*Por Penna
Mais uma pesquisa sobre os efeitos nocivos da poluição do ar nas grandes cidades. O novo estudo foi desenvolvido pelo Instituto de Física da Universidade de São Paulo e acaba de ser divulgado por uma das revistas do grupo Nature, top das publicações científicas. E por ele temos a comprovação de que os grandes vilões da poluição atmosférica de São Paulo são os veículos movidos a diesel, como ônibus e caminhões. Embora representem apenas 5% da frota veicular da região metropolitana, são responsáveis por quase a metade da emissão de poluentes.
A pesquisa não só quantificou pela primeira vez o impacto das emissões de veículos pesados isoladamente dos efeitos do etanol na atmosfera, como detectou um coquetel mortífero composto, infinitesimalmente particulado, de várias substâncias cancerígenas, além da visível fumaça preta que sobe dos escapes e apaga as estrelas de Sampa – e que também mata.
Evidentemente a solução passa por mudanças estruturais, como a expansão da linha metroviária e a substituição da matriz energética nos transportes. Mas uma política de redução de danos, como a aplicação de filtros nos escapamentos apontada por autores do próprio estudo, reduziria em até 95% das emissões dos veículos a diesel. E a custo relativamente baixo. Veja o impacto positivo que isso traria para a vida da cidade e o próprio Sistema Único de Saúde.
Ao invés disso, regredimos. Tínhamos o Programa de Inspeção Veicular, implantado pelo PV na gestão de Eduardo Jorge na Secretaria do Verde e do Meio Ambiente, e que acabou equivocadamente extinto pela administração de Fernando Haddad. Pior: no ano passado a Câmara Municipal de São Paulo deu um salto no escuro ao adiar em 20 anos a incorporação de combustíveis limpos e renováveis à frota de ônibus de São Paulo prevista para este ano.
Máquina mortífera II
7 milhões de pessoas morrem anualmente no mundo por doenças relacionadas à poluição atmosférica, como câncer de pulmão, avc e outros tantos, segundo a Organização Mundial da Saúde. Outros quase dois milhões são mortos por problemas decorrentes da poluição da água. E nesta estatística funesta (dá pra antever), mais de 90% dos óbitos registrados ocorrem em países de baixa renda da África e Ásia.
Máquina mortífera III
No Brasil, as tais vítimas fatais somam 50 mil no último levantamento da OMS, com toda a depreciação numérica que um estudo dessa natureza possa gerar. É uma realidade catastrófica. E com potencial exponencialmente devastador de curto prazo.
Há anos o patologista e ambientalista Paulo Saldiva reclama da inexistência de políticas públicas voltadas para a questão ambiental e os efeitos causados pela poluição. Uma ação que, como ele diz, requer planejamento, mobilidade urbana e ocupação e uso do solo.
Máquina mortífera IV
Vamos na contramão disso. Não há planejamento algum de curto ou sequer de médio prazo. Ainda investimos no petróleo como principal meio propulsor, quando ele deveria subsidiar a transição para uma economia verde; a queimada ainda é usada indiscriminadamente como manejo do campo; leis de proteção ambiental ainda são vistas como barreiras ao desenvolvimento do agronegócio. E, como lembra Saldiva, ainda predomina uma clara tentativa de descaracterizar a causa ambiental. Isso mesmo com perdas na casa de trilhões de dólares na economia global com os efeitos da poluição.
E o quadro que se tem é esse: as cidades asfixiadas, doentes e mortais.
*Penna é presidente nacional do PV