no STF e de uma representação na Procuradoria Geral da República apresentadas por organizações indígenas por causa da fala.
Suspeito de ganhar pouco mais de R$ 100 mil das empreiteiras envolvidas na Operação Lava Jato, Goergen destaca-se pelo discurso agressivo contra os direitos indígenas. Em 2013, ele foi acusado por quatro parlamentares de seu próprio partido – inclusive Heinze – de “tráfico de influência” por divulgar como sendo de sua responsabilidade a liberação de recursos do Ministério das Cidades para municípios gaúchos (saiba mais).
Outros nomes
Também faz parte da lista o senador Romero Jucá (PMDB-RR), que luta há vários anos para abrir as áreas protegidas à exploração minerária, ao agronegócio e às hidrelétricas. Ele foi um dos principais opositores da demarcação da Terra Indígena (TIs) Raposa-Serra do Sol (RR) e, quando foi presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), nos anos 1980, propôs franquear as TIs a madeireiras.
Mencionada ainda pelos delatores do escândalo, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) foi uma das principais responsáveis pela atual paralisação da demarcação das TIs quando foi ministra da Casa Civil no primeiro mandato de Dilma Rousseff.
Deputados citados na Operação Lava-jato que são da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA)
Afonso Ham (PP-RS)
Aguinaldo Ribeiro (PP-PB)
Arthur Lira (PP-AL)
Dilceu Sperafico (PP-PR)
Jerônimo Goergen (PP-RS)
José Otávio Germano (PP-RS)
Lázaro Botelho (PP-TO)
Luiz Carlos Heinze (PP-RS)
Luiz Fernando Faria (PP-MG)
Renato Molling (PP-RS)
Roberto Balestra (PP-GO)
Roberto Britto (PP-BA)
Vander Loubet (PT-MS)
Waldir Maranhão (PP-MA)
Senador citado que faz parte da FPA
Benedito de Lira (PP-AL)
Parlamentares citados que não fazem parte da FPA, mas são aliados dos ruralistas
Renan Calheiros (PMDB-AL) (presidente do Senado e do Congresso Nacional)
Eduardo Cunha (PMDB-RJ) (presidente da Câmara)
Gleisi Hoffmann (PT-PR) (senadora e ex-ministra da Casa Civil)
Romero Jucá (PMDB-RR) (senador e ex-líder do governo no Senado)
Valdir Raupp (PMDB-RO) (senador)
Edison Lobão (PMDB-MA) (senador e ex-ministro de Minas e Energia)
Nelson Meurer (PP-PR) (deputado)
Políticos sem mandato que fizeram parte da FPA
Aline Corrêa (PP-SP) (ex-deputada)
Carlos Magno (PP-RO) (ex-deputado)
Roberto Teixeira (PP-PE) (ex-deputado)
Vilson Covatti (PP-RS) (ex-deputado)
Outros políticos citados nas investigações
Aníbal Gomes (PMDB-CE) (deputado)
Eduardo da Fonte (PP-PE) (deputado)
José Mentor (PT-SP) (deputado)
Missionário José Olimpio (PP-SP) (deputado)
Sandes Jr (PP-GO) (deputado)
Simão Sessim (PP-RJ) (deputado)
Antonio Anastasia (PSDB-MG) (senador)
Ciro Nogueira (PP-PI) (senador)
Fernando Collor (PTB-AL) (senador)
Gladison Cameli (PP-AC) (senador)
Humberto Costa (PT-PE) (senador)
Lindberg Farias (PT-RJ) (senador)
Mário Negromonte (PP-BA) (ex-ministro das Cidades, ex-deputado e atual conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios da Bahia)
Cândido Vaccareza (PT-SP) (ex-deputado)
João Pizzolatti – (PP-SC) (ex-deputado)
José Linhares (PP-CE) (ex-deputado)
Luiz Argôlo (ex-PP, atual SD-BA) (ex-deputado)
Pedro Corrêa (PP-PE) (ex-deputado)
Roseana Sarney (PMDB-MA) (ex-governadora do Maranhão e ex-senadora)
Pedro Henry (PP-MT) (ex-deputado)
João Leão (PP-BA) (vice-governador da Bahia)
Fonte : ISA