Oito de outubro, dia do nordestino, esse povo hospitaleiro, aguerrido e, acima de tudo, forte. Impossível falar do Nordeste brasileiro e não citar as praias, por sinal, quentes, quase fontes termais e, por sua vez, é válido ressaltar, também, as fontes termais aqui do Nordeste, assim como o “Velho Chico” – Rio São Francisco – em seus 2.863 km, corta cinco estados brasileiros – desde a Serra da Canastra no município de São Roque de Minas (MG), atravessando a Bahia, fazendo divisa ao Norte com Pernambuco bem como construindo a divisa natural com os estados de Sergipe e Alagoas, desaguando no Oceano Atlântico, drenando uma área de, aproximadamente, 641.000 quilômetros quadrados . Nordeste esse que também tem uma vasta extensão territorial no Brasil. São, simplesmente, nove estados compondo esta região, e talvez por isso, seja uma das mais ricas em gírias e expressões.
E quando falamos em gírias do Nordeste, temos que saber que apesar de algumas delas serem conhecidas por todo a região, a maioria dos estados tem suas gírias próprias.
O dialeto nordestino, também chamado simplesmente de “sotaque nordestino”, é a variante da língua portuguesa mais usada nos estados do Nordeste brasileiro, sendo o dialeto com maior número de falantes dessa região, com mais de 53 milhões de habitantes, sofrendo variações. Segundo a classificação proposta por Antenor Nascentes, esses dialetos, juntamente com os dialetos da Costa norte, o dialeto recifense e o dialeto nortista, constituem o chamado português brasileiro setentrional, em comparação com as variantes do português faladas nos demais estados brasileiros. O dialeto nordestino tem raiz no Recife, capital de Pernambuco.
O Brasil é um país continental e uma consequência das nossas dimensões está nas características do português falado em cada região. Aqueles que procuram conhecer as festas juninas em Caruaru, Pernambuco, e Campina Grande, na Paraíba, devem se familiarizar com o jeito mais acelerado de se falar. Não há qualquer semelhança com o sotaque arrastado ouvido, muitas vezes, por atores em filmes e novelas brasileiras.
É fácil tomar como primeira impressão está a velocidade com que os nordestinos costumam conversar. Para isso, é só prestar atenção e entender que algumas palavras podem ter sofrido uma contração. O famoso “oxênte” pode ser tomado como exemplo. Pode se dizer que a expressão deve ser originária de um “olha, gente!” e vem sendo contraído até hoje. A expressão dita como “oxênte” pelos mais velhos, foi reduzida pelos mais jovens e passada a, simplesmente, um “ôxi” e, provavelmente, muito em breve, será apenas um “xi”. Provando sempre que a língua do povo é viva e multável.
Para conhecer um pouco mais como as pessoas falam no Nordeste, que tal conhecer algumas gírias e expressões nordestinas, divididas por cada estado?
Gírias pernambucanas
Alma sebosa
É como os pernambucanos chamam alguém ruim, assaltante, aquele que só faz coisas ruins para os outros.
Baratinado
Pessoa sem rumo, doida, que não liga para nada.
Caça Rato
Pessoa que se envolve com quem não presta.
Dispense
É o modo como os pernambucanos mandam os outros pararem.
Mancoso
Uma pessoa que vacila muito, que dá muita mancada na vida.
Morgado
Desanimado, fraco, sem gente (esvaziado).
Pala
O mesmo que mentira. Uma pessoa que mente muito, é chamada de palosa ou cheia de “pabulagem”.
Tabacudo
Pessoa besta, que não é muito esperta.
Gírias paraibanas
Apombaiado
Uma pessoa distraída, que nunca entende nada.
Avechada
Uma pessoa avechada está apressada.
Ficar com a gota
É o mesmo que ficar com raiva, nervoso.
Mangar
É o mesmo que zoar com alguém – por sinal, essa gíria é usada em quase todos os estados do Nordeste.
Peba
Coisa mal feita, desorganizada, ruim ou mixuruca. Essa gíria também é muito usada no Ceará.
Só quer ser as pregas
Os paraibanos usam essa gíria para falar de alguém que é metido, que se acha.
Gírias do Rio Grande do Norte
Arenga
É o mesmo que briga, confusão. Quem briga muito, é arengueiro.
Buliçoso
Pessoa enxerida, que quer mexer em tudo que vê.
Catimbó
O mesmo que macumba.
Jerimum
O mesmo que abóbora
Môca
Pessoa que parece surda, que nunca escuta o que os outros falam.
Gírias cearenses
Ariado
É o mesmo que dizer que alguém é perdido.
Arriégua
É como se fosse o “uai” do mineiro ou o “oxe” dos pernambucanos. A palavra não tem bem um significado próprio, mas pode ser empregada em qualquer lugar.
Baixa da égua
Lugar distante. Geralmente, a expressão é usada quando alguém está nervoso e quer mandar o interlocutor para bem longe.
Botar boneco
Perturbar, encher o saco dos outros.
Cambito
Diz-se de alguém que tem perna fina.
Diabeísso
É o modo que os cearenses dizem “que diabo é isso?”, demostrando estranhamento ou dúvida.
Gírias piauienses
Batoré
É o mesmo que homem pequeno.
Caçar conversa
É o mesmo que arrumar briga, confusão.
Fazer moganga
Fazer bagunça, palhaçada. Também pode significar que alguém está com graça para cima dos outros.
Ficar bestando
Ficar à-tôa, sem fazer nada.
Fuleiragem
Ficar de molecagem.
Galalau
Diz-se de pessoa alta, grande!
Pêia
É o mesmo que porrada, soco, murro.
Por riba
É como os piauienses dizem “por cima”.
Rebolar\avoar no mato
É o mesmo que jogar fora
Gírias maranhenses
Armaria
É uma abreviação para Ave Maria. É usado para expressar espanto, surpresa ou quando há algo muito exagerado. Depende da intonação.
Égua
Essa expressão não tem um significado por si só, seve para dar mais destaque no sentimento, seja dúvida, empolgação, susto. Por isso a entonação é importante. Essa gíria também é muito conhecida e falada no Pará.
Esparroso|Espalhafatoso
Algo que chama muita atenção.
Kiu!
Geralmente é usado para zombar de alguém.
Nigrinha
É o mesmo que fofoqueira, que só fala da vida dos outros.
Parêa
É o mesmo que limites, então é dito que a pessoa não tem “parêa”, ou seja, não tem jeito.
Qualira
É o mesmo que chamar alguém de gay.
Gírias baianas
Aluado
Quem fica no mundo da lua ou faz muita besteira ou, ainda, quem fala sem pensar.
Barril
É como os baianos chamam algo muito bom. Porém, barril também pode ser usado para falar de algo muito feito.
Laele
Essa palavra é usada quando um baiano não entende alguma coisa, quando não tem resposta para algo, ou quer negar.
Migué
É o mesmo que vacilar, enrolar, tentar falar algo só para convencer alguém.
Ôxe
Pode ser usado para tudo, é como o “uai” dos mineiros. Dependendo da entonação, indica surpresa ou dúvida ou empolgação.
Tô na bruxa
É o mesmo que estar com raiva.
Gírias sergipanas
Acoitar
É o mesmo que esconder. Também pode ser usado para acolher ou abrigar.
Afolozar
Algo estragado, que não dá mais para usar, frouxo demais.
Aperreado
É o mesmo que estar aborrecido, chateado.
Gírias Alagoanas
Ai Dento
Pode ser usada do mesmo modo que o “sai fora” ou “vai se danar”. É uma gíria para negação, usada em quase todos os estados do Nordeste.
Estribado
Gente rica, montada na grana.
Iapois
É o modo como os alagoanos dizem sim.
Pagar sapo
É o mesmo que passar vergonha.
Vou chegar
É como eles dizem tchau, é um modo de se despedir, é o mesmo que “vou sair”.
Mariângela Borba
Jornalista e Assessoria de Imprensa