O governo brasileiro conseguiu licitar nesta quinta-feira praticamente apenas blocos exploratórios de gás localizados em bacias que contam com infraestrutura e próximas de centros consumidores, mostrando a preocupação das empresas em escoar o gás que eventualmente encontrarem nas áreas.
De um total de 240 blocos ofertados na 12a rodada de licitações, 72 foram arrematados, dos quais 70 deles nas bacias do Paraná, que abrange os Estados do Paraná, Mato Grosso do Sul e São Paulo; de Sergipe-Alagoas; e do Recôncavo, na Bahia.
O resultado surpreendeu pela grande procura por blocos nas três bacias, mas também confirmou expectativas pessimistas com a fraca demanda por áreas localizadas em regiões mais isoladas e de novas fronteiras, afirmaram especialistas, executivos e autoridades do setor.
“Foi uma rodada para semear a cultura do gás”, afirmou Magda Chambriard, diretora-geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP), que é responsável pelos leilões.
O arremate de cerca de 30 por cento dos blocos oferecidos na 12a Rodada ficou abaixo do resultado alcançado na 10a Rodada, quando também foram licitados apenas blocos exploratórios em terra. Na 10a Rodada, foram arrematados cerca de 41 por cento dos blocos ofertados. Por outro lado, o governo arrecadou bem em bônus no leilão desta quinta.
BÔNUS
O diretor da ANP Florival Carvalho avaliou que o valor arrecadado com bônus surpreendeu a reguladora.
No total, a agência garantiu arrecadação de 165,2 milhões de reais, sendo que 120,2 milhões de reais serão pagos apenas pela Petrobras, segundo cálculos da Reuters.
Levando em conta apenas os blocos arrematados, o bônus a ser pago foi 8,5 vezes superior ao bônus mínimo exigido pelo governo.
Na 10a Rodada, o governo arrecadou 89 milhões de reais em bônus de assinatura, mas os investimentos previstos chegaram a 611 milhões de reais, acima do investimento mínimo previsto no leilão desta quinta-feira, de 503 milhões de reais.
PARANÁ SURPREENDE
A Bacia do Paraná, apesar de apresentar um elevado risco exploratório, foi a que mais despertou interesse, com 16 áreas arrematadas das 19 oferecidas pela ANP.
“Se olharmos para a bacia do Paraná, que ainda é um desafio do ponto de vista geológico, vemos que está bem perto dos mercados … E em Sergipe-Alagoas há infraestrutura”, afirmou o presidente do Instituto Brasileiro do Petróleo (IBP) João Carlos de Luca.
Também houve boa procura por blocos das bacias do Sergipe-Alagoas e do Recôncavo, ao contrário do que aconteceu com as áreas ofertadas nas bacias do São Francisco e Parecis, que não tiveram nenhum bloco arrematado.
As bacias do Parnaíba e de Acre-Madre de Dios tiveram apenas um bloco adquirido em cada uma.
PETROBRAS DOMINA
A Petrobras foi, de longe — e como sempre –, a petroleira que mais arrematou blocos, com 49 áreas.
Empresas como a panamenha Trayectoria, a colombiana Alvopetro e as brasileiras Ouro Preto e Petra Energia se destacaram pela quantidade de blocos que arremataram ou levaram em parceria com outras companhias.
“Escolhemos ficar onde já existe infraestrutura, perto de estradas e com facilidade para entregar óleo e gás”, afirmou o empresário Rodolfo Landim, acionista da Ouro Preto. A empresa participou de um consórcio liderado pela Petrobras que levou ao menos seis concessões na bacia do Recôncavo.
Amplamente conhecida pela indústria e considerada o berço da exploração de petróleo, a bacia do Recôncavo também atraiu a panamenha Trayectoria, que arrematou 6 áreas na região. Outros quatro blocos foram arrematados pela empresa na bacia de Sergipe-Alagoas, conhecida pela boa infraestrutura.
O diretor superintendente da Alvopetro, Carlos Eduardo Freitas, avalia que a infraestrutura foi fator determinante no leilão. A empresa arrematou quatro blocos também no Recôncavo.
A falta de infraestrutura atrapalhou o leilão de áreas nas outras quatro bacias que contaram com poucas ou nenhuma oferta, como já haviam alertado especialistas e executivos ouvidos pela Reuters.
A baixa demanda já era esperada, sobretudo nas áreas de nova fronteira, onde o risco exploratório é bastante elevado.
No caso da bacia de São Francisco, a experiência fracassada de algumas empresas que devolveram blocos na área pode tê-las afugentado. No Parecis –no Mato Grosso e Rondônia–, a distância do mercado consumidor também pode ter atrapalhado, como disse um representante do Ministério de Minas e Energia.
“O leilão foi positivo, com uma disputa grande que surpreendeu na bacia do Paraná e nenhuma disputa que nos frustrou na bacia do Parecis”, afirmou o secretário de Petróleo e Gás do Ministério de Minas e Energia, Marco Antonio Almeida, após o certame. “Não sabemos se as empresas ficaram desinteressadas pelos dados geológicos ou se estão entendendo que a região fica distante do mercado consumidor”, disse.
Outra preocupação que pode ter pesado na falta de apetite por bacias de novas fronteiras e com vocação para a exploração de gás não-convencional, como a do São Francisco, é a falta de regulamentação e a preocupação ambiental de órgãos do próprio governo com o método de exploração, afirmou um especialista do setor que participou do evento e que pediu para não ter sua identidade revelada.
O Brasil não possui estudos geológicos suficientes que permitam uma avaliação segura para a exploração de gás não- convencional, concluiu um parecer elaborado por membros do IBAMA, Ministério do Meio Ambiente e ICMBio, órgão que trata das reservas ambientais brasileiras.
Reuters Brasil