Ativistas do Greenpeace e representantes das Ilhas do Pacífico enviam uma mensagem a líderes na COP23
Já era de se esperar que o anúncio da saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris fosse o assunto mais comentado, pelo menos até agora, na COP23, o megaevento sobre o clima que está acontecendo em Bonn, na Alemanha, desde o dia 6 de novembro. Oficialmente, o país ainda faz parte do Acordo até 2020, mas o presidente Trump não deixa ninguém mais sonhar com a possibilidade de a nação mais rica e poluidora participar de debates sobre o fim do uso de combustíveis fósseis.
Para não restar dúvidas sobre isso, uma reportagem publicada hoje no site do jornal britânico “The Guardian” conta que o tema de uma palestra que vai abrir, na segunda-feira (13), o dia de debates na conferência, foi nada sutilmente trocado. Inicialmente, a fala dos palestrantes norte-americanos seria para conduzir reflexões sobre energia limpa. Agora, porém, o programa diz:
“É inegável que os combustíveis fósseis serão utilizados no futuro previsível, e é do interesse de todos que sejam eficientes e limpos. Este painel irá explorar como os Estados Unidos serão líderes no corte de emissões de carbono através de combustíveis fósseis mais limpos e eficientes e outras fontes de energia”.
É a primeira vez, em uma década, que os Estados Unidos não têm uma representação formal na Conferência anual do clima convocada pela ONU. Quando Barack Obama era o presidente, o país tinha um grande pavilhão nos espaços destinados à reunião. Em Bonn, desta vez, os representantes norte-americanos ocupam uma pequena sala trancada, que muitas vezes parece desocupada, conforme observam os repórteres do “The Guardian”. Assim sendo, o evento de segunda-feira (13) será o primeiro sinal público do envolvimento do governo dos EUA. A ONU, porém, tenta tapar o sol com a peneira, dizendo que os delegados norte-americanos estão presentes e ativos. Questões de diplomacia…
Pesquisei nos sites especializados outras notícias sobre a COP23 e vou listar para vocês. Afinal, o evento é anual e uma possibilidade única de nós, cidadãos comuns, fazermos contato com o que os líderes estão planejando para o futuro do planeta em termos de mudanças climáticas. A saber:
– Num dos muitos espaços para debates específicos, ou seja, longe da plenária, um bloco de 134 países em desenvolvimento, incluindo a China e a Índia, alertou para uma crise de confiança mundial se os países desenvolvidos se recusarem a colocar a ação pré-2020 na agenda formal de negociação.
“Nós não estamos pedindo um compromisso irrealista dos países desenvolvidos, nós simplesmente queremos que eles possam cumprir promessas que já foram feitas”, disse Gu Zihua, um negociador chinês sênior.
Ele disse, a sério, que se os países desenvolvidos recusarem todas as propostas, os países em desenvolvimento não terão mais confiança para futuras discussões. É bom lembrar que a COP23 está acontecendo em Bonn porqueFiji, o país escolhido para sediar o evento, não tem infraestutura para receber tanta gente. Fiji é uma das nações-ilha do Pacífico que estão ameaçadas de desaparecer porcausa da subida do mar.
– Os índios brasileiros também tiveram chance de levar sua história para uma plateia interessada em conhecê-la. Sonia Guajajara, da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e Sinéia Wapichana do Conselho Indígena de Roraima, porém, não levaram boas notícias. O recorrente menosprezo pelos saberes tradicionais desses povos, a luta para conseguirem preservar o meio ambiente onde vivem e escapar dos impactos da industrialização foram temas em destaque.
– China e Índia, dois dos países que formam os Brics, também pediram mais seriedade com relação à agenda pré-2020. O que isso representa? O Acordo de Paris, conseguido a duras penas em 2015 e já ratificado por 92 países, foi estabelecido com o objetivo de tentar conter as emissões de carbono, mas a partir de 2020. O que os países estão querendo, sobretudo aqueles mais vulneráveis, é que se firmeagora um compromisso de começar já a mudança de hábitos e de políticas para isso.O negociador indiano Ravi S Prasad disse que se as promessas feitas à ONU não forem levadas a sério, isso poderia prejudicar a confiança no processo. A China preferiu adotar um discurso mais ameno. Lu Xinming, um dos negociadores do país, disse que pretende levar em conta a necessidade de rever os compromissos assumidos pré-2020. É bom lembrar que tais compromissos incluem o fornecimento, por parte dos países industrializados, de US$ 100 bilhões por ano até 2020 no financiamento do clima para países em desenvolvimento, bem como suporte tecnológico para fazer adaptações necessárias para enfrentar os eventos extremos.
– Como sempre faz em grandes eventos, a ONG Greenpeace internacional aproveitouparaenviar uma mensagem aos líderes reunidos em Bonn. Fizeram a projeção de vários rostos humanos (foto acima) na usina de carvão alemã Neurath, com a frase “O carvão destrói nosso futuro”. O objetivo, claro, foi chamar a atenção para o impacto que as emissões do país anfitrião da reunião do clima têm sobre o Pacífico. O ato foi organizado também pelos países-ilha que estão sob ameaça.
– Antonio Marcondes, negociador do Brasil, no espaço destinado a ele, disse que o país estava ali com o objetivo de acertar o acelerador e não apertar o freio, referência a várias tomadas de decisões para, de fato, fazer o Acordo de Parister algum efeito sobre o clima do mundo.Há críticas, no entanto, e não são poucas, de organizações socioambientais com relação ao retrocesso que o atual governo brasileiro está impondo à legislação ambiental.
– Para o setor privado, a questão principal continua sendo o preço do carbono.Os membros do World Business Council for Sustainable Development (WBCSD), incluindo os principais executivos de mais de 200 empresas internacionais, pediram que os governos colaborem com as empresas para estabelecer preços significativos de carbono e melhorar a resiliência climática.
A reunião continua até o dia 17. Vou trazer mais notícias durante a semana.
Fonte: G1