O médico sanitarista Eduardo Jorge, candidato pelo PV à Presidência, disse nesta segunda-feira que seu partido é historicamente o mais avançado e radical em propostas para o meio ambiente e que isso deve aparecer no debate político com Marina Silva – ex-ministra do setor no governo Luiz Inácio Lula da Silva e provável candidata ao Planalto pelo PSB. Ao participar da série Entrevistas Estadão, Jorge afirmou que o PSB ainda não apresentou seu programa de governo e que o debate vai apontar “diferenças grandes” entre os dois partidos. “Mas isso aí é o povo quem vai ver.”
Ex-companheiro de Marina no PT e ex-integrante da coordenação da primeira campanha da ex-ministra ao Planalto, em 2010, Eduardo Jorge evitou críticas diretas à provável representante do PSB. Em mais de um momento, porém, indicou ter propostas mais radicais em questões que vão da reforma política aos direitos humanos.
“Em relação ao desenvolvimento sustentável ainda precisamos saber qual é a proposta do PSB, porque o programa do partido não apareceu até agora”, afirmou o candidato, ao ser questionado sobre a diferença entre ele e Marina. “O nosso programa é bastante radical. Em termos de sustentabilidade, o PV é uma referência e o porto seguro há 30 anos. Se a Marina convergir para a gente, fico feliz.”
Direitos humanos. O entrevistado adotou o mesmo tom ao falar de direitos humanos. “Há diferenças grandes”, afirmou, referindo-se à sua defesa da descriminalização da maconha e do aborto.
O candidato lembrou que essas bandeiras já estavam no programa do PV em 2010, quando Marina filiou-se ao partido para concorrer à Presidência. “Por questões filosóficas e religiosas, ela não aceitava esses pontos. Foi preciso abrir uma cláusula de consciência para que ela pudesse participar.”
Reforma política. Após apresentar suas propostas para uma profunda reforma política, que incluem a fusão do Senado com a Câmara e o fim das assessorias parlamentares, Eduardo Jorge levantou dúvidas quanto à disposição de Marina para mudanças nessa área. “Não sei se ela concorda com essas ideias radicais para acabar com a política como negócio, para transformá-la numa prática de servir, de fazer esses cortes para que os política viva o mais próximo possível do povo”, afirmou.
Mordomias. O candidato criticou as regalias que os políticos têm atualmente, em especial no Legislativo. “Cada vez mais o político se afasta do povo com suas mordomias. Isso tem que acabar”, afirmou. “Para que deputado precisa de tantos assessores como hoje? Ele precisa é estudar, porque a maioria não estuda, não sabe quais são os projetos mais importantes.”
Mudar o PV. O candidato à Presidência foi lembrado durante a entrevista que, apesar de algumas propostas radicais de seu programa, o partido que ele representa adota práticas políticas tradicionais e pouco inovadoras. Jorge respondeu que admite problemas e a necessidade de mudanças. “O PV também sofreu esse processo de corrosão da política de representação. Ele precisa ser democratizado e seguir a reforma que eu estou propondo ao Estado Brasileiro e a política representativa do País.”
Democracia direta. Nesse ponto da entrevista, o candidato também fez uma crítica indireta a Marina, que frequentemente defende a necessidade de mais política participativa e direta no País. Disse: “É necessário se adaptar a um novo tipo de política no Brasil, que aproxime a política de representatividade com maior participação da população. Mas isso não significa substituir a representatividade pela política participativa direta. É sim uma contribuição”, assinalou.
Força ao município. Ao defender a fusão das duas Casas parlamentares, o Senado e a Câmara, o candidato do PV afirmou que o mais importante para a mudança política no País seria a revalorização do papel dos municípios. Paralelamente, defendeu a redução do número de ministérios, que passariam dos atuais 39 para 14.
“O caso dos ministérios é um caso caricatural. No nosso programa vamos cortar para 14, sem prejudicar os programas já existentes e importantes.”
Jornada de trabalho. O candidato defendeu a redução imediata da jornada de trabalho de 44 horas para 40 horas semanais. Lembrou que já existe um projeto de lei no Congresso pronto ser votado. “É uma emenda constitucional. Só falta querer votá-la.”
Após uma primeira redução da jornada, segundo o plano do candidato, seriam feitos novos cortes, gradualmente, até se atingir a meta de 30 horas semanais – uma hora a menos por ano. “Todo mundo tem que trabalhar, ninguém pode viver de auxílio a vida toda. Então, temos que dividir o trabalho.”
Economia. Eduardo Jorge disse que não pretende mexer de forma radical nos fundamentos macroeconômicos. Se eleito, o candidato manterá a política do tripé macroeconômico, que está em vigor desde o segundo mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
“Não foi o Brasil que inventou o câmbio flutuante, superávit e meta de inflação. Nós, do PV, não vamos mexer nisso. Então somos conservadores? Não. Mas precisamos identificar para que serve e qual a utilização desse tripé econômico”, afirmou. “Vamos priorizar um desenvolvimento que atente para a qualidade de vida das pessoas e da saúde das pessoas.”
Banco Central. O candidato deixou claro que não é favorável à independência do Banco Central, como defende sua antiga companheira, Marina Silva. Para ele, a autoridade monetária tem de prestar contas ao presidente eleito. “O Banco Central, como qualquer outro segmento da sociedade tem que prestar contas e cumprir metas”, declarou. Jorge disse que vai trabalhar para baixar gradualmente a taxa Selic. “Vamos reduzir de forma progressiva para ativar a indústria.”
Mais médicos. O representante do PV, que se destacou na Assembleia Constituinte de 1988 como dos um dos principais debatedores da questão da saúde pública, condenou o acordo feito pelo governo Dilma Rousseff com Cuba no programa Mais Médicos, para trazer profissionais da ilha caribenha para o atendimento na saúde pública. Ao falar sobre o fato de parte dos vencimentos dos médicos cubanos ser pago diretamente ao governo do presidente Raúl Castro, afirmou: “Não se pode trabalhar de forma escrava. O contrato feito com Cuba foi uma vergonha, pois pega a maior parte do salário dos trabalhadores”.
Disse não ver problema em contratar médicos de outros países, desde que eles passem por exames de validação. “Não existe problema em importar médico. Outros países fazem isso. Mas é preciso passar pelos processos de validação de cada país.”
Para o candidato, o programa do Ministério da Saúde é “eleitoreiro” e “oportunista”. “O Mais Médicos foi o recibo do fracasso do Ministério da Saúde.”
Fonte : O Estado de São Paulo