Segundo Inpe, em julho houve aumento de 278% em relação ao mesmo mês de 2018. Ricardo Salles passou o dia no Congresso para falar sobre a Amazônia.
O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, passou o dia no Congresso para falar sobre os números do desmatamento da Amazônia. E exatamente num dia em que foram divulgados os números do mês de julho, ele disse que as notícias sobre o assunto são sensacionalistas.
Os alertas do Inpe – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – são gritantes: um aumento de 278% em julho em relação ao mesmo mês de 2018 – o equivalente a duas cidades do Rio de Janeiro.
Uma foto de satélite, no dia 1º de julho, mostra uma área no Pará. No dia 30, a foto mostra 179 hectares de floresta destruídos. O MapBiomas estima que 105 mil árvores foram derrubadas só no local.
O monitoramento é feito pelo sistema Deter, atualizado diariamente e que alerta a fiscalização do Ibama. Já a taxa anual é medida por outro sistema, o Prodes, também do Inpe, que deve ser divulgada em novembro. Um gráfico mostra que os alertas do Deter apontam uma tendência, que é confirmada depois pelo Prodes.
O presidente da Associação dos Servidores do Ibama, Alexandre Gontijo, afirma que o grupo especializado de fiscalização do instituto não tem sido chamado para operações contra o desmatamento: “Esse grupo não tem sido ativado nos últimos tempos. A gente tem percebido que, apesar dos servidores que trabalham ali estarem sempre à disposição – se colocarem a disposição, inclusive colocando os relatórios deles dizendo em quais ações eles poderiam atuar -, eles não têm sido ativados”.
E não é de hoje que o governo vem brigando com os números, o que culminou com a saída de Ricardo Galvão da diretoria do Inpe. Assume, interinamente, o coronel da reserva da Aeronáutica Darcton Policarpo Damião.
Em 2016, o coronel postou em redes sociais mensagens de cunho político, atacando partidos e parlamentares de oposição, e apoiou uma mensagem que defendia a extinção do PT.
O presidente Jair Bolsonaro avisou, nesta quarta (7), que Darcton Damião terá que entregar para ele os dados do desmatamento antes da divulgação: “Ele vai apresentar os números para mim. Se forem alarmantes, a gente toma uma decisão, até para eu me preparar para responder para vocês. Isso tem reflexo no mundo todo”.
No Congresso, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, voltou a criticar as notícias sobre desmatamento: “Não foi o Inpe que fez essas interpretações sensacionalistas e midiáticas, foram aqueles que manipulam essas informações para criar factoides, para criar impacto na imprensa e, quem sabe, conseguir mais doações das ONGs estrangeiras para os seus projetos pessoais. Foi isso que nós vimos nos últimos tempos”.
A sessão estava dividida entre parlamentares ambientalistas e ruralistas e acabou em bate-boca.
Em seguida, Salles esteve no Senado onde falou sobre Fundo Amazônia. Na saída, comentou o aumento de quase 300% no desmatamento da Amazônia, em julho: “O próprio Inpe já disse, aliás como consta no site, que o sistema do Deter não é o instrumento adequado para mensurar volume de desmatamento de mês a mês. Então, eu acho que essa questão do volume tem que aguardar os dados do Prodes”.
Tasso Azevedo, do MapBiomas, que monitora florestas, falou sobre a urgência de lidar com o problema: “A gente talvez não tenha tempo para esperar o Prodes. Tem que dar sinais absolutamente claros de que é intolerável o desmatamento ilegal, é intolerável a invasão de terras públicas, de áreas indígenas e unidades de conservação”.
Em nota, o Ibama informou que, de janeiro a junho, aplicou 2381 autos de infração na Amazônia Legal e que, em junho, 233 agentes ambientais federais e 190 policiais atuaram em ações de combate ao desmatamento. Segundo o Ibama, números superiores aos verificados no mesmo período do ano passado.