Cinco países abrigam 70% das áreas terrestres e marítimas virgens no mundo – e o Brasil está entre eles.
Ao lado de Austrália, Canadá, Estados Unidos e Rússia, o país aparece em destaque no primeiro mapa global de ecossistemas intactos da Terra já feito por cientistas – no caso, pesquisadores da Universidade de Queensland, na Austrália, e da Sociedade para a Conservação da Vida Silvestre. Parte deste projeto foi apresentado por seus autores em um artigo no site da revista Nature no final de 2018.
Eles alertam que o que está nas mãos deste países é de enorme interesse global, mas há poucas ferramentas hoje para proteger especificamente os ecossistemas virgens.
“Os passos que estas nações tomarem (ou falharem em tomar) para limitar a expansão de estradas e rotas de navegação, e para controlar o desenvolvimento em larga escala na mineração, extração de madeira, agricultura, aquacultura e pesca industrial, serão críticos”, afirmam.
O estudo destaca como exemplos de biomas que contêm estas florestas a Amazônia; a tundra e a taiga, presentes em países do Hemisfério Norte como Canadá e Estados Unidos; e regiões desérticas da Austrália.
Quando este grupo dos cinco é expandido, 20 países acabam responsáveis por 94% destes ecossistemas intactos – definidos pelos pesquisadores como áreas com nenhuma ou mínima interferência humana.
O levantamento não inclui partes do alto mar fora de fronteiras nacionais e a Antártica.
Perda acelerada
Segundo o artigo, há um século, apenas 15% da superfície da Terra era explorada pela agropecuária.
Hoje, mais de 77% da terra (excluindo a Antártida) e 87% do oceano foram modificados por atividades humanas.
Entre 1993 e 2009, 3,3 milhões de quilômetros quadrados de áreas virgens – uma superfície maior que a Índia – foram perdidos para a agricultura, a mineração e outras ações antrópicas, por exemplo.
No mar, áreas livres da pesca industrial, do transporte marítimo e da poluição estão praticamente confinadas às regiões polares.
Mas qual é especificamente a importância desta natureza intacta, em comparação com fragmentos de florestas em áreas urbanas, por exemplo?
Por que os ecossistemas virgens são importantes
Alguns especialistas em conservação ambiental defendem que ecossistemas remanescentes em regiões degradadas têm uma preservação prioritária pois oferecem benefícios mais diretos como para a saúde humana e para o desenvolvimento turístico.
No entanto, cada vez mais estudos têm revelado as funções cruciais que áreas intactas podem exercer.
Para começar, elas abrigam espécies em uma abudância próxima ao natural – resguardando informações genéticas e processos ecológicos que sustentam a biodiversidade em uma escala de tempo evolutiva.
Por exemplo, no mar, são as áreas virgens que ainda têm populações viáveis de grandes predadores como o atum, o marlim e os tubarões, lembram os autores do artigo na Nature.
Ecossistemas intactos também amortecem desastres naturais e eventos climáticos extremos, do nível local ao global.
“Simulações de tsunamis, por exemplo, indicam que os recifes de corais saudáveis oferecem ao menos duas vezes mais proteção do que os altamente degradados”, escrevem os pesquisadores.
Estas áreas são importantes ainda diante das mudanças climáticas – por exemplo, por estocarem carbono em larga escala.
100% de proteção
Segundo John Robinson, da Sociedade para a Conservação da Vida Silvestre, a Terra já perdeu muito de sua natureza virgem – por isso, a instituição e os pesquisadores de Queensland pedem que nada menos que 100% destas áreas sejam protegidas pela comunidade internacional.
“Devemos aproveitar esta oportunidade antes que estas regiões desapareçam para sempre”, alerta.
Os autores do estudo indicam que a proteção passa por mapear e registrar estas áreas como tal, além de oferecer políticas de incentivo para sua preservação.
Fonte: BBC