”Uma intervenção federal num país teoricamente federativo é um recurso sempre extremo e arriscado.
Mais ainda vindo de um executivo em Brasília com todas as fragilidades e fraquezas como do atual. Toda cautela é pouca para com suas iniciativas.
Assim, o que podemos comentar brevemente sobre mais esta agonia de um estado tão maravilhoso e querido por todo Brasil?
Já nas olimpíadas de 2016 o Rio precisou receber mediante um decreto do presidente da república 22.000 militares do Exército nacional para garantir minimamente a segurança na capital do estado. De lá para cá a governabilidade só se deteriorou. Crise política, ética, fiscal, financeira, orçamentária. E a economia do crime, sustentada pelo seu monopólio da comercialização de drogas psicoativas ilegais, agindo como estado paralelo, com “áreas independentes”, infiltrada nas polícias e até no poder legislativo, assaltando, matando e oprimindo todas as camadas sociais principalmente as famílias trabalhadoras que estão nos territórios conquistados.
Nos últimos dias o governador em liberdade e exercício (?) jogou a toalha. Confessou que não tem como comandar a polícia e como conter a epidemia de crimes e violência de todos os tipos. O governo dele acabou neste quesito. Se formos mais atentos em outros também…
Numa situação como esta uma ação federal na área da segurança pública tornou se inevitável.
Criticar, condenar no automático ou apoiar cegamente profetizando resultados negativos ou positivos até faz parte das onipresentes disputas políticas num ambiente democrático, ambicionando, uns e outros, colherem os frutos doces ou amargos logo adiante. Deixo isto para os quase candidatos a presidente e seus decididos apoiadores.
É obvio que as razões complexas e estruturais que influenciam esta crise em particular não podem ser resolvidas por um general e sua tropa por mais honestos, patriotas, democratas e trabalhadores que eles possam ser. Está acima de suas forças, competências e atribuições constitucionais resolver os problemas habitacionais, de educação, saúde, trabalho, meio ambiente, etc, potencializados por seguidos governos fracassados. Eles não podem e nem devem substituir um governo eleito pelo povo para seguir um determinado e abrangente programa. Isto o Rio só terá em 2019 se o seu povo for mais feliz nas escolhas do que foi nos últimos 30 anos. Vamos torcer…
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Além disso, o general/interventor tem outra limitação terrível. Ele vai ter que atuar dentro do atual paradigma legal e nacional que é exatamente uma das causas principais para toda esta crise de violência e poder econômico do crime: a estratégia combalida de uma guerra repressiva as drogas ditas ilegais.
Ora, então eles estão fadados ao fracasso total? Depende. Se esperarmos que eles vão reformar todo um mundo em 10 meses, sim. Mas se forem mais modestos e definirem com transparência seus objetivos, não.
Não sendo um especialista nesta política pública arrisco apontar 3 metas possíveis:
1. Começar o trabalho de sanear, reequipar e requalificar as polícias do Rio. A economia do crime se infiltrou nas polícias. Intimida e assassina policiais que resistem ao seu poder corrupto. É preciso um trabalho de inteligência e administrativo para expurgar os contaminados pelo crime. Também reequipar as polícias asfixiadas pela falência do governo estadual. Deixar um legado nesta área para o futuro governo estadual de 2019.
2. Com uma presença ostensiva mais massiva trazer um sopro de ar fresco e paz, nem que seja transitório para todas as classes sociais, inclusive garantido um ambiente mais tranqüilo e racional para que o povo tenha melhores condições para uma escolha na eleição de outubro/2018.
3. Manter um padrão rigorosamente constitucional na sua ação e contato com todos os segmentos da população, lembrando que somos signatários dos Tratados Internacionais de Direitos Humanos/ONU/1976. Isto terá um efeito didático extraordinário para mostrar que nossas forças armadas estão vacinadas contra qualquer aventura e aventureiros autoritários.
Muita boa sorte para o povo do Rio e para o Exército nacional. Vão precisar”.
Fonte: Fanpage oficial de Eduardo Jorge, membro da Executiva Nacional