Polêmica à vista: a preocupação com a poluição da Baía de Guanabara levou velejadores britânicos a adotarem medidas para evitar o risco de doenças provocadas pela contaminação da água. Em entrevista à “BBC”, o responsável pela equipe de vela, Stephen Park, afirmou que os atletas estão ingerindo vitaminas para “minimizar os danos da poluição”. O evento-teste do iatismo será em agosto deste ano.
Os atletas também foram orientados a carregar embalagens com enxaguante bucal enquanto estiverem treinando ou competindo na Baía. Segundo a reportagem, o velejador Nick Thompson ficou doente durante o evento-teste realizado em 2014.
— Estou tomando óleo de peixe para fortalecer o intestino — disse o atleta.
Já entre os dirigentes australianos, o incômodo se estende para além da Baía. De acordo com o jornal “The Sydney Morning Herald”, a chefe da delegação do país, Kitty Chiller, se disse preocupada com os atletas que vão disputar as competições na Praia de Copacabana — triatlo e maratona aquática — e na Lagoa, que vai receber remo e canoagem. Uma das alternativas em estudo pela delegação é um chuveiro portátil para os atletas do triatlo e da maratona aquática usarem assim que saírem do mar.
EFEITOS DUVIDOSOS
Além de controversa, a decisão dos ingleses pode não ter efeito prático. O médico Alberto Chebabo, integrante da Sociedade Brasileira de Infectologia, afirma que a única ação eficaz é a “vacinação contra hepatite A”.
— A exposição à água contaminada traz também risco de diarreia, pela presença de bactérias, e de doenças de pele, por causa da presença de compostos químicos.
Para o médico Celso Ramos, coordenador da câmara técnica de infectologia do Cremerj, ingerir vitaminas com antecedência não vai trazer o efeito esperado:
— Nenhum suplemento é capaz de evitar uma infecção por bactéria — afirma.
A chance de contaminação também é minimizada pela Confederação Brasileira de Vela. Segundo o secretário-executivo da entidade, Ricardo Lobato, os procedimentos adotados serão iguais aos previstos em qualquer competição de alto nível.
— Quem vai às praias de Flamengo e Botafogo sabe que a água não é a do Caribe, mas, em termos de condições de regata, a Baía está pronta — afirmou.
O governador Luiz Fernando Pezão já reconheceu que a Baía não deverá alcançar os 80% de coleta e tratamento de esgoto prometidos quando o Rio se candidatou. Os barcos que atuavam na coleta de lixo flutuante estão parados há um mês por falta de pagamento do estado. A Secretaria estadual do Ambiente estuda uma maneira de criar novas ecobarreiras para impedir a entrada de detritos na Baía, depois que o instituto gerido pela família Grael recusou a contratação, sem licitação, para operar as estruturas.
Entre os velejadores brasileiros, a preocupação com a contaminação é pequena. Sobram, no entanto, críticas à situação em que a Baía se encontra. — Velejo há 20 anos e nunca tive nada, mas já aconteceu muitas vezes de não conseguir treinar por causa do lixo. A última foi em fevereiro — reclamou Ricardo Winicki, o Bimba.
Bruno Prada, prata em Pequim e bronze em Londres, em 2012, disse que a situação é “muito ruim” e que “saneamento não dá voto”.
O GLOBO