Professores e alunos da Universidade de Brasília desenvolvem método simples e acessível de combate aos focos do transmissor de dengue, zika e chicungunha e diminuem quantidade de mosquitos em São Sebastião
Um método simples e acessível criado por professores e alunos da Universidade de Brasília (UnB) conseguiu reduzir em 80% a quantidade de mosquitos da dengue em São Sebastião. A estratégia para combater os focos de Aedes aegypt consiste na utilização de um recipiente de plástico, que se parece com um vaso de planta, cheio d’água e com pó de larvicida na borda. As fêmeas — responsáveis pela transmissão de outras doenças, como zika e chicungunha — pousam no pote e esbarraram no pó. Depois, espalham nos ovos produto fatal para as larvas.
A região de São Sebastião foi a escolhida em razão do alto número de casos de dengue. Nos dois primeiros meses do ano, a Secretaria de Saúde registrou 303 moradores infectados. Durante 18 meses, pesquisadores da UnB espalharam potes de larvicida em 150 pontos e realizam monitoramentos mensais da situação.
“Fazemos a medição da quantidade de mosquitos por um aspirador elétrico. No começo do trabalho, as áreas aspiradas tinham de quatro a seis mosquitos. No fim, em muitas não havia nenhum”, detalha o coordenador da pesquisa, professor Rodrigo Gurgel Gonçalves, do Núcleo de Medicina Tropical da UnB.
O larvicida não mata o mosquito adulto, mas impede o crescimento das larvas. Segundo o especialista, o produto, chamado pyriproxyfen, não representa perigo ao corpo humano ou a animais, pois não é tóxico, além de ser aprovado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Outra vantagem do método é o baixo custo dos recipientes e do próprio larvicida usado.
A vendedora Eliane de Medeiros, 36 anos, mora em São Sebastião há 20 anos e foi uma das voluntárias para receber o experimento em casa. Segundo ela, é comum os relatos entre a vizinha de casos de dengue. “Eu achei muito interessante a iniciativa, porque os pesquisadores nos orientaram durante as visitas, sempre muito atenciosos. Assim, ficamos mais preparados para combater a doença.”
Consciência
O trabalho para diminuir focos de mosquito da dengue teve como base um estudo realizado em Manaus e foi financiado pela Fundação de Apoio à Pesquisa (FAP-DF). Apesar dos resultados promissores, é imprescindível a colaboração da população para eliminar os criadouros de mosquitos, como pneus, vasos de plantas, garrafas, entulhos e lixos, além de manter vedados reservatórios de água como caixa d’água, fossas e limpar calhas, piscinas e ralos.
A previsão é de que, nos próximos meses, as análises em andamento indiquem o real efeito do método de controle com disseminadores de larvicidas ao analisar comparativamente o efeito da chuva e o controle químico usado pelo governo. Atualmente, os experimentos estão sendo realizados em pontos do câmpus Darcy Ribeiro. O intuito é que, em seguida, seja ampliado para outras regiões.
Alerta no DF
O aumento no número de casos prováveis de dengue no DF foi superior a 312% em relação ao mesmo período do ano passado. De acordo com o último boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria de Saúde, 1.649 casos foram classificados como prováveis — contra 400 em 2018 — e três pessoas morreram.
Além da influência do clima, um novo sorotipo da doença está circulando no DF. “Esse vírus está associado a casos graves e a óbitos, motivo pelo qual há essa variação entre 2018 e 2019”, afirma o gerente de Doenças Crônicas e Outros Agravos Transmissíveis, Fabiano Martins.
A Saúde emitiu um alerta, a unidades de pronto atendimento e o governo intensifica ações preventivas. Em dois meses, 185.913 imóveis foram inspecionados. A legislação prevê advertência e multa de R$ 2 mil ao morador que não tomar cuidados para evitar a proliferação do mosquito.