As abelhas são insetos voadores muito importantes para a natureza, principalmente pelo seu papel na polinização, transporte de pólen de uma flor para a outra. É através dela que as flores são fecundadas, começando o desenvolvimento de frutos e sementes.
Os insetos formam um grupo diverso e numeroso, compreendendo mais de 20 mil espécies no mundo, sendo que no Brasil estima-se a existência de mais de três mil espécies diferentes de abelhas, mas apenas pouco mais de 400 estão catalogadas.
A polinização pode ser feita pela água, pelo vento e por muitos animais, como borboletas, beija-flores, vespas e pássaros, mas a mais famosa é a abelha. Ela é a mais eficiente, pois é mais rápida, consegue voar em zigue-zague e, após um tempo com a colônia instalada em certo local, consegue saber qual o melhor horário para coletar pólen (através da observação da intensidade da luz do dia na flora próxima à colmeia).
É este processo que garante a produção de frutos e sementes e reprodução de diversas plantas. É um dos principais mecanismos de manutenção e promoção da biodiversidade na Terra e das espécies conhecidas de plantas com flores.
Para muitas plantas, inclusive, as abelhas são o equivalente ao sexo animal: elas transportam o pólen das partes masculinas de uma flor para as partes femininas. Uma série de estudos da Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços de Ecossistemas (IPBES) mostram que os serviços prestados pelas abelhas podem aumentar em cerca de 25% o rendimento das colheitas.
Porém, nos últimos anos, diversos estudos científicos mostraram o declínio das populações com o fenômeno conhecido como ‘’distúrbio do colapso das colônias’’. Apesar de não terem descoberto a principal causa desse problema, acredita-se que seja uma série de fatores como pesticidas usados em abundância pelo homem, desmatamento e queimadas, além de causas naturais, doenças como nosema (parasita), varroa (ácaro), entre outros.
Um dos principais fatores é a grande utilização de agrotóxicos. Estudo publicado em outubro de 2017 na revista americana Science mostrou que 75% de todo o mel produzido no mundo está contaminado com agrotóxicos. A conclusão é que as abelhas estão se infectando com coquetéis químicos usados para matar pestes em plantações e, ainda segundo a publicação, 57% de todas as amostras de mel da América do Sul apresentaram algum nível de concentração de neonicotinoides, que são similares à nicotina e estão entre os inseticidas mais usados no mundo em plantações.
Os neonicotinoides estão no centro do debate das políticas de proteção às abelhas na Europa. Em 2013, a União Europeia aprovou o banimento temporário deste tipo de pesticida. Foram analisados mais de 1.500 estudos, dados acadêmicos, de produtoras de produtos químicos, autoridades nacionais, ONGs, fazendeiros e apicultores. A conclusão foi de que as abelhas são expostas ao pólen e ao néctar contaminados quando entram em contato com plantações que passaram pela aplicação do inseticida ou quando vão a áreas contaminadas em seu entorno. A substância pode persistir no solo, agindo sobre gerações de plantas e abelhas.
Ao contrário do que acontece com inseticidas que ficam nas superfícies dos vegetais, plantas e sementes tratadas com neonicotinoides incorporam em seus tecidos que podem ser ingeridos por insetos. Eles interferem em seu sistema nervoso central, causam paralisias e mortes, e a substância também está presente no pólen que se prende aos corpos das abelhas quando estas obtém néctar.
Outro problema citado, por exemplo, pelo zoólogo Miguel Angel Miranda, da Universidade das Ilhas Baleares, na Espanha, é a abundância de ‘’apicultores de fim de semana’’. Na Espanha, há 24.755 apicultores, sendo que apenas 19% são profissionais, segundo números do Ministério da Agricultura. Isso pode fazer com que, segundo Miranda, os tratamento das abelhas sejam mal aplicados em muitas colmeias, gerando resistência contra essas doenças.
Assim, sem as abelhas, tanto a renovação das matas e florestas, como a produção mundial de frutas e grãos ficariam comprometidas. O equilíbrio dos ecossistemas e da biodiversidade sofreria um sério impacto, o que afetaria diretamente o ser humano de diversas maneiras. Além disso, a IPBES informou que a polinização animal é responsável por cinco a oito por cento da produção agrícola global por volume, gerando riquezas estimadas entre US$ 235 bilhões e US$ 577 bilhões.
Fontes: Info Escola, Sem Abelhas Sem Alimento, Ecycle, IPBES, BBC, El País, PV, Nexo e O Globo.
ASCOM PV