O governo Temer, ao menos por enquanto, vai continuar a contar com a parceria dos tucanos no Congresso. Mas não se trata de apoio incondicional, segundo decisão da Executiva Nacional do PSDB, que se reúne nesta segunda-feira (12) em Brasília, mas passível de reavaliação caso surjam novos fatos a respeito das investigações contra o peemedebista – investigado no Supremo Tribunal Federal (STF), de maneira inédita, por corrupção passiva, associação criminosa e obstrução de Justiça. Com 46 deputados e 11 senadores, o PSDB é considerado um partido estratégico para garantir um mínimo de governabilidade na gestão peemedebista.
Como este site adiantou mais cedo, uma espécie de olheiro de Temer saiu da reunião do PSDB para adiantar a Temer, no Palácio do Planalto, que o partido continua na base aliada. Trata-se de Elton Rohnelt, ex-deputado federal nos anos 1990 e início dos anos 2000. Membro do Diretório Nacional do PSDB de Roraima, o tucano foi nomeado em maio como assessor especial de Temer e trabalha de maneira próxima ao presidente.
A decisão majoritária foi tomada sem aferição de votos na instância partidária, com amplo apoio dos caciques da legenda. “O sentimento do partido é de unidade e estamos dando prioridade às reformas para a retomada do crescimento”, disse o senador José Serra (SP), ex-ministro das Relações Exteriores de Temer e também investigado no STF. Apenas o presidente da Juventude do PSDB, Henrique Vale, e os deputados federais Eduardo Cury (SP) e Eduardo Barbosa (MG) discursaram pela saída do partido da base de apoio e pela entrega dos ministérios sob o comando do partido.
A corrente minoritária foi vencida com um discurso ensaiado pelos caciques tucanos. “Nosso compromisso é com o Brasil. Não temos compromisso com o PMDB, mas com a governabilidade. Temos que ter coragem neste momento, preservar nossos ministros e aprovar as reformas”, vociferou o prefeito de São Paulo, João Doria.
O tucano fez um discurso inflamado na reunião, que deveria ter sido realizada na semana, antes do julgamento da chapa Dilma/Temer no Tribunal Superior Eleitoral. A polêmica absolvição de Temer ajudou a pacificar os “tucanos cabeças pretas”, como passaram a ser chamados os jovens deputados do partido, que pressionam pelo desembarque.
Mesmo sem a decisão pelo desembarque, a aliança com Temer continua a dividir tucanos e gerar incerteza na base governista – Temer sabe que partidos alinhados ao PSDB, como o DEM, podem seguir o mesmo fluxo do desembarque. Mas, para o líder do PSDB na Câmara, Ricardo Tripoli (SP), uma reunião da executiva nacional ainda sem data definida deve confirmar a posição da maioria pela continuidade da aliança.
À espera dos “fatos novos”
A justificativa oficial para o apoio tucano é a consecução de reformas como a trabalhista e a da Previdência, travadas no Congresso desde 17 de maio – data da divulgação, pelo colunista do jornal O Globo Lauro Jardim, de áudios com diálogos suspeitos de Temer com um dos donos do Grupo JBS, Joesley Batista, delator da Operação Lava Jato. No entanto, nos bastidores já se fala em apoio do PMDB aos tucanos em uma chapa presidencial em 2018.
Trata-se de um dos motivos que têm impedido o rompimento definitivo dos tucanos com Temer, embora alguns membros do partido não o admitam publicamente. Especula-se também que, na iminência de uma denúncia da Procuradoria-Geral da República contra o peemedebista, o partido abandonará de vez o barco do governo – que, carregado de propostas impopulares no Congresso, é visto por alguns tucanos como fator de desgaste político perigoso em ano pré-eleitoral. Ao menos por enquanto, o ímpeto da ala jovem tem sido contido pelos políticos mais experientes da legenda, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o senador afastado Aécio Neves (MG), alvo de sete inquéritos no STF e com pedido de prisão pendente de análise na corte – ausência mais presente na reunião partidária.
Além de parlamentares e dirigentes, participaram da reunião em Brasília os quatro ministros do PSDB no governo Temer – Aloysio Nunes (Relações Exteriores), Antônio Imbassahy (Secretaria Especial de Governo), Bruno Araújo (Cidades), Luislinda Valois (Direitos Humanos). Quatro também foram os governadores no encontro de cúpula: Geraldo Alckmin (São Paulo), Beto Richa (Paraná), Marconi Perillo (Goiás) e Simão Jatene (Pará).
Fonte: Congresso em Foco