Não se trata só dos preços das passagens, mas sim da crise de representação que o País vive
Diante da impotência política da população em meio à ineficiência do Governo nos assuntos relacionados à falta de investimentos em saúde e educação, aumento das passagens de ônibus sem a devida melhoria no transporte público, sem falar nos grandes gastos para receber a Copa das Confederações, diversos movimentos se organizaram e estão indo para as ruas, diariamente, protestarem contra essa crise de representatividade política que o País vive.
É nítido que não se trata só do aumento de passagens. Além de serviços adequados e de qualidade, a população reivindica por mais canais políticos para exprimir suas insatisfações. Para completar, quando se organizam e vão para as ruas reivindicar por seus direitos, são tratados com hostilidade e violência policial. Apesar de tudo, a sociedade brasileira tem mostrado que acordou e deseja ser protagonista do processo de transformação que a política brasileira precisa sofrer.
De acordo com alguns integrantes desses movimentos populares, o estopim para os protestos foram justificados pelo aumento seguido da tarifa de ônibus, acima do índice inflacionário do país, a repressão brutal da Polícia Militar em São Paulo que comoveu o país, além dos altos custos com a Copa das Confederações. A visibilidade internacional do Brasil gerada pela Copa das Confederações despertou na população a necessidade de revelar sua insatisfação com problemas recorrentes.
A população percebeu a incapacidade do sistema político de gerar respostas satisfatórias aos problemas estruturais. A força policial tem agido de forma agressiva e arbitrária para conter as milhares de vozes que não querem mais calar. Só quem nunca pegou transporte público pode pedir calma à população mediante a passagens caras e serviço ruim.
Os manifestos gerados pelas redes sociais não são dirigidos por partido político, sindicato, ONG ou por lideranças carismáticas. Mas, sim, pela população organizada que luta por melhorias das condições de vida nas cidades. “Esses representantes das casas legislativas não simbolizam a população”, desabafa um dos integrantes do manifesto Brasília Acordou. Segundo o manifestante, o principal saldo dos protestos é despertar esse outro olhar sobre as políticas públicas.
Só na segunda-feira (17/6) foram contabilizados, em todo o Brasil, cerca de 250 mil manifestantes nas ruas.
Todas as reivindicações têm um objetivo muito maior do que obter concessões de curto prazo. Elas não servem apenas para garantir transporte público, tapar as goteiras das salas de aula, destinar um prédio aos sem-teto ou ainda conquistar direitos individuais. Os problemas enfrentados pelos movimentos urbanos envolvidos nesses atos políticos não são pontuais, mas sim decorrência de um modelo de desenvolvimento que enquanto explora o trabalho, concentra a renda e favorece classes de abastados.
Ano que vem acontecerá a Copa do Mundo e as eleições. Essas demonstrações de insatisfação não dão nenhum sinal de que chegarão ao fim. A luta não é por 0,20 centavos e sim por dignidade!