É com imenso pesar que o Diretório Nacional do Partido Verde e a bancada da sigla na Câmara dos Deputados recebem a notícia do falecimento do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips. Ambos estavam desaparecidos na região do Vale do Javari desde o domingo (5).
Ao longo da última semana, as buscas se concentraram em localizar, com vida, os dois profissionais. O Partido Verde, no Congresso, apresentou requerimento de instauração de comissão externa para colaborar com as buscas e investigações. O crime brutal foi confirmado nesta quarta-feira (15), após a confissão dos autores que teriam sido motivados pela pesca ilegal. Ainda seguem as investigações para apurar a veracidade dos fatos.
Dom Phillips foi um profissional honrado e prestigiado, tendo uma trajetória brilhante na imprensa mundial. O jornalista britânico, era veterano, tendo sido colaborador do “Washington Post”, “The New York Times” e “Financial Times” e, por fim, do “The Guardian”. Seu trabalho teve uma enorme colaboração para alertar sobre os conflitos na região Amazônica. Um apaixonado pelo Bioma e por suas comunidades, o jornalista vivia no Brasil nos últimos 15 anos, tendo feito diversas visitas a região Amazônica, pela qual ele cultivava uma verdadeira paixão.
Bruno Pereira era servidor da Fundação Nacional do Índio – Funai. No cargo de Coordenador-Geral de Índios Isolados e de Recente Contato, no primeiro ano de governo Bolsonaro, foi exonerado por discordâncias e perseguição política. Seu trabalho consistia em fiscalizar a retirada de bens das terras Indígenas do Vale do Javari. Após atuar numa operação que, em 2019, destruiu mais de 60 balsas de garimpo ilegal o servidor passou a ser perseguido politicamente dentro do órgão.
Ao mesmo tempo que lamentamos a notícia, repudiamos a minimização dos fatos pelo Presidente da República ao dizer que os profissionais teriam embarcado em uma ‘aventura’. Lamentável é chamar de aventura a luta em defesa do meio ambiente e dos povos indígenas. Mais uma vez o crime organizado, que invadiu nossas reservas e áreas ambientais, em decorrência da precarização dos órgãos de controle e fiscalização, vitimiza aqueles que tem na sua atividade a defesa de nossos recursos naturais.
A localidade, que compreende municípios como Atalaia do Norte e Tabatinga, é uma área de grandes disputas entre garimpeiros, narcotraficantes, indígenas e ribeirinhos, sendo uma área de conflito flagrante. A região do Vale do Javari há anos vem sendo alvo de disputas de facções criminosas e atividades clandestinas, seja por garimpo ou extração ilegal de madeira e bens da terra indígena.
É importante lembrar que desde 2019, há um acirramento dos crimes na região. As invasões, segundo entidades locais, têm sido sistemáticas e com um grau de degradação ainda maior. Há uma escalada visível da violência na região. A fragilização da Funai e de órgãos responsáveis pela proteção de populações indígenas resultou em um aumento de ataques de armas de fogo às comunidades.
O Brasil tem sido cenário de uma cruel realidade, sendo o país o 4º lugar do mundo mais perigoso para a atuação de ambientalistas, segundo entidades internacionais. A maior parte dos casos foram registrado na Amazônia. Para o Partido Verde é imprescindível que a defesa do meio ambiente seja resguardada, bem como os servidores públicos e ambientalistas em atividades, uma vez que estas pessoas doam suas vidas para defender o bem coletivo e constitucional.
Nos últimos anos a Coordenação Regional da FUNAI no Vale do Javari tem sido o reflexo do desmantelamento das políticas ambientais. Os servidores e colaboradores, que lutam bravamente pela manutenção das populações indígenas não têm respaldo pelas chefias nomeadas por um governo leniente e displicente – a maioria indicações políticas e sem nenhum compromisso com a causa indígena e a proteção ambiental.
Por fim, o Partido Verde e a bancada se solidarizam com as famílias dos profissionais e amigos pela inestimável perda e se colocam à disposição para lutar por justiça e responsabilização dos autores do crime. Seguiremos mobilizando nossa estrutura até que o caso seja elucidado e contamos com a atuação da PF e do MPF, uma vez que o ocorrido não é um caso isolado.