Lei estadual obriga que as lojas de varejo troquem as bolsas de plástico por modelos feitos com material renovável. G1 ouviu opinião de clientes sobre a nova prática em vigor.
Uma norma que já funciona em outras cidades, estados e até países pelo mundo começa a valer no Rio de Janeiro a partir desta quarta-feira (26). Com a aprovação de uma nova lei estadual, os supermercados agora estão proibidos de oferecer sacolas de plástico para seus clientes transportarem mercadorias.
O G1 ouviu a opinião de clientes de supermercados das zonas Sul e Norte do Rio para saber o que eles acham sobre a nova regra. O hábito de levar a própria sacola na hora das compras pode parecer simples para algumas pessoas, mas, para outras, será preciso conscientização.
O diretor de arte Oswaldo Eduardo Lioi costuma ir com um carrinho de feira ao supermercado para evitar um o uso das sacolas plásticas. Para ele, a proibição dela já deveria ter começado há mais tempo.
“Eu acho que a gente está demorando demais a fazer isso. Não tem retorno, não adianta. A gente tem que providenciar algum tipo de recurso, tipo papel, um pouquinho que possa ter de resistência pra você poder também transformar em outra coisa. O plástico é impossível. A gente está muito mal acostumado. É um caminho e a gente tem que focar nisso”, afirmou.
Já o professor Afonso Campos também acredita que a nova lei é uma boa iniciativa, mas tem receios sobre sua eficácia.
“É fundamental, só que [a lei] não vai pegar porque no Brasil não pega nada. O problema é esse: não tem conscientização. As pessoas têm que se conscientizar de que é importante para o ambiente e não porque dói no bolso”, disse Afonso.
Para a comerciante Jane Araujo, reduzir o uso de sacolas plásticas no dia a dia é o começo para conscientizar a população sobre o meio ambiente.
“Eu acho fantástico você ter a bolsa que você traz toda vez que precisar pra fazer compras. Acho que vai vigorar quando todo mundo tiver consciência de que isso está fazendo mal pra gente mesmo, vai todo mundo respeitar. Eu penso que comprando uma bolsa você vai ficar com ela sempre e vai ser melhor. Eu já tenho um monte de bolsa [retornável] e a cada dia que passa estão ficando mais bonitas”, destacou a comerciante.
No caso de Valéria Barros, as sacolas de plástico oferecidas em supermercados também tinham uma outra função dentro de casa: eram usadas nas lixeiras.
“Eu estou usando a sacolinha [de plástico], mas também uso ela para o lixo. Só que existe uma sacola plástica específica para o lixo, mas ela é muito cara, então, eu reutilizo. Acho que essa questão tem que ser vista direitinho porque lixo é um problema muito sério. As pessoas querem se livrar dele o mais rápido possível e fazem qualquer coisa, não descartam corretamente”, afirmou Valéria.
Substituição das sacolas
A proibição faz parte de uma lei estadual que obriga as lojas de varejo a substituírem as bolsas plásticas por modelos feitos com material renovável.
A partir desta quarta-feira (26), 1,5 mil lojas de supermercados deixarão de distribuir o modelo descartável, normalmente na cor branca.
De acordo com a Associação de Supermercados do Rio (Asserj), as duas primeiras sacolas serão ofertadas gratuitamente por seis meses aos clientes que forem fazer compras.
As novas sacolas plásticas oferecidas nos supermercados terão duas cores: verde (para resíduos recicláveis) e cinza (para materiais orgânicos). As cores vão ajudar os usuários na hora de separar o lixo para reciclagem.
A legislação diz que, se o cliente quiser mais do que as duas sacolas que serão dadas gratuitamente nesses primeiros meses, terá que pagar por elas, a preço de custo de até R$ 0,08.
O modelo das sacolas de duas cores não será definitivo. A ideia final é que apenas o modelo de sacolas do tipo reciclável fique à disposição dos consumidores. Essa sacola definitiva vai ser vendida pelos mercados, poderá ser usada várias vezes e não polui o meio ambiente.
O supermercado que descumprir a nova regra estará sujeito a multa de até R$ 34 mil.
Ambientalista alerta para reciclagem
O ambientalista Sérgio Ricardo explica que a “cultura do plástico” é algo recente na sociedade. Segundo ele, a lei é uma boa iniciativa, mas existem outros problemas para os quais precisamos ter atenção, como os processos de reciclagem.
“A minha geração não tinha sacola plástica. Era o vasilhame, era garrafa de vidro para o leite. A gente ia ao supermercado com sacolas de pano. Há poucas décadas não existia essa ‘cultura do plástico’. Isso foi uma coisa da indústria que foi impondo esse modo de vida. Ninguém vai morrer se não tiver sacola plástica para as pessoas. Tem que adaptar. Acho que isso é muito bem-vindo”, destacou Sérgio.
Sérgio afirma que há pesquisas indicando que, por não ter uma reciclagem eficaz de plástico, o estado do perde R$ 420 milhões por ano.
“O Rio de Janeiro está extremamente atrasado em termos de reciclagem. Nossas embalagens saem daqui para ir para outros estados, países pra serem reciclados. Já veio aquele debate dos canudinhos e se mostrou que é possível produzir o canudo biodegradável. Não temos coleta seletiva pra valer, temos pra inglês ver. Esse material está indo pro meio ambiente ou pra um aterro sanitário. É um ciclo perverso e negativo pra sociedade e pro meio ambiente”, explicou Sérgio.
Para incentivar o uso de sacolas retornáveis, há redes de hiper e supermercados baixando o preço do produto esta semana. Em uma delas, a sacola tamanho grande foi de R$5,99 para R$ 3,99. Já a pequena foi de R$4,99 para R$ 2,99.
Em uma outra rede de supermercados, uma bolsa retornável estampada, por exemplo, pode ser comprada por dois valores: R$ 4,99 (tamanho pequeno) e R$ 5,99 (tamanho grande).
Começa a valer nesta quarta (26) a lei das sacolas com 51% de materiais renováveis
Lei do canudinho
Em julho de 2018, uma lei municipal também suspendeu o uso de canudos de plástico em bares e restaurantes do Rio.
O projeto sancionado pelo prefeito passou a obrigar os estabelecimentos da cidade a usarem canudinhos de papel biodegradável ou de material reciclável.
Fonte: G1