A expedição da Fundação Nacional do Índio (Funai) que iniciou o contato com um grupo de índios Korubo isolados em março deste ano, maior operação do tipo nos últimos 20 anos, passará por mais uma etapa nesta semana com visita ao grupo.
Uma equipe composta por servidores da Funai, índios e profissionais de saúde pretende iniciar a visita nesta quinta-feira (9) para manter a relação com o grupo que está atualmente no alto curso do rio Igarapé, na Terra Indígena Vale do Javari, no extremo oeste do Amazonas.
O objetivo da visita é fortalecer o relacionamento de confiança com os índios e também realizar uma nova inspeção médica após o atendimento realizado no primeiro contato da expedição.
A equipe que fará a visita desta semana é diferente da que iniciou a expedição. Conta com aproximadamente 20 pessoas. Entre os integrantes estão, inclusive, índios Korubo que são parentes do grupo recém-contatado e que terão a possibilidade de reencontrar os companheiros.
Segundo o chefe da expedição e coordenador-geral de índios isolados e recém-contatados da Funai, Bruno Pereira, o acampamento instalado pela Funai permanece tranquilo e sem alterações. Na sua avaliação, as missões feitas pela equipe ficarão, em breve, mais complexas com a redução do nível das águas, mas ainda é possível chegar aos índios pelo rio, como tem sido feito.
Bruno explica que a equipe de profissionais de saúde fará uma observação clínica dos índios e, se for o caso, aplicará uma segunda rodada de vacinas no caso de tratamentos que exigem outras doses.
“Vamos ver como estão os índios, vamos ter uma observação clínica da saúde deles e, se houver a confiança estabelecida, eles vão tentar fazer a segunda rodada de vacinas. Tem vacina que chega a ter 2, 3 doses. E vamos ver se eles estão juntos também, porque às vezes eles se separam. Vamos ver se a gente consegue encontrar todos”, explicou Bruno.
Como o blog informou no início de março, a Funai preparou a maior expedição das últimas décadas para entrar em contato com um grupo de índios Korubo, na TI Vale do Javari, que permanecia totalmente isolado.
A expedição começou a ser organizada no governo anterior e tinha dois objetivos principais: reaproximar parentes que se afastaram em 2015 e, também, evitar novos conflitos entre eles e os Matis, a outra etnia indígena da região, pelas terras próximas ao Rio Coari, além de outras questões.
Havia o risco, contudo, de extinção física de uma das etnias, segundo a Funai, no caso de um contato inadvertido, porque existem muitas desavenças entre os dois grupos. Daí, a necessidade da expedição que fez a fundação abrir mão da política de “zero contato” com índios isolados, que vinha sendo adotada desde 1987.
Até o momento, a ação foi marcada pelo encontro pacífico dos índios com as equipes da Funai e também pelo reencontro dos parentes. Por meio do diálogo, foi possível também evitar novos conflitos na região.
Índios Krorubo e Bruno Pereira, da Funai — Foto: Bruno Jorge/Funai
Novos parentes
Bruno Pereira acredita que a missão, até agora, foi um sucesso e explicou que o momento é de dialogo, monitoramento e acompanhamento. Para o coordenador da expedição, é preciso estabelecer um diálogo com os índios que fortaleça a confiança.
“O diálogo específico é realmente aquela consulta lenta, a conquista da confiança para eles poderem escolher os destinos e caminhos deles, se eles querem abrir roças mais pra cá, se eles voltaram a visitar o grupo matis [com quem tem desavenças]. A gente está levando novos korubos para eles reverem – parentes deles e devem ser feitos convites para morar junto ou não. [Queremos saber] como eles interpretam esse novo momento”, destaca Bruno Pereira.
Bruno Pereira também diz que a visita é parte do processo de diálogo indigenista, comum a esse tipo de ação.
“Eles mudam de opinião muito rapidamente, então podem estranhar a situação toda. A gente vai procurar saber como foram esses trinta dias, se alguém adoeceu, se teve algum problema mais grave ou não. É um processo de diálogo indigenista, muito delicado, com todas as restrições e regras de segurança e de saúde”, afirma.
Fonte: G1