Marcas reutilizam materiais recicláveis e estimulam o consumo consciente para fazer suas peças, que custam mais caro que as comuns
Pensar sobre quem fez e em quais condições foram feitas as roupas que compramos tem se tornado cada vez mais comum. Assim como questionar o impacto ambiental da produção têxtil e a origem dos materiais usados, desafio assumido pelas marcas chamadas de sustentáveis.
O conceito de moda sustentável, também conhecido como “eco fashion”, tem movimentado pessoas em todo o mundo. Criado em 2013, o movimento americano “Fashion Revolution” teve início após o desabamento do edifício Rana Plaza em Bangladesh, que deixou 1.133 mortos e 2.500 feridos. O local abrigava trabalhadores que produziam roupas de grandes marcas em condições bastante precárias. O movimento propõe questionar marcas sobre quem e em quais condições são produzidas as roupas que comercializam.
“A compra é apenas o último passo de uma longa jornada que envolve centenas de pessoas, realçando a força de trabalho invisível por trás das roupas que vestimos” Manifesto do Fashion Revolution
A marca brasileira de sapatos Insecta Shoes, criada em janeiro de 2014, se propõe a ser uma marca vegana — sem materiais de origem animal, que estimula o consumo consciente e a redução de lixo. Ela incentiva seus clientes a levarem roupas e sapatos velhos até suas lojas. A ideia é reaproveitar o material para o revestimento dos calçados novos. Da sola, feita com borracha reciclada, até o uso de algodão orgânico no revestimento dos produtos, a marca afirma que toda a cadeia segue o ciclo sustentável.
Camila Puccini, uma das fundadoras da loja de vestidos sustentáveis Ada, explica que existe respeito nesse tipo de cadeia produtiva: “você vai em uma loja e vê um vestido de seda por R$ 800, mas que está dentro do estoque todo esmagado em um micro casulo. E a pessoa que costurou aquilo não recebeu nem R$ 10”, afirmou para o portal Free the Essence.
No Brasil, o tema da moda sustentável dialoga também com as estratégias de coibição do trabalho escravo, já que surgiram dezenas de casos nos últimos anos em que grandes marcas foram identificadas terceirizando sua produção para oficinas que contratavam funcionários em condições precárias de trabalho. Em 2014, a marca de roupa Zara, por exemplo, foi autuada pelo MTE (Ministério do Trabalho e Emprego) porque parte de suas peças eram produzidas por trabalhadores em condições análogas à escravidão.
A ONG Repórter Brasil vem monitorando esses casos e fez um aplicativo em 2013 chamado “Moda livre”, que se propõe a avaliar marcas e suas medidas contra casos de trabalho escravo, além de identificar empresas que já foram autuadas pelo MTE.
A moda sustentável se propõe a ser:
CONTRA O TRABALHO ESCRAVO
Marcas sustentáveis buscam mostrar quem são as pessoas que participam de cada processo da cadeia de produção. Diferentemente de marcas grandes, que têm um processo de produção, em muitos casos, escondido do público.
COMPROMETIDA COM O MEIO AMBIENTE
A reutilização de materiais recicláveis das roupas, como o uso de garrafas pets, também se tornou uma saída para marcas sustentáveis. Prolongando a vida útil de materiais que já estavam disponíveis no meio ambiente antes. E transformando tecidos de peças em outros produtos.
Por que roupas sustentáveis são mais caras
A produção de cada peça de roupa sustentável é feita de forma artesanal e não em larga escala, como é o caso da grande indústria têxtil. “Em uma produção em massa, você faz mil peças por dia. Nós fazemos 10.” afirmou Petula Silveira, fundadora e dona da PP Acessórios para o portal Free the Essence. Além disso, quem a produz, recebe proporcionalmente muito mais por peça do que os trabalhadores de oficinas de grandes marcas.
Se por um lado as peças sustentáveis são mais exclusivas, por outro, sua cadeia produtiva as encarece quando comparadas elas às roupas de marcas conhecidas da “Fast fashion”, como Zara e Forever 21.
Fonte: Nexo