Sob diversas perspectivas, o ano que se encerra não deixará saudades. No plano internacional, o recrudescimento da guerra na Síria, o avanço dos partidos xenófobos, a crise pela saída do Reino Unido da União Europeia e a eleição de Trump. No Brasil, o impeachment de Dilma e a manutenção da crise política e econômica, levando a um cada vez maior descontentamento e descrédito da população nos partidos e nos políticos. No Rio de Janeiro, a falência do estado, o desdobramento de investigações que levaram à prisão dois ex-governadores e o aumento dos protestos contra os poderes constituídos.
Neste ano em que comemoramos os 30 anos da fundação do Partido Verde no Brasil, tivemos que fazê-lo no meio dessa imensa crise de representatividade da política no Brasil e no mundo. Mas nem tudo foi tristeza e decepção. Também lembraremos de 2016, como o ano da eleição do primeiro Chefe-de-Estado verde da História, na Áustria, da derrota do PMDB na capital fluminense, as quatro prefeituras conquistadas pelo PV no estado, tendo Niterói como a maior cidade governada pelos verdes no país.
Passamos boa parte dos nossos tempos iniciais de partido político, defendendo ideias para o século XXI. Com o avanço do novo século, é hora de começar a pensar em defender saídas para os próximos 30 anos. As conquistas no campo ambiental e das liberdades individuais dos últimos anos, estão sendo ameaçadas por uma onda profundamente reacionária. A eleição de Trump põe em risco o grande acordo global pelo Clima assinado em Paris, em 2015. O crescimento dos partidos nacionalistas, xenófobos e anti-europeus, ameaçam desmoronar as ideias de uma integração para além das fronteiras e identidades nacionais. O fortalecimento da bancada conservadora no Congresso Nacional e o crescimento de ideias reacionárias na sociedade brasileira, colocam em xeque as conquistas no campo comportamental do nosso país.
Tudo isso vai exigir uma profunda reflexão e um reposicionamento do movimento de ecologia política, no Brasil e no mundo. Está claro que a atual forma-partido não é mais suficiente para responder adequadamente às demandas da sociedade. É fundamental aprimorar os processos democráticos a partir das tecnologias de um mundo cada vez mais online. E isso terá que ser aplicado não só na esfera da governança pública mas também nos espaços políticos-partidários. Mais democracia, mais transparência e mais participação. Recuperar as ideias colocadas nos textos fundacionais dos partidos verdes no mundo, de se constituir como um partido em movimento, conectados com os desejos e as lutas das pessoas que mesmo sem filiação partidária, não querem deixar as conquistas ambientais e comportamentais dos últimos anos sofrerem qualquer retrocesso.
O Partido Verde do estado do Rio de Janeiro encerra esse ano confirmando sua posição de trincheira ideológica das nossas bandeiras históricas. Nos manteremos na defesa da identidade que nos formou como projeto partidário ecologista, alternativo e libertário. Sem perder de vista a necessidade de ocuparmos espaços de poder, mas sempre o fazendo de forma a enraizar e aprofundar a democracia plural, na qual o desejo da maioria não sufoque o direito das minorias.
O ecologismo vai muito além da questão ambiental. O ecologismo propõe as bases de um novo paradigma de sociedade, com a superação da atual cultura antropocêntrica, insustentável, machista e homofóbica. Defendemos um planeta no qual a cultura da paz e a construção de um sentido de Humanidade, menos centrado em si mesmo e mais atento aos desejos da multiplicidade, reconhecendo as diversidades culturais, as várias interfaces sexuais e o respeito às necessidades futuras. Mais que uma trincheira dos últimos 30 anos, queremos chegar em 2017, apresentando caminhos e propostas para os próximos 30. Felizes próximos anos!
Fabiano Carnevale
Secretário de Relações Internacionais do Partido Verde, Presidente Municipal do PV-Rio.