O PT sentiu nas urnas a rejeição do eleitor no primeiro pleito municipal desde o impeachment de Dilma Rousseff (PT) e do início da Operação Lava Jato. Além de uma derrota histórica do prefeito Fernando Haddad no primeiro turno em São Paulo, a legenda teve péssimo desempenho nas capitais do país. Nem mesmo no Nordeste, onde havia a expectativa de que o partido tivesse melhor desempenho e onde o ex-presidente Lula se empenhou pessoalmente subindo no palanque de correligionários, os números favoreceram o PT. A única vitória do partido em capitais foi Rio Branco, onde o prefeito Marcus Alexandre foi reeleito com mais de 54% dos votos em primeiro turno. Já o PSDB do governador Geraldo Alckmin conseguiu umas das vitórias mais acachapantes do pleito, cacifando o tucano a tentar alçar voo mais alto em 2018. Veja quem saiu ganhando e quem perdeu após o primeiro turno destas eleições.
Xeque-mate de Alckmin em São Paulo
A vitória de João Doria no primeiro turno em São Paulo é uma vitória indelével de Geraldo Alckmin. Desde o início da pré-campanha o governador se empenhou para emplacar o empresário como candidato tucano na disputa. A persistência do governador custou caro para o partido, que rachou no processo de prévias e viu alguns de seus quadros históricos, como Andrea Matarazzo, abandonarem a legenda. Mas o resultado nas urnas – Doria foi o primeiro candidato eleito em primeiro turno na cidade desde 1988 – cacifa Alckmin como um dos caciques mais poderosos do PSDB, e o possível nome do partido para disputar o Planalto em 2018. Em seu discurso de vitória, o prefeito eleito de São Paulo afirmou que “se [Alckmin] for candidato à Presidência da República, terá o apoio da população brasileira”, vislumbrando um novo xadrez político. O PSDB se fortalece também no Brasil com a vitória em primeiro turno em 12 prefeituras entre as 92 maiores cidades do país, e disputando o segundo turno em outras 19.
PT naufraga inclusive no Nordeste, reduto de Lula
Além da derrota humilhante em São Paulo, o PT sofreu duros golpes também no Nordeste, onde historicamente o partido costuma ter bons resultados. EmFortaleza, por exemplo, a ex-prefeita petista Luzianne Lins não conseguiu ir ao segundo turno, que será decidido entre Roberto Cláudio (PDT) e Capitão Wagner (PR). O ex-presidente Lula participou ativamente de sua campanha, indo a comícios da candidata e falando em seu programa na TV.
No Recife, o atual prefeito Geraldo Julio (PSB) quase leva a eleição no primeiro turno: ele teve pouco menos de 50% dos votos, ante 24% do ex-prefeito da cidade João Paulo (PT), outra aposta de Lula. Estes resultados mostram que o prestigio do maior líder petista está abalado até mesmo em seu reduto. Acossado pela Lava Jato (o ex-presidente já é réu em dois processos) e sofrendo forte desgaste político, as pretensões políticas de Lula de voltar ao Planalto pela terceira vez podem ser frustradas.
PMDB nacional ganha espaço
O partido do presidente Michel Temer faturou sete prefeituras dentre as 92 maiores cidades do país, e mais de 1000 no Brasil. Foi para o segundo turno em outras quinze grandes cidades. Junto com ele, legendas que estiveram na base de Dilma Rousseff e depois saíram para apoiar o seu impeachment se saíram bem no pleito deste domingo. É o caso do PSD e PSB. O primeiro venceu em 9 cidades no primeiro turno, sendo duas com mais de 200.000 habitantes, e os socialistas em 7 (2 com mais de 200.000 habitantes).
O PMDB de Eduardo Paes vira pó no Rio de Janeiro
O atual prefeito carioca, Eduardo Paes (PMDB) tinha tudo para conseguir emplacar um sucessor no Rio no pleito deste ano. Mesmo contando com a máquina eleitoral do partido, o maior tempo de campanha na TV, o sucesso da Olimpíada, o capital político do seu padrinho e de ter sido o candidato com mais doações do país (cerca de 7 milhões de reais), Pedro Paulo naufragou já no primeiro turno. Não resistiu aos ataques dos adversários que exploraram os episódios de violência doméstica que viveu com a sua ex-mulher, ainda que ela tenha vindo a público dizer que o perdoou.
PSOL avança no Rio de Janeiro e em Belém
O PSOL obteve dois bons resultados em capitais importantes do país, apesar de ter pouquíssimo tempo de na TV e no rádio. No Rio de Janeiro o deputado estadual Marcelo Freixo disputará o segundo turno contra Marcelo Crivella (PRB). O parlamentar terá agora o desafio de enfrentar a máquina da Igreja Universal, ligado ao partido de seu adversário. Por outro lado, na reta final da eleição o tempo de propaganda dos candidatos é igual, o que pode favorecer Freixo.
Em Belém o deputado federal Edmilson (PSOL) decidirá o segundo turno contra Zenaldo Coutinho (PSDB). Em 2012 os dois também se enfrentaram na reta final, com vitória do tucano por 56,6% contra 43,4%.
Legendas nanicas e partidos do centrão conseguem bons resultados
A insatisfação do eleitor com os partidos e com o sistema político tradicional abriu espaço para que legendas nanicas e partidos do centrão – base de sustentação do deputado cassado Eduardo Cunha – ganhassem espaço. O caso mais emblemático é o de Rafael Greca em Curitiba. Derrotado nas últimas quatro eleições (ficou em quarto lugar em 2012) e sem espaço em seu antigo partido, o PMDB, ele migrou para o PMN e conseguiu avançar para o segundo turno com 38% dos votos.
Em Belo Horizonte outro partido nanico chegou ao segundo turno. Alexandre Kalil (PHS), ex-presidente do Clube Atlético Mineiro, recebeu 26% dos votos, e enfrentará o tucano João Leite, que teve 33%. O slogan do ex-cartola fez eco no descontentamento da população com o sistema político: “Chega de político!”.
Na capital maranhense Eduardo Braide (PMN) é outro candidato de partido nanico que avançou para a reta final do pleito com 21% dos votos.
O centrão está representado por Capitão Wagner (PR), que foi para o segundo turno em Fortaleza, Marcelo Ramos (PR) em Manaus, Kelps (SD) em Natal, Amaro Neto (SD) em Vitória, Luciano Cartaxo (PSD) em João Pessoa, Raul Filho (PR) em Palmas e Angela Amin (PP) em Florianópolis.
El País