O apoio ao Projeto de Lei 333/2015, que pretende proibir o uso de animais pelas forças policiais em manifestações de rua, foi o principal encaminhamento de uma audiência pública, realizada nesta terça (25), para discutir o tema na Assembleia Legislativa do Paraná. Durante o debate especialistas da área de segurança pública e de comportamento animal defenderam a proibição, que encontra resistência das corporações policiais, por considerarem os animais como aparato necessário às operações.
O projeto de Lei, de autoria dos deputados estaduais Rasca Rodrigues (PV) e Márcio Pacheco (PPL), foi apresentado após a chamada “Batalha do Centro Cívico”, quando 213 servidores estaduais saíram feridos da polêmica ação policial, que contou com o uso de cães. Naquela ocasião, o cinegrafista Luiz Carlos de Jesus e o próprio deputado Rasca foram vítimas da operação com animais.
“A audiência foi fundamental, pois tivemos o contraditório. Com este subsídio iremos qualificar ainda mais a proposta que tramita na Assembleia. O ponto que concordamos é o de que animal nenhum pode ser usado como arma, muito menos levar o ônus das operações como em 1988 e no dia 29 de abril”, explicou Rasca Rodrigues, que coordena a Frente Parlamentar em Defesa dos Animais.
Um dos especialistas contrários ao uso de animais em manifestações, o coronel e ex-secretário Nacional de Segurança Pública, José Vicente da Silva Filho, afirmou que mesmo com treinamento específico os animais tendem a ficar descontrolados em situações de contenção a multidões.
“Eu não recomendo o uso de animais em manifestações de rua, pois este tipo de ambiente estressa os animais e faz com que o próprio tratador perca o controle sobre ele”, disse. “Em São Paulo não se usa os animais há vinte anos. Lá são realizadas em média três manifestações de rua por dia e não se percebe a necessidade do emprego deste aparato nas operações”, completou o coronel.
Também se manifestaram contra o uso de animais pelas corporações Tosca Zamboni, do Fórum de Defesa dos Direitos dos Animais de Curitiba e Região (FDDA); Gisele Sprea, especialista em comportamento animal; Mário Sérgio Ferreira, da APP-Sindicato e vítima da operação policial do dia 30 de agosto de 1988 e o cinegrafista Luiz Carlos de Jesus, vítima da operação do dia 29 de abril de 2015.
“Os treinamentos com animais são feitos num ambiente de previsibilidade. Mas a prática é imprevisível, é uma ciência não exata, por isso somos contra”, destacou Gisele. “Não vejo diferença entre sacar uma arma de fogo e soltar um cão em um manifestante”, salientou Jesus.
Corporação – Coube aos representantes da Cavalaria da Polícia Militar e do Canil Central saírem em defesa do uso de cães e cavalos como aparato de segurança, detalhando aspectos técnicos e da rotina do trato com os animais.
“Os cães são treinados para lidar com o barulho. Em nossos treinamentos sempre associamos o barulho a algo bom”, alegou o tenente Kleber Piovesan, do Canil Central da PM.
“Os cavalos são muito importantes na contenção de manifestações violentas, gerando um impacto psicológico de força. Quanto mais força eu demonstro, menos força eu utilizo”, exemplificou o comandante do 3º Esquadrão da Cavalaria, capitão Deoclécio Aires Barbosa.
Também participaram da audiência o capitão André Luciano Dorecki, comandante da Cia. de Choque da PM; Márcio Schoenau, especialista em adestramento canino e o deputado estadual Márcio Pacheco.
Fonte : www.rasca.com.br