ENTREVISTA ROBERTO TRIPOLI Vereador de São Paulo pelo PV
Vereador mais votado de São Paulo, o “verde” Roberto Tripoli explica sua campanha pró-meio ambiente
Rafael Abrantes
Depois de conquistar 132 mil votos nas urnas e garantir o sétimo mandato consecutivo na Câmara de Vereadores, Roberto Tripoli (PV) protagonizou a primeira saia-justa de ‘alto escalão’ do novo governo municipal ao recusar convite do prefeito eleito, Fernando Haddad (PT), para liderar a secretaria do Verde e Meio Ambiente. A área que o conduziu à vida política, desta vez, não o seduziu. Em entrevista ao BRASIL ECONÔMICO ele explica o motivo, e comenta as prioridades do Legislativo em 2013.
Por que o sr. recusou o convite do prefeito Fernando Haddad para assumir a secretaria municipal de Verde e Meio Ambiente?
A questão ali não é ambiental. Depois de o partido analisar a secretaria, chegamos a conclusão de que ela precisava de outro perfil e indicamos o Ricardo Teixeira (PV). Eu fui eleito à Câmara Municipal e não para secretário. Não tenho apego a cargo, então vamos torcer para que o Ricardo faça uma boa administração.
E qual seria esse perfil?
A história é longa. São 1,5 mil funcionários, com muitos deles instalados em um prédio de três mil metros quadrados. De cara já tem que mudar para outro de cinco mil (metros quadrados). Tem a questão da informatização de todos os processos. Existe muito papel em cima de mesa, de dez, quinze anos atrás. Hoje em dia você quer informatização para ter acesso mais rápido a licenças ambientais. Há também funcionário mal pago. Como se pode dar uma licença de um empreendimento de bilhões de reais como o metrô e ter funcionário que ganha R$ 3 mil? Não se consegue no mercado ninguém que assuma uma responsabilidade desta por esse valor. Enfim, é uma questão administrativa e eu estou na questão ambiental. O partido fez uma nova opção, e me dou o direito de permanecer na Câmara como o vereador mais votado da cidade.
Entre seus projetos para 2013, o sr. pretende levar à Câmara algum que visa melhorar as condições da secretaria?
Isso não cabe ao Parlamento, é uma iniciativa do Executivo. É claro que colaboro para poder aprovar uma legislação que melhore a situação dos funcionários. Eu trabalho pela proteção dos animais e o prefeito Haddad confirmou que vamos inaugurar no começo do ano que vem mais um hospital de cães e gatos na zona norte, e vamos seguir em frente para inaugurar outro na zona sul. Sobre o canil e o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), a expectativa é fazer uma ampla campanha de divulgação para que a população adote os animais para esvaziar o canil. Os projetos são os mesmos nas últimas décadas, ou seja, continuamos batalhando por aquilo que a gente acredita, pela proteção dos animais e estamos bem com o prefeito. Ele tende a fazer um bom governo.
Qual será o posicionamento do PV na Câmara em relação ao governo Haddad?
Eu nunca fui base de nenhum prefeito. Procuro colaborar, mas nunca ser base. Tivemos um secretário no governo (José) Serra (PSDB) e o partido fazia muita oposição a certas propostas suas mesmo tendo a secretaria. Agora vai ser da mesma forma. Vamos colaborar com o governo. Se tiver que criticar, vamos fazê-lo. O PV não será base, mas será o partido que tende ajudar Haddad a governar São Paulo, principalmente na questão ambiental.
O PV terá representação na Mesa Diretora da Câmara e em suas comissões?
Acredito que sim. O PV não é apegado a cargos, mas dentro da proporcionalidade, que é a proposta do PT, o Partido Verde teria direito à 2ª secretaria da Câmara. O PV também reivindica a presidência de uma forte comissão permanente, que está agora em negociação pela bancada.
Sobre a oposição, o PSDB deve ficar isolado na próxima Legislatura?
Acredito que será PSDB de um lado e PT do outro. Mas pode-se ter um bloco PSB-PV-PSD, com quinze vereadores, no próximo mandato. A questão é dinâmica. Mas tende a ser consenso que dia 1º de janeiro não haverá surpresas (no plenário).
O sr. já prevê que Haddad terá uma ampla maioria na Câmara, evitando dificuldades na aprovação de projetos?
O ex-prefeito José Serra (PSDB) não tinha maioria na Câmara e aprovou todos os projetos que beneficiavam a população. O Kassab garantiu uma maioria, mas quando se tratava de projetos importantes, ele aprovava inclusive com voto da oposição. Não diria que Haddad esteja preocupado em fazer uma base de sustentação. Ele está abrindo espaços, mesmo que pelos discursos, para discutir com todos os partidos, inclusive os da oposição. Vamos aguardar que aconteça isso.
Quais serão as prioridades do Legislativo para este ano?
Tem o Plano Diretor, que deve ser uma questão para se rediscutir com a sociedade o que queremos para os próximos vinte anos; também a proposta do Arco do Futuro (promessa de campanha de Haddad). Acho que a Câmara discutirá muita questão urbana, de zoneamento e arquitetura no primeiro semestre. Enfim, o Haddad colocará suas propostas no Legislativo.
E qual será seu primeiro projeto em 2013?
Não é por falta de leis que a cidade está degradada. Não sou parlamentar de ficar fabricando leis, apesar de ter feito a lei do Psiu, da Cidade Limpa, da Proteção dos Animais…são poucas leis, mas que de fato estão funcionando. Vamos ampliar os hospitais de cães e gatos na cidade, uma novidade muito grande. É o trabalho do dia-a-dia, espero corresponder aos votos que obtive.
O sr. imaginava conquistar mais de 130 mil votos na última eleição?
Não tinha essa expectativa, mas sempre fui muito bem votado. Nosso tema é o mesmo de todas as campanhas, os mesmos discursos e entidades que nos apoiam. Isso mostra a repercussão de nosso trabalho na Câmara.
A proposta do sr. de defesa da ecologia, da fauna e flora, tende a ganhar mais apelo com os eleitores de uma metrópole como São Paulo?
Eu não trabalho com o apelo da sociedade. Venho do movimento ecológico dos anos 70, tive vários momentos de defesa do meio ambiente. Não tenho novas propostas. Queremos garantir o que já existe, ampliar, continuar o debate sobre proteção à fauna. Não é que eu fiz uma campanha para ter tal votação, eu faço campanha todos os dias. Não estou fazendo isso para falar o que o povo quer ouvir. Não só faço o projeto, como dou sustentação na questão do orçamento e também o atualizo.
Fonte: Brasil EconômicoData: 08.01.2013 |