O aquecimento global pode prejudicar a geração e o abastecimento de energia no Brasil, mostra o primeiro relatório nacional elaborado pelo PBMC (Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas), que foi apresentado nesta segunda-feira (9), em São Paulo.
O país poderá ficar entre 3 graus Celsius e 6 graus Celsius (°C) mais quente até 2100 se comparado ao fim do século 20, segundo cenários que levam em conta menor ou maior emissão de gases de efeito estufa. Com esse aumento da temperatura média nas regiões, o volume de chuvas vai diminuir na maioria dos biomas brasileiros, como a Amazônia e o Cerrado, afetando a reserva das bacias e dos lençóis freáticos essenciais para a geração de energia elétrica.
A bacia do rio Tocantins, cujos rios cortam os Estados de Tocantins, Goiás, Mato Grosso, Pará, Maranhão e Distrito Federal (1%), poderá ter uma redução de 30% em sua vazão. Já nos rios da região Leste da Amazônia e do Nordeste – locais onde estão concentrados os projetos de grandes hidrelétricas do governo federal -, a queda no escoamento chega a 20%.
Para Eduardo Assad, pesquisador do Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) manter as matas ciliares às margens dos rio, que foi motivo de briga entre a bancada ruralista e os ambientalistas durante a aprovação do novo Código Florestal Brasileiro, é fundamental para a segurança hídrica. É que um dos efeitos mais graves da queda da vazão, além do declínio da biodiversidade nos ecossistemas aquáticos, é a erosão e a fragmentação do solo.
“A gota d’água que escoa vai ‘entupir’ os rios com essa sujeira da terra, por isso a proteção da mata perto dos rios é importante. Quando você coloca árvores e plantas nas encostas, você impede esse processo de erosão e ainda preserva a qualidade da recarga dos aquíferos. Sem essa proteção, o abastecimento [de energia] de grandes cidades pode ser afetado.”
Assad, que coordenou o volume do relatório brasileiro sobre Impactos, Vulnerabilidade e Adaptação às Mudanças Climáticas, afirma ainda que o relatório brasileiro indica que exemplos de grandes usinas, como a Belo Monte, “são opções que deveriam sair da pauta”. “A saída é trabalhar com um novo modelo, com pequenas hidrelétricas, e desenvolver novas tecnologias para outras formas limpas de gerar energia, como a eólica.”
Fonte: UOL