ANA LUIZA ALBUQUERQUE
DE CURITIBA
JOELMIR TAVARES
ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA
WÁLTER NUNES
DE SÃO PAULO
O empresário Marcelo Odebrecht, herdeiro do grupo que leva seu sobrenome, chegou ao condomínio onde mora no Morumbi, na zona oeste de São Paulo, onde ficará em prisão domiciliar a partir desta terça-feira (19). Ele vai cumprir dois anos e meio em regime fechado. Nesse período só terá direito a sair duas vezes, para a formatura de uma das filhas.
O executivo chegou no banco de trás de um carro Kia preto com os vidros escurecidos.
Um dos principais delatores da Lava Jato, Marcelo deixou a prisão da Superintendência da Polícia Federal de Curitiba por volta das 10h. Ele saiu do local de carro, em direção à Justiça Federal, onde colocou a tornozeleira eletrônica.
O carro da Polícia Federal com o empresário entrou rapidamente na Justiça. Do outro lado da rua, a bibliotecária Ana Lydia Bulcão, 53, gritava: “Sem vergonha, vagabundo, ladrão, bandido”.
Apoiadora da Operação Lava Jato e vizinha da sede da Justiça, ela dizia que tem direito de protestar porque paga impostos e está indignada com a situação do país. Não havia outros manifestantes no local.
O policial Newton Ishii, conhecido como “Japonês da Federal”, fez parte da escolta de Odebrecht. Uma equipe de segurança do próprio empresário também acompanhou a soltura.
Ele estava com roupa simples (camisa, paletó e calça jeans) e aparentava estar feliz, segundo policiais que acompanharam o deslocamento.
O empreiteiro passou por uma audiência com a juíza federal substituta Carolina Lebbos, responsável pela execução da pena dele. Ela deu a Odebrecht informações sobre as regras da prisão domiciliar.
‘OPÇÃO EXISTENCIAL’
O advogado de Marcelo, Nabor Bulhões, disse na saída que o empresário relatava a vontade de voltar a conviver com a família e que agora continuará colaborando com as investigações, como prevê seu acordo de delação premiada.
Ele poderá manter contato com 15 pessoas. Os nomes devem ser apresentados por Odebrecht à Justiça e submetidos ao Ministério Público. Segundo o advogado, a relação de pessoas é sigilosa.
“Marcelo, a partir do momento em que resolveu, como opção existencial, colaborar, ele se preocupou basicamente com duas coisas: com a progressão de regime, para voltar ao convívio familiar, e em tornar efetiva a sua colaboração”, disse Bulhões.
PRISÃO DOMICILIAR
Após dois anos e meio detido, Odebrecht agora cumprirá o mesmo tempo em prisão domiciliar, em um condomínio de luxo no Morumbi (SP).
Na prisão domiciliar, o empresário terá direito a duas saídas –uma para ir à formatura do ensino superior de uma de suas filhas, em 2018.
Após o cumprimento da pena domiciliar, Odebrecht passará para o regime semiaberto diferenciado, com recolhimento domiciliar noturno e nos fins de semana e feriados. Em dezembro de 2022, o empresário ficará outros dois anos e meio em regime aberto.
O executivo foi preso preventivamente pela Lava Jato em junho de 2015, na 14ª fase da operação. Em março de 2016, foi condenado pelo juiz Sergio Moro a 19 anos e 4 meses de prisão.
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Em maio, assinou acordo de colaboração premiada. Após negociações, a punição foi fechada em dez anos, sendo dois e meio em regime fechado. Marcelo, ex-presidente do grupo, recebeu a sentença mais dura entre os delatores.
Conforme noticiou a Folha, o empresário está convencido de que foi injustiçado e de que seu pai, Emilio, e aliados acabaram beneficiados pelos acordos.
Setenta e oito executivos da empreiteira fecharam colaboração com as autoridades. Delatores temem que o executivo indique omissões e imprecisões nos acordos.
A Odebrecht foi uma das principais empresas envolvidas no esquema de corrupção na Petrobras investigado pela Lava Jato. A empreiteira é apontada como a que distribuiu mais propina.
Em maio, Moro homologou o acordo de leniência da Odebrecht, que prevê uma multa de cerca de R$ 3,8 bilhões em 23 parcelas anuais, com correção da taxa Selic –total estimado em R$ 8,5 bilhões.
Fonte: Folha de São Paulo