Ativistas expõem a negligência da empresa antes e depois do rompimento da barragem em Minas Gerais
Uma surpresa do Brasil. A voz das vítimas do desastre da barragem da Samarco, mineradora controlada pela brasileira Vale e pela anglo-australiana BHP Billiton, ecoou longe nesta quinta-feira, 19 de novembro. Mais exatamente em Perth, no oeste da Austrália. Ali, manifestantes realizaram um protesto no Encontro Anual dos Acionista da BHP, surpreendendo os participantes. A mensagem “BHP: lucro e lama #justicaparamariana” foi exposta por cerca de 20 ativistas do Greenpeace e da ONG australiana GetUp.
O rompimento da barragem da Samarco no dia 5 de novembro é um dos maiores desastres ambientais da história do Brasil. Cerca de 25 mil piscinas olímpicas de lama composta por rejeitos minerais cobriram vilarejos da cidade de Mariana, mataram dezenas de pessoas (19 mortes confirmadas até agora) e impactaram centenas (estima-se 630 desalojados de suas casas e 2 mil afetados ao todo). Os distritos de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo, em Mariana, atingidos pelo tsunami de lama, praticamente desapareceram do mapa.
Os impactos sobre o Rio Doce, maior curso de água do Sudeste, ainda estão sendo dimensionados – mas o governo federal já admite que sua recuperação, se for possível, pode levar décadas e custar bilhões de reais. A tragédia se agravou pelo fato da Samarco (leia-se Vale e BHP Billiton) não ter um plano de contingência apropriado e não ter avisado os moradores a tempo. A resposta das empresas – e também do governo federal – foi tardia e segue sendo insuficiente.
O protesto diante dos acionistas da BHP não se restringiu ao lado de fora da reunião. Dentro da conferência, Nikola Casule, representante do Greenpeace Austrália, questionou o conselho da BHP: “Se a companhia sabia que havia riscos de rompimento, porque as operações continuaram?”. O ativista se refere ao relatório independente, produzido em 2013, no qual especialistas afirmam que a barragem precisava ser monitorada regularmente, ter uma análise detalhada sobre riscos de ruptura (que já existiam) e, ainda, contar com um plano de contingência em caso de acidente.
Uma equipe de documentação e pesquisa do Greenpeace esteve na região do desastre nos últimos dias e acompanhou o drama da população. “O desastre da mineração da Vale e da BHP acabou com a vida de milhares de pessoas, de pequenos agricultores, moradores de cidades como Governador Valadares, pescadores e comunidades indígenas, como os Krenak”, diz Ricardo Baitelo, coordenador da Campanha de Clima e Energia do Greenpeace. “Fato é que a tragédia está longe de acabar, já que a lama segue descendo o rio, rumo ao litoral do Espírito Santo”.
O Greenpeace seguirá expondo o drama dos atingidos e pressionando as mineradoras e o governo a tomarem providências cabíveis. Isso inclui a promoção de uma investigação independente sobre as causas do desastre, o pagamento de valores condizentes com a proporção desta gigantesca tragédia e a garantia de que as demais barragens não ofereçam nenhum risco às comunidades e ao meio ambiente.
Fonte: Greenpeace