Motim que durou mais de 17 horas representa maior carnificina em presídios brasileiros desde o massacre do Carandiru, onde 111 detentos foram mortos
A selvageria da rebelião que terminou com 56 mortos no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), em Manaus, acabou chamando atenção do mundo todo. O motim teve início no início da tarde do domingo (1º) e só foi encerrado nesta manhã (2), durando mais de 17 horas.
A rebelião em Manaus representa a maior carnificina em presídios brasileiros desde o massacre do Carandiru, em São Paulo, onde 111 detentos foram mortos durante ação da polícia em 1992.
O secretário de Segurança Pública, Sérgio Fontes, confirmou que a chacina é resultado da rivalidade entre duas organizações criminosas que disputam o controle de atividades ilícitas na região amazônica: a Família do Norte (FDN) – aliada do Comando Vermelho (CV), do Rio de Janeiro – e o Primeiro Comando da Capital (PCC). Apesar disso, as críticas ao sistema penitenciário brasileiro são uma constante nos textos dos jornais estrangeiros.
“Alguns presos dominaram os guardas nos corredores e os amarraram. Outros reviraram as celas e o refeitório, pegando todas as armas que podiam encontrar: pistolas, fuzis, facas, pás e barras de ferro. Foram 17 horas de horror e violência”, diz reportagem do jornal italiano La Reppublica, assinada pelo correspondente Daniele Mastrogiacomo. Ele completa afirmando que “as condições de vida dos presos são desumanas”, escreve.
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O jornal francês Le Monde diz que, durante as negociações, os prisioneiros não exigiram praticamente nada, “apenas que não houvesse excesso por parte da polícia quando entrasse no local”. “Achamos que eles já tinham conseguido o que eles queriam, matar os membros da organização rival”, disse Sergio Fontes, secretário de Segurança Pública do Amazonas.
Segundo o diário, “as rebeliões são frequentes nas prisões do Brasil, cuja superlotação é regularmente denunciada por organizações de defesa dos direitos humanos”.
O jornal espanhol El País lembra que a Região Norte é fundamental para o tráfico internacional de drogas, pois as principais rotas de venda passam por lá. “O Amazonas faz fronteira com grandes países produtores de cocaína, como Peru, Colômbia e Venezuela. Por isso, o controle das prisões locais estabelece o poder sobre essa atividade.”
Já o The Guardian destaca que um vídeo da rebelião publicado no site do jornal brasileiro Em Tempo mostra dezenas de cadáveres sangrentos e mutilados, amontoados no chão da prisão. O artigo classifica as condições nos presídios brasileiros de “terríveis”.
“Nunca vi nada parecido”
O New York Times traz a declaração do juiz Luís Carlos Valois, que participou diretamente da negociação com os presos. “Nunca vi nada parecido na minha vida. Havia muitos corpos, a maioria desmembrados”, disse. O jornal lembra que o presídio acomodava 1,2 mil presos, o triplo da sua capacidade.
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A reportagem lembra ainda que, recentemente, a condenação de 73 policiais pela participação no massacre do Carandiru foi anulada, gerando crítica de grupos pelos direitos humanos. As autoridades brasileiras também haviam prometido acabar com a superlotação e combater as gangues nos presídios, “mas o aumento das prisões por pequenos delitos relacionados com o tráfico inchou o sistema penitenciário, e rebeliões continuam acontecendo em todo o país.”
*Com informações da Agência Brasil
Fonte: Último Segundo