Marcello Lorenço
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Recifes: abrigo para espécies marinhas
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Iniciativa mundial fomenta debate pela conservação desses ambientes marinhos. No Brasil, plano de ação contempla 52 tipos ameaçados.
LUCIENE DE ASSIS
Brasília (11/01/18) – Uma em cada quatro espécies marinhas vive em recifes de coral, incluindo cerca de 65% dos tipos de peixes existentes. As estruturas recifais estão entre os mais antigos e ricos ecossistemas da Terra. E 2018 foi escolhido como o Terceiro Ano Internacional dos Recifes de Coral, assim definido em novembro de 2016, em Paris, França, durante encontro dos participantes da 31ª Reunião da Iniciativa Internacional para os Recifes de Coral (ICRI), fruto da parceria entre governos, organizações internacionais e organizações não governamentais.
De acordo com os cientistas e estudiosos desse ecossistema, sua importância ecológica, social e econômica é indiscutível. Os ambientes recifais são considerados, ao lado das florestas tropicais, uma das mais diversas comunidades naturais do planeta. Os recifes de corais parecem uma grande quantidade de rochas, mas, na realidade, são formações produzidas, principalmente, por restos de coral, animal adaptado a viver em colônias e que produz um esqueleto formado de carbonato de cálcio durante toda a vida. Quando morrem, novos surgem e dão origem a mais esqueletos. Além dos corais, outros organismos podem fazer parte da formação dos recifes pela produção de esqueleto calcário, como algumas algas.
FOMENTO
Para a diretora de Conservação de Ecossistemas do MMA, Ana Paula Prates, 2018 foi designado como o Ano Internacional dos Recifes de Coral para mostrar sua relevância e chamar atenção para a fragilidade desses ambientes marinhos. “Os recifes de coral são ecossistemas altamente diversificados, que abrigam uma extraordinária variedade de plantas e animais. Além disso, possuem grande importância econômica, pois representam fonte de alimento e renda para muitas comunidades costeiras”, explica.
Segundo Ana Paula Prates, “o Brasil possui os únicos recifes de coral do Atlântico Sul, lembrando que a Convenção sobre Diversidade Biológica indicou como uma das metas de Aichi a proteção dos recifes, situação prevista também na meta 14 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, da ONU, que visa a conservação e o uso sustentável dos oceanos”.
CUIDADOS
No país, o monitoramento dessas formações foi estabelecido no Projeto Piloto de Monitoramento de Recifes de Coral do Brasil, iniciado em 2002, e coordenado pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), com o apoio financeiro do Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica Brasileira (PROBIO), coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA).
Ao promover o Terceiro Ano Internacional dos Recifes de Coral, a ICRI pretende sensibilizar a sociedade global para os valores, ameaças aos recifes e seus ecossistemas associados; promover articulações entre governos, setor privado, universidades e sociedade civil para a sua gestão; identificar e implementar estratégias de conservação e de manejo, aumentando a resiliência e o uso sustentável desses ecossistemas, estimular as melhores práticas de gestão; e divulgar informações sobre projetos de gestão e manejo do uso sustentável dos recifes de coral.
PERDAS
Desde 2010, o acompanhamento dessas estruturas tem sido realizado em conjunto pela UFPE, Instituto Recifes Costeiros (IRCOS), MMA e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), sendo este último o responsável pela elaboração do Plano de Ação Nacional para Conservação dos Ambientes Coralíneos (PAN Corais). O Plano, em fase de reestruturação, contempla 52 espécies ameaçadas de extinção e visa melhorar o estado de conservação dos ambientes coralíneos, com a redução dos impactos causado pela ação do homem, ampliação da proteção e do conhecimento sobre essa formação marinha, com a promoção do uso sustentável e da justiça socioambiental.
De acordo com pesquisadores, o mais importante para a conservação dos recifes é evitar que as principais ameaças afetem esses ecossistemas. Na lista dos perigos estão a sobrepesca (pesca predatória), a poluição do mar, o desenvolvimento costeiro (falta de saneamento básico) e o assoreamento dos rios, que contribuíram em mais de 10% para o cenário global de degradação dos recifes.
Outros 15% desses ambientes já foram perdidos ao redor do mundo devido ao aquecimento da temperatura superficial da água do mar e à mudança do clima. Frente a essas transformações, estudos também estimam perdas de cobertura coralínea em 20% por década no Caribe e em 5% por década no Indo-Pacífico.
PROTEÇÃO
O Brasil possui uma zona costeira e marinha com áreas de recifes de coral que despertam o interesse dos turistas ao longo do ano. São ambientes que abrigam peixes coloridos, algas, esponjas e outros animais, além das próprias algas. Maceió e Maragogi, em Alagoas, já desenvolvem ações voltadas à informação dos turistas.
O MMA dispõe de iniciativas capazes de colaborar na conservação dos recifes. O Projeto Áreas Marinhas e Costeiras Protegidas (GEF-Mar) foi criado e implementado para promover a conservação da biodiversidade marinha e costeira. Entre as UCs federais já apoiadas pelo projeto estão a Área de Proteção Ambiental da Costa dos Corais (PE); Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha; Reserva Biológica do Atol das Rocas (RN); Parque Nacional da Lagoa do Peixe (RS); a Área de Proteção Ambiental da Baleia Franca (SC); Parque Nacional Marinho dos Abrolhos (BA); Reserva Extrativista de Canavieiras (BA); e Reserva Extrativista Marinha do Corumbau (BA).
O Projeto de Proteção e Gestão Integrada da Biodiversidade Marinha e Costeira (TerraMar) se propõe a garantir um planejamento ambiental territorial coerente, de forma que a gestão integrada da zona marinha e costeira contribua para a proteção e o uso sustentável da sua biodiversidade. As ações do TerraMar ajudam na proteção e no uso sustentável da biodiversidade de duas áreas da costa brasileira, situadas entre Espírito Santo e Sul da Bahia, e Alagoas e Pernambuco, com espaços definidos para turismo, pesca e conservação.
O combate ao lixo marinho, ação aprovada por 193 países durante a Assembleia Ambiental das Nações Unidas (UNEA 3), realizada em dezembro passado em Nairóbi (Quênia), está entre as prioridades brasileiras. Nesse sentido, o governo federal pretende criar o Plano Nacional de Combate ao Lixo no Mar, propondo a eliminação dos microplásticos dos oceanos e adotando ações capazes de prevenir e reduzir a poluição marinha até 2025.
PERIGOS
Ao todo, o Brasil já instituiu 20 unidades de conservação destinadas a proteger os ambientes recifais de ameaças globais, regionais e locais que incluem as alterações climáticas, o branqueamento dos corais, o turismo desordenado, a agricultura e a poluição, entre outros. Segundo os estudiosos do tema, os recifes de coral são habitats importantes para peixes e outros recursos pesqueiros, como lagosta, caranguejo e ostra, dando suporte e abrigo às espécies ameaçadas de extinção, entre eles a tartaruga marinha e o peixe-boi marinho.
As principais espécies abrigadas pelos recifes são os corais pétreos e corais de fogo, octocorais e corais negros. Mas nem todos eles constroem recifes, apenas os que apresentam esqueleto calcário maciço, com destaque para algumas espécies de pétreos, como coral cérebro (Mussismilia braziliensis), coral estrela (gênero Montastraea) e coral de fogo (escleractinios recifais), predominantes nos recifes brasileiros. A palavra recife significa rochedo ou série de rochedos situados próximos à costa ou a ela diretamente ligados, submersos ou a pequena altura do nível do mar.
Acesse: Pan Corais
Fonte: MMA