A polêmica sobre as ciclofaixas corre solta desde que elas começaram a ser implementadas em 2014. Na semana passada, foi dado mais um passo em direção ao retrocesso quando o Ministério Público Estadual (MPE) entrou com uma ação civil pública contra a implementação de ciclovias em São Paulo, pedindo para que as construções de fossem suspensas e que o governo recomponha o pavimento utilizado pelas ciclovias já existentes. Um dos argumentos é que falta estudo prévio de impacto viário e projetos executivos para as obras, mas para além de criticar a forma de execução, a ação questiona o valor da política pública em si. Em uma cidade em que o carro sempre foi priorizado, mudar a ótica do transporte tornou-se um verdadeiro desafio.
Não sem motivo, os ciclistas ocuparam as ruas de São Paulo na última sexta-feira, 19 de março, para protestarem contra a ação movida pelo MPE e ainda marcaram um novo Manisfesto a favor das Ciclovias marcado para sexta-feira, 27 de março. O Greenpeace assina embaixo a resposta dada ao MPE por mais de 20 organizações de ciclistas e da sociedade civil em favor às ciclovias e contra o parecer do MPE.
As ciclovias representam segurança não apenas para o ciclista, como para todas as pessoas que utilizam os diferentes modais de transporte presentes no dia-a-dia paulistano. Garantir a segurança do ciclista é incentivar que cada vez mais pessoas deixem o carro e utilizem a bicicleta no seu dia-a-dia. O uso da bicicleta beneficia o indivíduo e o meio ambiente por ser um dos poucos meios de transporte completamente livre de emissões de gases de efeito estufa.
Em pesquisa feita pela Rede Nossa São Paulo/Ibope, de 2014, 26% dos 519 entrevistados afirmaram que utilizariam a bicicleta como meio de transporte caso houvesse construção de ciclovias. Além disso, a mesma pesquisa mostra que houve aumento de 50% no número de usuários de bicicletas entre 2013 e 2014. Esses dados mostram a importância crescente da bicicleta como meio de transporte em São Paulo. Barrar a construção de ciclovias vai contra os próprios dados apresentados, que refletem a necessidade de trazer segurança para o ciclista.
Parte da ação do MPE afirma que o carro é o modal de transporte que transporta o maior número de pessoas no município, o que não é verdadeiro, porque a maior parte dos paulistanos se desloca a pé e por meio do transporte público, de acordo com pesquisa Origem e Destino do Metro, de 2007. As políticas de mobilidade urbana deveriam aumentar a oferta de transporte coletivo e os meios de transporte alternativo, como a bicicleta, além de restringir o uso do carro, para que haja a migração necessária para salvar as cidades do caos urbano instalado pelo tráfego intenso.
Cada paulistano que sai do carro e sobe na bike representa uma esperança de São Paulo voltar a ser uma cidade habitada por pessoas. Não podemos regredir em uma política que tanto benefício traz à cidade. As ciclovias representam o futuro de uma cidade que volta a ser movida por pessoas.
*Fabiana Alves é da campanha de Clima e Energia do Greenpeace Brasil