João Doria, Ciro Gomes e Marina Silva tentam se associar à figura de Emmanuel Macron, que venceu as eleições presidenciais neste ano.
Presidenciáveis brasileiros esperam repetir em 2018 o fenômeno que sacudiu as urnas da França neste ano. Em maio, o então líder do movimento Em Marcha!, organizado com a sociedade civil, Emmanuel Macron, derrotou a direita francesa de Marine Le Pen e venceu as eleições presidenciais. Aos 39 anos, ele é o presidente mais jovem da França e se posicionou como candidato de centro durante o processo eleitoral.
Aqui no Brasil, em uma campanha neste momento polarizada entre os pré-candidatos Lula, à esquerda, e Jair Bolsonaro, à direita, o centro se tornou um ponto de equilíbrio atraente para os políticos interessados em disputar o Planalto.
Macron foi ministro de Economia do governo socialista de François Hollande. Ao deixar seu cargo e fundar movimento, ele reforçou que não era socialista e conquistou popularidade por uma campanha em que não se colocou nem à esquerda, nem à direita, com um diálogo de mudanças e uma proposta de governo com todos e para todos.
O ex-banqueiro Macron recebeu apoio da população ao propor transformações profundas e se identificar com um perfil fora dos padrões políticos. Para o chefe do departamento de Relações Internacionais da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), Carlos Gustavo Poggio, uma questão importante é que Macron criou seu próprio movimento, o Em Marcha!, e por isso pôde se vender como alguém de fora do sistema político existente. “A grande novidade na França não é o Macron ter ganhado as eleições, mas ter ganhado sem ter se aliado a algum dos principais partidos da França [o Socialista e o Republicanos]”, afirma.
Nesse sentido, Marina Silva se aproxima da iniciativa de criar e liderar seu próprio partido, mas a diferença com relação a Macron é que ela foi candidata a presidente duas vezes. Portanto, a ex-senadora já se apresentou ao eleitor anteriormente. Ao lançar seu partido, Rede Sustentabilidade, Marina disse que a legenda não era nem de direita, nem de esquerda. Na eleição de Macron, Marina reiterou sua posição:
Em setembro, Marina foi convidada por Macron para o lançamento do Pacto Mundial para o Meio Ambiente, em Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas), em Nova York. Marina criticou a atuação do presidente Michel Temer na área ambiental, principalmente na questão do decreto para abrir a Reserva Nacional de Cobre e Associados (Renca) para exploração, posteriormente revogado.
João Doria assumiu o mesmo discurso de Macron de não pertencimento à classe política e conquistou o voto da população para a Prefeitura de São Paulo. Apesar de ter ensaiado uma pré-campanha presidencial, o prefeito se viu enfraquecido e deve disputar o governo estadual e não mais a Presidência. Mas o prefeito fez o possível para se associar a Macron neste ano.
Em setembro, Doria foi a Paris para participar do Global Positive Forum, evento sobre iniciativas transformadoras para a sociedade, a convite do organizador, o economista Jacques Attali. Na coletiva de imprensa após o evento, Doria conversou com o presidente Macron sobre sua vitória como prefeito em 2016 e ainda comentou das eleições presidenciais de 2018.
Em vídeo postado em seu canal do YouTube, Doria apóia as ações do governante francês e diz que o presidente “vem propondo transformações, mudanças, modernizações na vida pública francesa que não são fáceis, mas ele está certo ao propor programas onde o Estado francês possa ser menos intervencionista do que foi até agora e onde o setor privado possa ocupar espaços”.
Veja o vídeo acessando ao link da matéria: HuffPost Brasil
“Macron é liberal clássico, tanto do ponto de vista econômico, quanto do ponto de vista dos costumes, em termos de pautas que ele apoia. Do ponto de vista dos costumes, tanto Doria quanto Marina têm se aproximado de pautas mais conservadoras.”
A questão de políticos que não se vendem como tal tem se fortalecido em vários lugares do mundo, de acordo com Poggio, por um desgaste do sistema político atual.
“A governabilidade ficou mais difícil. Por outro lado, a população ficou mais exigente, mais conectada e mais organizada. Há sensação de que os partidos que estão no poder não fizeram o suficiente para melhorar suas vidas. Sendo assim, há uma busca natural por quem é ‘de fora’ da política”, afirma o professor. Poggio ainda ressalta que esse fenômeno não é tão recente: “esse discurso já estava presente no Barak Obama. O Trump também fez isso”.
Há presidenciáveis ainda mais diretos na comparação com o francês. Ciro Gomes foi o mais incisivo e até disse em entrevista ao El País, com todas as palavras, que é o Macron brasileiro:
“O Macron sou eu. É só olhar. O cara era do Partido Socialista, ministro de Hollande. De repente, com um conjunto de desgastes, sai e cria um movimento”, afirmou o pré-candidato pelo PDT.
Porém, há algumas contradições em sua declaração. Ciro não possui característica liberal, pró-mercado, e está alinhado a pautas de esquerda. Ele é defensor da intervenção do Estado na economia. Isso o afasta bastante de Macron.
“Não tem a menor condição de o Ciro Gomes se declarar como Macron brasileiro. Primeiro porque o Ciro é uma raposa velha da política brasileira. Já foi candidato várias vezes, já foi governador. Ele está há muito tempo na política brasileira para se vender como algo novo”
Carlos Gustavo Poggio
Já Luciano Huck, que anunciou nesta semana que não será candidato a presidente, poderia dizer que tem um perfil à la Macron. O professor Poggio afirma que Huck vem criando uma imagem de jovem, de uma pessoa de fora da política e de um candidato com posições de centro.
“Porém, eu não vejo nada além de vender a imagem de uma pessoa que representaria uma renovação. Uma coisa é sua atividade na televisão, outra coisa é a arte política, que é muito mais complexa”, analisa Poggio. Huck deve continuar sua atuação cívica nos movimentos Agora! e RenovaBR.
Hoje, com a classe política desacreditada, o momento é propício para a apresentação de uma candidatura de fora do sistema. “Lembrando que o Macron surgiu como força política grande um pouco antes das eleições, cerca de um ano antes. Então, podemos ter alguma surpresa mais para frente. Mas, dos candidatos atuais que estão se apresentando, não vejo nenhum deles como Macron brasileiro”, conclui Poggio.
Fonte: HuffPost Brasil