Brasília – A cada mês, a Central de Abastecimento (Ceasa) da capital federal joga fora 200 toneladas de alimentos considerados sem valor de mercado. No entanto, segundo o órgão, metade disso ainda poderia ser consumido. Para falar deste assunto de forma mais prática, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) realizou na Ceasa-DF, nesse sábado (10/11), o encerramento da Semana de Conscientização sobre Perdas e Desperdícios de Alimentos, promovida pelo MMA de 5 a 10 de novembro, em Brasília.
A programação contou com quatro tendas e incluiu oferta gratuita de oficinas de combate ao desperdício e demonstrações de receitas, com dicas sobre como tirar o melhor aproveitamento dos alimentos, evitando o descarte daquilo que ainda pode ser consumido. Houve ainda apresentação sobre Plantas Alimentícias Não Convencionais (Pancs) e seu valor nutricional.
Durante o evento, os chefs de cozinha Fernando Souza e Fábio Marques, do projeto “Desafio da Xêpa – Do Lixo ao Luxo”, e técnicos da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater-DF) mostraram ao público como fazer receitas usando integralmente os alimentos. Os legumes e as verduras utilizadas foram doados pela Associação dos Produtores e varejistas da Ceasa-DF (Aprova).
Segundo a secretária de Articulação Institucional e Cidadania Ambiental do MMA, Rejane Pieratti, a perda acontece na produção, no transporte e na distribuição nos supermercados e mercearias. Já o desperdício acontece na casa das pessoas. “Arroz, carne vermelha, feijão e frango são os alimentos mais jogados fora. O planejamento na nossa casa é fundamental para se evitar o desperdício. A maioria das pessoas vai ao supermercado e compra itens que não vai usar, que acabam estragando na geladeira”, afirmou.
Magali Soares, de 79 anos, feirante há oito anos, ficou encantada com o evento. “A gente tem sempre de aprender e se cuidar. Evitando o desperdício, cuidamos melhor do mundo e das pessoas, pois muitas passam fome. É só ter um olhar novo para os alimentos”, disse.
O projeto “Desafio da Xêpa – Do Lixo ao Luxo”, dos chefs de cozinha Fernando Souza e Fábio Marques, nasceu das visitas que faziam à Ceasa para comprar alimentos. “Sempre que viemos aqui na Central, percebemos que muitos alimentos são jogados fora. Foi daí que surgiu a ideia de ajudarmos a promover a conscientização que todos nós precisamos ter: chefs e consumidores. Não é possível jogar tanto alimento no lixo, pois muitas pessoas passam fome. Resolvemos unir a nossa profissão e o combate ao desperdício”, afirmou Fábio.
A Emater-DF participou do evento com a elaboração de dois pratos: uma farofa com sementes e casca da abóbora e folhas e talos de cenoura, e um curau com a polpa da abóbora. Durante o evento, a extensionista rural Ana Paula Rosado explicou que dá para aproveitar quase tudo. “Na maioria dos alimentos podemos utilizar a casca, as folhas, as sementes. Coisas que vão direto para o lixo, muitas vezes têm mais nutriente do que aquilo que consumimos. A casca da abóbora, por exemplo, é rica em fibras e vitamina A. Já as folhas da cenoura são ricas em fibras e vitamina C”, alertou. Fábio Pinheiro, técnico da Emater-DF, acrescentou que o que desperdiçamos poderia ajudar a reduzir a fome no mundo, pois daria para alimentar milhões de pessoas.
Alice Worcmam, da ONG Organicidade, trouxe para o encerramento da Semana várias Plantas Alimentícias Não Convencionais (Pancs) coletadas nos jardins da Torre de TV, que nasceram de forma espontânea. “Folhas de bougainville podem ser usadas como corante natural em um risoto por exemplo. Desde 2006, as Pancs estão ganhando espaço e deixaram de ser vista como mato. Apesar de pouco conhecidas, elas trazem muitos benefícios. Há uma grande biodiversidade: são condimentos, legumes e hortaliças que se adaptam melhor até mesmo do que as plantas convencionais, além de serem uma fonte maior de proteína”, afirmou.
Alice é fundadora do grupo Organicidade, que há quatro anos se aliou à Fundição Progresso, no Rio de Janeiro, na busca pela educação, pesquisa, produção e projetos relacionados às plantinhas comestíveis não convencionais.
A feirante Lucia Maria Silva, de 31 anos, que vende legumes e verduras há sete anos na Ceasa-DF, também aprovou a iniciativa. “Vou levar para casa a lição de aproveitamento integral dos alimentos. Vejo muito desperdício aqui na feira. As receitas estão aprovadas e, além de tudo, são mais saudáveis”, disse.