Processo de uso do solo traz consequências para o aquecimento global e a biodiversidade
Quando falamos em uso do solo, estamos nos referindo à forma de utilização do solo, ou seja, como esta terra está sendo aproveitada. São exemplos de uso do solo: área urbana, pastagens, florestas e locais de mineração. Até 1970, a tecnologia permitia que fossem feitas apenas interpretações sobre a cobertura do solo. Somente em 1971, quando a Comissão Nacional de Atividades Espaciais (CNAE) foi transformada em Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), é que foram obtidas as condições necessárias para que avançasse o conhecimento sobre a real condição do país (em termos de uso e ocupação do solo).
Cada vez mais a demanda por estudos nessa área tem aumentado, resultando em informações a respeito das mudanças no uso do solo que nos permitem verificar a interferência da atividade humana sobre diversos ambientes naturais. Em 1979, foi aprovada em âmbito federal a Lei nº 6.766, que dispõe sobre o parcelamento do solo urbano e dá outras providências. A lei determina que cada estado e municípios pode estabelecer sua própria lei de uso e ocupação do solo, de acordo com suas peculiaridades regionais e locais.
No geral, a ciência das mudanças no uso do solo tem como objetivo compreender a evolução das interações entre os sistemas humanos, ecossistemas, a atmosfera e outros sistemas da Terra através do uso humano da terra.
O estudo e mapeamento do uso do solo é importante principalmente para o planejamento territorial, pois determina a capacidade de utilização do espaço. Estes mapas são elaborados geralmente por meio de análise e interpretação de imagens captadas por satélites, que são trabalhadas em diferentes softwares, com a ajuda de uma ferramenta chamada geoprocessamento. O padrão de uso do solo é constantemente modificado pelas ações humanas, e esses mapas nos permitem visualizar o quadro geral dessas mudanças com o passar dos anos.
O monitoramento do uso do solo e suas mudanças é importante também para que possamos quantificar melhor, prever, mediar, e nos adaptar a mudanças globais do clima, a perda de biodiversidade, e a outras consequências globais e locais as quais as mudanças no uso e cobertura da terra alteram.
Mudanças climáticas
O geoprocessamento aplicado à produção de mapas de uso do solo é também uma ferramenta útil no monitoramento de desmatamentos ilegais.
A Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, em seus documentos oficiais, divide as fontes de emissão e de remoção de gases de efeito estufa (GEEs) em setores. Um destes setores, denominado “mudanças no uso do solo e florestas” inclui o desmatamento e as queimadas como causadores de emissões e remoções resultantes das variações da quantidade de carbono presente na biomassa da vegetação e do solo.
Isso se deve ao fato de que, de acordo com o ciclo do carbono, converter coberturas vegetais nativas em áreas agrícolas ou pastagens resulta em emissões de CO2, enquanto o crescimento e desenvolvimento de vegetação em áreas manejadas remove o dióxido de carbono da atmosfera.
O desmatamento da Amazônia ocorrido durante os últimos 30 anos colocou o Brasil entre os cinco maiores emissores de GEEs do mundo. Apesar disso, a porcentagem do total de GEEs emitidos no Brasil correspondente à mudanças do uso do solo, que vem decrescendo desde 2005 graças à queda no ritmo do desmatamento na Amazônia.
A literatura científica muito tem pesquisado sobre de que forma as mudanças no uso do solo podem afetar as mudanças climáticas. Traçando o caminho oposto, um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) buscou fazer uma avaliação dos efeitos das mudanças climáticas sobre os padrões de uso da terra. De acordo com o estudo, regiões de baixas temperaturas poderão ser afetadas positivamente pelo aquecimento global, que tenderá a criar condições climáticas mais propícias às práticas agropecuárias, aumentando a produtividade deste setor. Este processo poderá então acarretar no avanço das áreas de lavouras e à transformação de florestas em áreas agrícolas, acelerando o desmatamento.
De forma contrária, regiões de clima quente terão suas temperaturas elevadas a níveis de intolerância por parte das culturas agrícolas, fazendo cair a produtividade, que irá implicar mudanças na estrutura produtiva e no padrão de uso do solo.
Água
Mais uma vez, sistemas terrestre e aquático têm se mostrado fortemente relacionados. Ballester, um dos membros do programa FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais, afirma que o cultivo da cana-de-açúcar pode causar diversos impactos ambientais. Um destes impactos é ocasionado pelo uso da vinhaça (proveniente do refino do álcool) como fertilizante para a cultura. A vinhaça, que é rica em nitrogênio, pode acabar lixiviando para cursos d’água, aumentando a oferta deste nutriente no ambiente aquático e favorecendo o crescimento de algas, que provocam a eutrofização.
Um outro problema relacionado à cultura de cana-de-açúcar é o gasto de água para a produção de álcool, onde 1,4 mil litros de água são necessários para produzir apenas um litro de álcool combustível a partir da cana. Além disso, a fuligem gerada a partir da queima da cana durante a colheita pode se depositar no solo ou em corpos d’água alterando a ciclagem natural de carbono destes ecossistemas.
Em relação ao tipo de vegetação do entorno de corpos d’água, Ballester afirma ainda que “quando se retira a vegetação da borda de um rio, entra mais luz e materiais no corpo d’água, que fazem com que a água tenha menos oxigênio e modifique as condições locais. Isso afeta a diversidade biológica do ecossistema”.
No geral, podemos dizer que as mudanças no uso da terra se relacionam fortemente com a biodiversidade de ecossistemas terrestres e aquáticos, e que o aquecimento global pode ser tanto uma consequência dessas mudanças quanto uma causa. De qualquer forma, já é sabido que qualquer alteração em padrões ambientais naturais que mantêm a vida como a conhecemos pode interferir em todo um sistema. Com a terra não é diferente. Por exemplo, sabemos que o crescimento populacional vem acompanhado de uma maior demanda por alimentos e outros recursos que nos levam a alterar a maneira como utilizamos a terra, muitas vezes nos fazendo transformar áreas florestais em pastagens ou áreas agrícolas. Resta saber quanto dessa demanda é realmente necessária.
Alguns estudiosos afirmam que a produção total de alimentos do mundo é suficiente para abastecer três vezes o número populacional do planeta! Dessa maneira percebemos que nós também influenciamos no uso da terra. Ao desperdiçar alimentos, estamos contribuindo para o aumento da demanda por áreas agrícolas, pois estamos adquirindo produtos alimentícios que são mais do que suficientes para nossas famílias, onde grande parte vai parar no lixo. Sem contar os problemas advindos de outras etapas, como o transporte de alimentos.
Em nosso site temos várias matérias com dicas de como evitar o desperdício de alimentos, e você pode acessá-las clicando nos links abaixo!
Fonte: Ecycle