A longa estiagem, a falta de fiscalização e a conjuntura econômica elevaram em 27,5% –para 235.629– o número de focos de incêndios florestais no país em 2015, na comparação com 2014.
A constatação, feita pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), revela que os dados se aproximam do recorde histórico, registrado em 2010, de 249.291 ocorrências em todo o Brasil.
Segundo Alberto Setzer, coordenador do núcleo de queimadas do Inpe, o ano de seca facilitou a propagação do fogo pelo homem. “Não existe história de combustão natural. Foi atividade humana, seja por descuido ou proposital”, diz o pesquisador.
Os Estados recordistas em queimadas foram Pará (44.794), Mato Grosso (32.984) e Maranhão (30.066).
O pesquisador cita a falta de fiscalização e o momento econômico como agravantes para o cenário. Segundo ele, a elevação do preço da carne impulsionou o número de queimadas para a abertura de pasto para a pecuária.
“Nós só demonstramos indignação quando as queimadas atingem a Amazônia. Mas elas também avançam pelo cerrado, causando prejuízos ambientais na nova fronteira agrícola brasileira”, disse.
Para serem identificados por satélites, os focos de incêndio precisam ter ao menos 30 metros de extensão por um metro de largura.
LONGA DURAÇÃO
Durante o ano, foram registrados no país incêndios florestais de grandes proporções e longa duração, como na Chapada Diamantina (BA) —de outubro a dezembro— e em terras indígenas localizadas no Maranhão.
Os focos na Chapada Diamantina, segundo o governo da Bahia, foram todos controlados no dia 29 de dezembro, após 64 dias. Cerca de 51 mil hectares, o equivalente a 340 parques Ibirapuera, foram destruídos.
Sem agentes suficientes para combater as queimadas, os governos estadual e federal precisaram da ajuda das Forças Armadas. O reforço também veio de brigadistas voluntários, na maioria moradores da região. Em nota, o governo da Bahia informou que investiu R$ 14 milhões em aluguel de aeronaves e na compra de equipamentos.
Segundo o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), responsável pelo parque nacional, 250 pessoas atuaram no combate às chamas.
No sul do Maranhão, metade da terra indígena Arariboia ardeu em chamas por dois meses. Uma área equivalente a 260 mil campos de futebol foi destruída.
Ambientalistas ligados ao Greenpeace afirmaram que a ação foi criminosa, tomada por madeireiros da região, em retaliação aos índios. A região é um dos poucos remanescentes amazônicos do Maranhão e alvo de especulação.
Para Setzer, a tendência para 2016 é que o número de incêndios diminua. Um dos motivos é que haverá menos vegetação a ser queimada. “As florestas demoram a se recuperar”, afirma.
Fonte: Folha de São Paulo