O aumento foi de aproximadamente 4% em relação a 2015. Número, no entanto, é explicado em parte pela notificação obrigatória implementada em 2014.
Por Monique Oliveira, G1
O Ministério da Saúde registrou aumento no número de casos de HIV em 2016. Foram 37.884 casos no ano passado, contra 36.360 em 2015 — um aumento de 4%. A tendência, de acordo com as novas notificações enviadas à pasta, é de aumento desde 2014, quando foi registrada alta de 56,2% em relação a 2013.
Esse aumento, no entanto, pode ser explicado em parte porque, em 2014, o Ministério da Saúde tornou obrigatória a notificação de casos de HIV no país. Isso significa que todos os serviços de saúde devem informar todos os novos casos ao órgão; antes, esse dado era feito a partir de amostragem em estudos isolados.
Os dados foram divulgados nesta sexta-feira (1º), Dia Mundial de Luta Contra Aids. Também nesta sexta o Ministério da Saúde anunciou que medicamentos para a prevenção do HIV passarão a ser oferecidos gradativamente no SUS, agora em dezembro.
Outra política adotada pelo Ministério da Saúde que pode explicar o aumento nas notificações é a implementação de testes rápidos de HIV. Entre 2016 e 2017, o número de testes disponíveis aumentou 49%. Além disso, o alvo da política de testes mudou, diz um infectologista.
“Antes, principalmente nos anos 1990, você tinha uma política voltada a grupos de maior vulnerabilidade. Era assim: ‘se você passou por algum risco, faça o teste’; hoje, a ideia é que todos estão em risco”, afirma Jamal Suleiman, infectologista do Hospital Emílio Ribas, referência no tratamento da doença em São Paulo.
Para o especialista, no entanto, os dados devem ser vistos com um olhar mais atento.
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“Essas políticas não explicam totalmente o incremento das notificações de HIV, ainda mais quando é visível um aumento entre homens mais jovens”, explica.
“O perfil da Aids no Brasil é muito complexo e precisa ser analisado com cuidado”, continua Suleiman.
Casos de Aids caem; entenda a diferença
A notificação por HIV ocorre quando o indivíduo tem o vírus, mas não desenvolveu a Aids. O Ministério faz uma diferenciação entre esses dois dados:
- O HIV é notificado no momento do resultado do teste, se positivo
- A Aids é notificada se o indivíduo aparece no hospital com alguma doença oportunista (como câncer ou infecções) ou com a imunidade muito baixa; se, durante o tratamento dessas doenças, o paciente faz o teste de HIV e ele dá positivo, o caso é notificado como Aids
Assim, quando considerado o número de casos de pessoas notificadas com Aids, houve redução de 5% em 2016, em relação a 2015, embora a queda não seja consistente em todos os grupos etários e a tendência seja de aumento entre os mais jovens.
Nos homens, o número de casos cresceu entre jovens de até 29 anos, mas caiu na poulação de 30 a 59 anos. Nas mulheres, a Aids cresce entre aquelas que têm 15 e 19 anos de idade, mas apresenta queda entre 20 e 59 anos, para voltar a crescer entre as com mais de 60 anos.
“O aumento entre jovens homens gays é uma tendência. No caso das mulheres acima de 60 anos, muitas chegam ao hospital em uma fase tardia da doença, com a imunidade muito baixa”, diz Suleiman.
“Provavelmente foram infectadas anos antes, quando tinham uma vida sexual mais ativa”, continua o infectologista.
O Ministério da Saúde também registra mudança no perfil da epidemia nos últimos dez anos. Hoje, há tendência de queda nos casos de Aids entre mulheres e aumento entre os homens.
Em 2016, foram 22 casos de Aids em homens para cada 10 casos em mulheres. Antes desse período, o órgão registrava uma tendência de aumento entre elas.
Mortalidade tem queda e casos entre crianças aumentam
O número de casos de HIV aumentou ligeiramente entre crianças menores de 5 anos, após uma tendência de queda nos últimos dez anos.
Em 2015, de cada 100 mil crianças, 2,3 nasciam com HIV. Em 2016, o número aumentou um pouco e passou para 2,4. Entre 2006 e 2016, entretanto, foi registrada queda de 34,5%.
A taxa geral de mortalidade apresentou uma ligeira queda esse ano: de 5,3% em 2015, para 5,2% em 2016.
“Onde está o nosso problema? As pessoas testam, sabem que têm [HIV], e não vão se tratar”, disse o ministro Ricardo Barros.
“Temos que identificar estes casos para convencer as pessoas, dar apoio para as pessoas que fazem o teste, para que façam o tratamento e se assumam como portadores”, afirmou.
Fonte: G1