Há uma sétima ação proposta pela Promotoria, ainda não julgada. Para o órgão, haverá danos aos índios tão logo 4.000 homens se alojem na região para iniciar a obra. Planejada para ser erguida a 700 metros de terras indígenas onde vivem 900 kaiabi e, mais ao norte, 8.000 munduruku, a usina vai encobrir com água lugares que, embora fora das áreas demarcadas, são intocáveis para os índios.
Vão desaparecer, por exemplo, o morro do Macaco e a cachoeira das Sete Quedas. “Essa rede de comunicação espiritual envolvendo morros e cachoeiras é um aspecto fundamental das cosmografias [descrições do mundo] indígenas e funciona na afirmação da territorialidade”, diz o antropólogo Frederico César Barbosa de Oliveira, cuja tese de doutorado é sobre os kaiabi.
Em 2011, Frederico foi contratado pela EPE (Empresa de Pesquisa Energética), ligada ao Ministério de Minas e Energia, para fazer um estudo do impacto da usina. Embora crítico à usina, ao final do trabalho Frederico ficou durante sete dias refém dos índios, que exigiram a presença do presidente da Funai. “Ameaçaram fazer uma gaiola no centro da aldeia, pôr a gente lá e colocar fogo”, lembra ele, que foi resgatado de helicóptero com outros funcionários do governo.
Para ele, a rede espiritual faz parte do patrimônio imaterial dos índios, que “é muito difícil de ser mensurado por técnicos do governo” e acaba sendo desconsiderada.
Impactos diretos – O relatório de impacto ambiental afirma que as obras podem causar problemas como o aumento da prostituição e de doenças sexualmente transmissíveis. Para a Promotoria, há risco de genocídio e não houve consulta aos indígenas. Para o governo, a São Manoel não interfere nas terras indígenas porque estará fora delas. A União diz ainda que os índios tiveram “oportunidade de conhecer o projeto, manifestar-se e influenciar no processo”.