Os agrotóxicos foram criados na Segunda Guerra Mundial para servirem de arma química, porém no pós-guerra, o produto começou a ser utilizado como defensivo agrícola. Com o passar dos anos ocorreram mudanças e foi modernizado por meio de pesquisas para potencializar a produtividade. Mas a exposição ao material ainda causa diversas doenças, de acordo com o Ecycle.
Mesmo depois de modernizado ainda é nocivo para as pessoas. Em média mata cerca de 200 mil seres humanos no mundo sendo a grande maioria em países em desenvolvimento onde as regulamentações de saúde, segurança e de proteção ao meio ambiente são frágeis, segundo a ONU.
A falta de conscientização e a falta de controle desses agrotóxicos são as principais causas de intoxicações registradas. De acordo com o Envolverde, segundo dados da Organização Mundial da Saúde citado pelo pesquisador Leonardo Melgarejo, membro da Associação Brasileira de Agroecologia, apenas um de cada 50 casos de intoxicação por agrotóxico é notificado.
Para a professora da Faculdade de Medicina da UFC e membro da Abrasco (Associação brasileira de Saúde Coletiva), Raquel Rigotto, os agrotóxicos podem causar intoxicações agudas e doenças crônicas. As intoxicações agudas vão acometer de forma especial os trabalhadores rurais porque são expostos a doses maiores em intervalos menores de tempo e os sintomas delas vão se expressar de maneira diferenciada, pois existem mais de 500 ingredientes nos agrotóxicos do País. Os sintomas podem ser coceiras e vermelhidão na pele, tosse, produção de secreção e espirros, irritação nos olhos, dor de cabeça, náuseas, vômitos, paralisias, coma e até morte. Já as doenças crônicas são câncer, alteração do metabolismo, indução à infertilidade, podem provocar abortos, parto prematuro e má formação congênita.
Especialistas da ONU querem o banimento do uso dos pesticidas na agricultura porque os padrões atuais de produção e uso de pesticidas são muito diferentes em cada país e causam sérios impactos aos direitos humanos.
O que diz a Lei
De acordo com a Lei nº 7.802/89, os agrotóxicos são: ‘’produtos e agentes de processos físicos, químicos ou biológicos destinados ao uso nos setores de produção, no armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens, na proteção de florestas, nativas ou implantadas, e de outros ecossistemas e também de ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja alterar a composição da flora ou da fauna, a fim de preservá-las da ação danosa de seres vivos considerados nocivos, bem como substâncias e produtos, empregados como desfolhantes, dessecantes, estimuladores e inibidores de crescimento’’.
Com informações do Ministério do Meio Ambiente e ainda de acordo com essa lei, artigo 3º, parágrafo 6º, no Brasil, é proibido o registro de agrotóxicos: d) que provoquem distúrbios hormonais, danos ao aparelho reprodutor, de acordo com procedimentos e experiências atualizadas na comunidade científica’’.
Impacto ao meio ambiente
Os agrotóxicos acabam com diversos tipos de pestes, por isso, o nome ‘pesticida’. Porém o que era para ajudar a combater pragas nas plantações se tornou um problema. Os pesticidas acabaram por atacar diversas espécies de pássaros e mamíferos. O produto se tornou também responsável pelo processo de seleção natural em que os animais mais resistentes aos agrotóxicos tomam o lugar dos mais fracos. Isso foi o oque ocorreu com as abelhas polinizadoras, o pesticida neonicotinoide uma classe de pesticida derivada da nicotina, contaminou o mel afetando também a reprodução e expetativa dessas abelhas, foi o que mostrou o estudo realizado pela revista Science.
Um dos principais impactos que o agrotóxico pode causar é a contaminação e empobrecimento do solo, a maior parte do produto ficam retido por anos, reduzindo a fertilidade, segundo a Pensamento Verde. O mesmo ocorre com os lençóis freáticos de rios e lagos. O produto utilizado chega ao solo, então, a chuva e os sistemas de irrigação facilitam o caminho até rios e lagos, contaminando toda a região, como mostra o Ecycle. As frutas e legumes também são atingidos, de acordo com a BBC.
Agricultura Orgânica e Agroecologia
Há um constante crescimento da população mundial, o mundo atualmente tem quase 7,6 bilhões de pessoas e terá 9,8 bilhões de pessoas em 2050, segundo o relatório ‘Perspectivas da população mundial: revisão de 2017’, da ONU. As grandes corporações do agronegócio utilizam o argumento de que é necessário aumentar cada vez mais a produção e consequentemente a quantidade de agrotóxico utilizado, de acordo com a Associação Brasileira de Saúde Coletiva – Abrasco. Com o crescimento no uso de agrotóxicos, estima-se que o Brasil é o maior consumidor no mundo, é preciso entender os motivos e buscar alternativas mais saudáveis.
Em entrevista à revista Galileu, o pesquisador Wanderley Pignati, doutor em Saúde Pública e professor da Universidade Federal de Mato Grosso fala que o País é o principal consumidor por uma série de razões: somos os maiores produtores de soja no mundo, as sementes utilizadas já são pensadas para o uso do agrotóxico e o uso excessivo tornaram as pragas super-resistentes.
Dentre as soluções encontradas foram os biopesticidas feitos a partir de microrganismos, substâncias naturais ou derivados de plantas geneticamente modificadas que controlam as pestes, como mostra o Ecycle. Eles são aplicados diretamente nas plantas e possuem menor toxicidade e não causam problemas a pássaros e mamíferos.
Uma forma diferente de pensar a produção agrícola é a agroecologia. Que tem como principal objetivo a produção limpa, alimentos mais saudáveis e naturais. Através do uso sustentável de recursos naturais e utilização de produtos orgânicos na manutenção de plantações.
As principais técnicas agroecológicas consistem em: adubação verde, orgânica ou mineral. A verde utiliza-se plantas que estruturam e enriquecem o solo, a orgânica se utilizam estercos, biofertilizantes, minhocas e o mineral com pó de rochas e restos de mineração. Para completar, outra técnica agroecológica utilizada é o de utilizar defensivos naturais pois eles são responsáveis por estimular o metabolismo dos vegetais de forma que eles cresçam e se defendam de maneira natural e com baixo custo.
Existe também a agricultura orgânica que “consiste em um processo produtivo comprometido com a organicidade e sanidade da produção de alimentos vivos para garantir a saúde dos seres humanos, razão pela qual usa e desenvolve tecnologias apropriadas à realidade local de solo, topografia, clima, água, radiações e biodiversidade própria de cada contexto, mantendo a harmonia de todos esses elementos entre si e com os seres humanos’’, defende a Associação de Agricultura Orgânica.
O processo de produção orgânica não utiliza agrotóxico e promove a restauração e manutenção da biodiversidade, além de utilizar fertilizantes naturais, com adubação através de leguminosas fixadoras de nitrogênio, uso racional da água, manejo de vegetação nativa e rotatividade de culturas entre outros.
Pesquisas realizadas pela Universidade Estadual de Washington (EUA), diz que a agricultura orgânica poderia alimentar toda a população mundial. Constatou-se que alimentos orgânicos não são apenas produtivos, mas também rentáveis e ainda melhoram as condições ambientais e a qualidade de vida dos trabalhadores rurais, como mostra reportagem da Hypeness. Para completar, os pesquisadores afirmaram que a melhor solução seria combinar a agricultura orgânica com tecnologias de plantios modernas.
Fontes: Ecycle, Lei nº 7.802, de 11 de julho de 1989, Ministério do Meio Ambiente, Agência Brasil, ONU Brasil, Abrasco, Greenpeace Brasil, revista Science, BBC, Pensamento Verde, Envolverde, Campanha Permanente contra os agrotóxicos e pela Vida, Bem Estar – G1, revista Galileu, Associação de Agricultura Orgânica, Nature e Hypeness.
ASCOM PV