O governo bolsonarista comemorou nas últimas semanas o fechamento de um acordo com a União Europeia — que vinha sendo negociado há 20 anos. A maior parte dos analistas comemoraram junto. Os verdes europeus não. E eles têm razão: esse acordo é uma péssima notícia para o meio ambiente.
Tratados de livre-comércio e preservação ambiental nunca caminharam na mesma estrada. O acordo Mercosul-UE representa um risco a mais para a emergência climática que vivemos. O acordo significa uma possibilidade de ampliação da agropecuária (e redução do espaço do agricultura familiar), um dos maiores vetores de desmatamento da Amazônia e do Cerrado no Brasil. Não há no acordo qualquer linha sobre a necessidade de se estabelecer metas para a manutenção dos nossos biomas e de redução do impactos das consequências da crise climática.
O acordo também facilita a exportação/importação de carros que terão impostos zerados, assim como maquinários e produtos químicos. Os agrotóxicos liberados sem pudor no Brasil encontrariam mais mercado na Europa.
É fato que o acordo condiciona que o Brasil cumpra exigências ambientais rigorosas e isso seria uma boa notícia. Mas também é fato que o atual governo está destruindo os mecanismos de fiscalização e aplicação das nossas (ainda frágeis) políticas ambientais. Não temos um governo confiável. Longe disso. Temos um governo anti-ecológico e anti-cientificista. Um governo inimigo do meio-ambiente, composto por negacionistas climáticos. O governo que pressiona pelo fim do Fundo Pela Amazônia, patrocinado por Alemanha e Noruega.
Como confiar num governo negacionista para fiscalizar que a carne brasileira seja vendida por um custo ambiental ainda mais alto para a Europa? As menores taxas de exportações geram uma elevação do custo ambiental da carne brasileira, agregando os custos de transporte e ampliação da área de produção em cima dos nossos biomas.
Ou seja, quanto maior o lucro da pecuária brasileira, maior o custo ambiental que vamos agregar na crise climática. O Brasil poderia ser referência na exportação de tecnologia na geração energia limpa. Mas o acordo com a UE é só mais um capítulo (e talvez o mais grave) da nossa submissão ao capital internacional.
Fonte: Medium