Para oceanógrafo, é necessário pensar na geração desse lixo, além de planejar como coletá-lo
De acordo com a ONU, há 13 mil pedaços de plástico em cada quilômetro quadrado do oceano. Esse é um dado grave, que mostra como muitos países têm sido displicentes quanto à preservação dos recursos marinhos. Por isso, uma das metas do Objetivo 14 da Agenda 2030 é aumentar a conscientização quanto à poluição dos oceanos. Mais: a Agenda 2030 também prevê que, em 2020, haja o fim de todas as práticas ilegais de pescaria que prejudicam o ecossistema marinho. Em prosseguimento à série do quadro UrbanSus, o Jornal da USP no Ar conversou com os professores da USP Marcos Buckeridge, do Instituto de Estudos Avançados, e Alexander Turra, do Departamento de Oceanografia Biológica do Instituto de Oceanografia.
Turra explica que o lixo no mar é apenas a “ponta do iceberg” de agressões e poluentes presentes nesse ambiente por conta da atividade humana, mas considera que dar atenção a ele é uma boa estratégia. Segundo ele, essa é uma forma de dar visibilidade à causa de forma mais nítida e acessível do que focando em partes mais complexas do problema, como por exemplo a contaminação dos oceanos com tributilestanho, que é prejudicial à vida marinha.
O oceanógrafo aponta que existem hotspots de acúmulo do lixo em lugares específicos. Alguns são mais próximos à costa, como em praias ou no ambiente bentônico, próximo ao fundo do mar; enquanto outros se encontram nos centros das bacias oceânicas, formando as chamadas ilhas de lixo. O lixo chega até essas regiões mais afastadas por conta de um fenômeno chamado giro oceânico, uma conjunção de ventos e correntes que aprisionam os resíduos no local.
Segundo o professor Turra, os pontos de acúmulo já são bem mapeados, o que se discute é a retirada do lixo e a viabilidade econômica dessa ação. No Brasil, ele cita a iniciativa de coletar redes de pesca perdidas no mar e transformá-las em utensílios. Teoricamente, esse tipo de iniciativa não teria futuro, pois o ideal é que se pare de realizar descarte no oceano.
Para Turra, o Brasil, apesar de não ser um grande produtor de lixo oceânico como os países do Leste Asiático, consome muitas embalagens e gerencia muito mal e, por isso, é necessário que haja planejamento no sentido de remediar a situação. Já foi lançada pelo Ministério do Meio Ambiente a consulta pública para o Plano Nacional de Combate ao Lixo no Mar, que será publicado em 8 de junho de 2019, no dia dos Oceanos, e existem planos para o lançamento de um documento similar no âmbito do estado de São Paulo.
O Plano Nacional será um plano estratégico abordando tanto fontes terrestres quanto marinhas. No mar, os principais pontos são a pesca e o cultivo de organismos, a aquicultura, tentando evitar problemas com apetrechos perdidos e com os microplásticos, micropartículas que se formam com a degradação do plástico.
Turra questiona ainda a forma elitista como se trata da questão da poluição marítima, sempre focando nas praias sujas, quando, na verdade, o cerne da questão está em onde esse lixo é gerado: regiões de ocupação de baixa renda. Buckeridge aponta que se trata de mais um Objetivo relacionado com esse tópico e com a necessidade de boa gestão pública. Além disso, o professor do IO ressalta a importância de se pensar em formas de inovar o caminho que o lixo segue, seja através do desenvolvimento de plásticos biodegradáveis ou da gestão de resíduos.
Fonte: Jornal da USP