Durante a campanha presidencial fui a única voz que se levantou para criticar a opção estratégica do governo do PT pelo petróleo como fonte energética prioritária e particularmente a opção por um mega investimento da Petrobras nas reservas do pré-sal. É revelador a unanimidade da família de partidos socialistas, da social democracia aos socialistas moderados e aos comunistas como PSTU, PSOL, etc.
Nenhum deles se colocou abertamente contra esta opção do PT. Século XX puro. Miopia genética diante da sustentabilidade do planeta e da nossa espécie. Por que nós fomos e somos contra esta aposta pesada no pré-sal?
1. O combustível fóssil é o combustível do aquecimento global. Sua utilização intensiva, como prevê o programa brasileiro de exploração do pré-sal e os de outros países grandes produtores de petróleo, carvão, xisto e areias betuminosas, vai contra o esforço da humanidade de não ultrapassar o limite de 2°C de aumento da temperatura da Terra nas próximas décadas do século XXI. Esta ultrapassagem mudaria a crise climática de patamar. De crise ela se transformaria em desastre climático de conseqüências terríveis sociais/ambientais/econômicas e principalmente para as populações mais pobres.
2. Assim, a busca da eficiência energética e a mudança da matriz energética em direção das energias mais limpas e renováveis como a biomassa, eólica, etanol, hídrica e principalmente solar é um imperativo social/ambiental/econômico e até ético para todos os países.
3. O Brasil não pode ficar na contramão deste esforço humanitário.
4. A Petrobras pode quebrar economicamente com esta opção do governo do PT. O mundo vai se encontrar em Paris, dezembro /2015, para um possível/necessário novo pacto global de redução das emissões de gases de efeito estufa. São previstas metas de redução de emissões proporcionais as responsabilidades do passado e do presente. São previstas estratégias para desestimular o uso de combustíveis fósseis (precificação de carbono)e estímulo às energias mais limpas e renováveis.
5. Assim, a escolha que condenou a Petrobras a uma única opção energética, o petróleo, deixando de indicar que ela devia evoluir de uma empresa petroleira para uma empresa de energia com várias possibilidades de produção é desastrosa.
6. Além disso, estamos vendo que o cartel do petróleo (Arábia Saudita à frente) está fazendo um movimento para resistir a vinda das renováveis baixando o preço do barril de petróleo. É uma reação de cartel que apenas prolongará a agonia da hegemonia petrolífera na matriz energética mundial. Porém isto pode ter uma conseqüência imediata para a saúde financeira da Petrobras: se o preço do barril baixar muito o pré- sal pode se tornar antieconômico.
7. Mais esta!
Eduardo Jorge
Foto da capa: Campo de Libra; a maior reserva de petróleo já encontrada no Brasil/UOL