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ANGELA PINHO
DE SÃO PAULO
Responsável pelo alerta sobre a chegada do vírus da febre amarela à cidade de São Paulo, a população de macacos bugios do Horto Florestal, na zona norte, foi exterminada desde a aparição do vírus, em outubro passado. Veja aqui perguntas e respostas sobre a febre amarela.
O parque, assim como o da Cantareira e o do Tietê, foi reaberto nesta quarta (10) após quase dois meses. Só deve visitar os locais quem tiver se vacinado há ao menos dez dias.
Antes da chegada do vírus, o Horto abrigava 17 famílias de bugios, explica o pesquisador científico do Instituto Florestal Márcio Port Carvalho. Ele estima que, no total, houvesse 86 animais. Caracterizados por ter cauda longa e emitir um ruído audível a longa distância, eles são uma das quatro espécies de macaco presentes no local.
Ao mesmo tempo lamentáveis do ponto de vista ambiental, as mortes ajudaram a moldar a estratégia paulista de bloqueio do vírus.
O primeiro bugio morto foi encontrado no Horto no dia 9 de outubro por um profissional da limpeza perto da Vila Amélia, bairro encravado na área. Naquele momento, os funcionários já haviam sido orientados a avisar imediatamente se isso ocorresse.
O alerta havia sido dado por causa de mortes de animais da mesma espécie na região de Campinas. O óbito de macacos é um dos sinais da circulação do vírus da febre amarela em uma determinada área, pois eles são picados pelo mesmo mosquito que pode infectar o ser humano –importante lembrar que é o mosquito, não o macaco, que transmite o vírus ao homem.
No surto da doença iniciado do ano passado, milhares animais morreram no país.
Ao receber a ligação do profissional, Carvalho acionou a Guarda Civil para o transporte do bugio. Quando chegou, o animal não estava em bom estado, lembra Juliana Summa, diretora do departamento de fauna da Secretaria Municipal de Meio Ambiente. Mas foi possível extrair um pedaço do fígado. O exame deu positivo para febre amarela.
Com o resultado, o governo do Estado tomou a decisão de fechar o Horto Florestal –medida que, com novas mortes de macacos, acabou sendo estendida a outros parques da cidade– e, junto com a prefeitura, iniciar a vacinação da população da zona norte.
Em pouco mais de 30 dias, mais de 1 milhão de pessoas foram imunizadas na região. Nesta semana, com mortes na Grande São Paulo, na região de Mairiporã, o governo Geraldo Alckmin (PSDB) decidiu estender gradualmente a medida a todo o Estado. Desde 2017, SP registrou 29 casos e 13 mortes pela doença, todos em áreas de mata.
A primeira fase da campanha ocorrerá entre 3 e 24 de fevereiro em 53 cidades da região metropolitana, Baixada Santista e Vale do Paraíba e em distritos da zona leste e sul da capital. Posteriormente, a ideia é ampliar a toda a cidade. “Sé e a Paulista, por exemplo têm o menor risco e devem ser as últimas”, afirmou o secretário estadual David Uip.
Não será exigido comprovante de vacinação, mas cartazes lembrarão que o visitante precisa estar imunizado há ao menos dez dias. “O vírus ainda circula na área”, disse.
REINTRODUÇÃO
No período em que o Horto esteve fechado, pesquisadores vasculharam o local em busca de vestígios do vírus.
Um deles era Carvalho, que vive dentro do parque. “Quem mora lá conhece todos os grupos de bugios. Até novembro, víamos muitos vivos”, conta. No dia 4 de dezembro, porém, voltou a aparecer animal morto. “A partir daí, foi uma sequência”, lembra. Um dos cadáveres foi retirado em 31 de dezembro. “Foram cenas muito tristes as que vimos.”
As imagens, porém, não marcam necessariamente o fim da presença dos bugios por ali –a reintrodução da espécie no parque está sob avaliação. Para isso, seriam recolocados bugios sob os cuidados da divisão de fauna da prefeitura. Tratam-se de macacos sob abrigo após atropelamento, aparição em residências, entre outros incidentes.
Segundo Summa, a eventual reintrodução seria a primeira na zona norte da cidade, e será preciso esperar um ano para verificar se será viável. Entre os fatores a serem analisados, estão a continuidade ou não da circulação viral e a eventual aparição de outros animais vindos da Cantareira.
Se as condições forem favoráveis, será necessário verificar se os animais se alimentam sozinhos e se os casais da espécie permanecem unidos. É preciso ainda fazer monitoramento constante. Segundo Carvalho, o ideal seria colocar um aparelho com radiofrequência em cada macaco.
A longo prazo, a única medida de prevenção é evitar o desmatamento, pois não há vacinas para os macacos, diz Sérgio Lucena, professor da Universidade Federal do Espírito Santo. “Em áreas de mata maiores, eles têm mais chance de sobreviver.” Um dos maiores especialistas do país no estudo de primatas, ele sabe o que diz. No ano passado, só na reserva de Caratinga (MG) que ele estuda, a população de bugios caiu de mais de 500 para menos de 50.
Fonte: Folha de São Paulo